quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Encontro marcado



Ele bate à porta. E eu receosa não sei ao certo se devo abrir. Ele cumpriu o combinado e chegou com a precisão de um Lord. Eu, embora soubesse que ele chegaria, me perdi na confusão dos últimos dias e agora não sei o que dizer a ele. Arrumei o cabelo para esperá-lo, comprei vinho, fiz as unhas mas esqueci de preparar o meu coração para esta hora. Sei que ele não vai embora. Vou ter que abrir a porta. A ansiedade começa a me consumir.
Ele esperou muito e eu também. Agora não tem como fugirmos. Seremos nós dois de qualquer jeito. O problema é que ele quer que eu o receba com um sorriso, mas antes eu preciso enxugar as minhas lágrimas. Ele quer que eu o abrace, mas o peso das minhas bagagens não me permite. Ele me quer leve para viver com ele uma grande história. E eu me pergunto até agora como ficar leve diante de tudo que vivi nos últimos tempos. 
Às vezes queremos tanto alguma coisa e quando ela chega não sabemos direito o que fazer. Estou assim agora. É que realmente não está sendo fácil. Eu tenho lutado uma luta insana para dar conta de mim! E em alguns momentos eu desejei que ele chegasse. Eu tinha esperança de que, com a sua chegada algo em mim mudaria e num passe de mágica eu seria uma pessoa melhor, mais equilibrada, mais tranquila, menos apressada, mais persistente, mais cuidadosa, enfim… eu fiz tantas promessas em seu nome que agora que eu sei que ele está do lado de lá desta porta me dei conta da responsabilidade que coloquei em suas mãos.
Sabe de uma coisa? Abri a porta. E vou te dizer logo de uma vez que você não deve confiar muito em mim. Tudo que eu te disser será fruto da emoção do nosso primeiro encontro e que com três meses de convivência você vai descobrir quem eu sou de verdade. Eu faço terapia, tenho medo de barata, sou chocólatra, canto as músicas do Elvis no banheiro e não sei cozinhar. Em contrapartida eu não fumo, gosto de bichos e um dia ainda aprendo a meditar. Não tem como eu apagar a minha história até aqui e começar do zero, eu sou tudo isso que vivi! Mas saiba que você é muito bem-vindo em minha vida e que eu te quero muito bem. Sem promessas e sem clichês eu espero que passemos juntos uma ótima temporada. Que seja verdadeira a nossa convivência e que a gente consiga explorar o melhor um do outro. Seja bem-vindo 2016! Eu estou pronta para vivermos mais uma história de amor! 



Leila Rodrigues

Caros leitores,

chegamos ao final de mais um calendário. Amanhã… tudo continua! Cada um de nós com nossos projetos, nossas expectativas, nossos problemas e nossa difícil e deliciosa tarefa de nos equilibrarmos entre nossas escolhas e suas respectivas consequências.
Um 2016 repleto de boas energias, disposição e muita luz!!!

Grande abraço

Leila Rodrigues


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Ressaca do bem



Perdeu a hora, mas nem se importou. Esse é o único dia em que ela se permite acordar mais tarde. Um café forte vai ajudar. Saiu do quarto e observou à sua volta:
Destroços de papéis de presente espalhados pela casa mostravam que por ali houve algazarra. E alegria! No silêncio da casa, agora vazia, ela ainda conseguia ouvir os ecos das falas de cada um, falando tudo de uma vez. Era sempre assim! Primeiro uma oração para agradecer o ano e lembrar dos que se estão longe. Ela sempre chora, mas tem sempre um que faz uma piada e quebra o gelo daquela hora. Todos falavam ao mesmo tempo. Falam dos filhos, dos netos, dos que não vieram, das conquistas. Mães competem umas com as outras elogiando suas proles. Homens falam dos seus times e contam do carro novo, da crise e da reforma da casa. Os mais jovens fazem selfie e os mais velhos reclamam da tecnologia. Pequenos correm e gritam ao mesmo tempo. É muita fala para uma noite só! E cabe tudo na ceia.
Crianças avançam afoitas em seus presentes. A alegria está nos olhos de cada uma delas. Alguns se emocionam, choram, coraçãozinho dispara. Pena que, em 10 minutos, já abriram, já testaram, já estragaram e já desmontaram os presentes. E ainda tem aqueles que mal ganharam o presente e já começam a pedir outro.
Na mesa, comida para 8 dias e o dobro de convidados. Com medo de faltar, faz-se, além da leitoa, do peru, do arroz com castanhas, das frutas e dos panetones; um feijão tropeiro, uma tábua de frios, uma carne de boi ao molho madeira... Enfim, é comida que não acaba mais! Tudo permitido! Mesmo porquê, não comer o que uma fulana trouxe é desfeita.
As tias, que só tomam leite de soja, entram no  espumante. Docinho, refrescante e ainda na taça com aquelas bolhinhas sensuais. Ah! Vira água! Dá para imaginar o resultado! Dançam, cantam, choram, riem, gargalham, choram de rir, choram de chorar, se abraçam, se desentendem e se entendem novamente. Tudo em uma única noite! Isso é mágico!
Agora ela anda pela casa vazia. Enquanto junta os papéis, refaz o filme da noite anterior. Seus filhos lindos, quanto mais velhos mas lindos. Seus netos, seus parentes todos. Como é bom juntar a família, e poder celebrar a alegria de pertencer ao grupo. Voltar ao ninho e celebrar o nascimento do Pai.  Esta é a forma que encontramos de renovar nossos laços com aqueles que já nascemos entrelaçados.  Se é certo ou não, se o espírito natalino se perdeu, se o consumismo tomou conta, ela prefere não julgar. Para ela, fica a certeza de ter renovado seu profundo amor para com todos que estiveram ali.

Leila Rodrigues


Olá pessoal,

“Ressaca do bem” é uma das minhas crônicas favoritas. Retrata a realidade de nossas casas, de nossos Natais tão nossos e principalmente daquelas que, sem sequer saber o poder que tem, reinam absolutas em nossas casas, nossas mães. Essas guerreiras que a primeira vista parecem tão frágeis e que com estratégia e maestria nos criam e nos transformam em pessoas de bem.
Desejo um feliz Natal a todos os leitores do Palavras e que consigamos enxergar e aprender com nossas mestras o verdadeiro espírito natalino. Feliz Natal!
Grande abraço



quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Tempo bom



É preciso mais que disposição para enfrentar o dezembro. Meta para bater, prazos para cumprir, provas, TCCs, planejamento do ano seguinte, apresentações, fechamento de ciclo. A sensação que temos é que não vamos resistir. E ainda tem os presentes, os preparativos das festas natalinas, o encerramento do exercício, do ano letivo, do calendário. Naturalmente corremos para encerrar este ciclo que nada mais que é que um dia depois do outro, mas que pelo simples fato de alterar um número no calendário, modifica nossas vidas. Uma verdadeira loucura! E como não poderia ser diferente, no meio desta loucura, encaixamos como podemos as confraternizações. Já é parte da nossa cultura confraternizar.
Formatura, turma do trabalho, do inglês, da gastronomia, do futebol, dos amigos, dos vizinhos, da família dele, da família dela, ufa!!! São muitos encontros para um mês só. É hora de juntar as pessoas que, de alguma forma nos ajudaram a carregar o ano. 
Confraternizar não precisa ter necessariamente comida, bebida ou presente. Confraternizar pode ser um grande evento ou pode ser ali na padaria, no buteco da esquina, na casa de um ou  no quintal do outro. Confraternizar não tem regra. Pode ser a dois, a quatro ou a duzentos e cinquenta pessoas.  Só tem uma coisa que é comum em qualquer confraternização, o abraço. Abraço é universal. Abraço não precisa de embrulho. Abraço cabe em qualquer lugar. E é indispensável em qualquer confraternização. 
Dezembro deveria se chamar “deabraço". É o mês do abraço. É o tempo de abraçar. O mês é pequeno para tantos compromissos, mas não para os abraços. E é no abraço que damos o recado que não foi possível dar enquanto estávamos ocupados demais com nossas tarefas, com nosso dia-a-dia. É na força do abraço que dizemos ao outro o quanto ele é importante para nós. É no abraço que matamos a saudade. É no abraço que fortalecemos nossos laços. Um abraço sincero recupera nossas energias, quebra nossas resistências e alimenta nossos corações famintos. Abraçar é envolver o outro em nós! 
Então abrace. É dezembro! Encerre seu ano com um grande abraço! Abra seus braços e se prepare para dar e receber os abraços que estão por vir. Abrace uma causa, abrace um propósito. Abrace seu filho, abrace seus pais, abrace com carinho, abrace devagarinho, abrace sem dizer, abrace pra valer e deixe assim seus braços falarem por você! 

Leila Rodrigues

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Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos


Olá pessoal,

e estamos nos despedindo e 2015. Hora de abraçar e agradecer a cada um de vocês pelo carinho aqui no Palavras. Este ano o blog ficou inativo por um tempo e depois, com o incentivo de vocês, decidi retomá-lo e ainda mais, repaginá-lo. Agradeço de coração a cada visita que fizeram ao Palavras, a cada palavra de incentivo, seja aqui no blog ou por email e principalmente agradeço pelo seu tempo ao ler as crônicas. Valeu pessoal!! Deixo aqui um abraço a todos, minha gratidão e meu carinho!
Que todos vocês tenham um Natal de laços e presenças verdadeiras!
Grande abraço


Leila Rodrigues

domingo, 13 de dezembro de 2015

Alice



Lembro das minhas botas gastas de tanto andar. O caminho de casa até o colégio era longo, mas não era mais longo do que as tardes sem você. Fazia frio, a neblina cobria a cidade e você me esperava na esquina para irmos juntos toda manhã. Você tocava meu gorro rosa com as duas mãos e eu me sentia inteiramente aquecida. Eram nossas manhãs ingênuas. Um coração desenhado no caderno. Aquela música tocando em algum lugar e todos os meus livros espalhados na cama. Eu era apenas Alice e o universo me esperava para descobrir todas as estrelas do infinito.
Entre provas, canetas coloridas e livros eu escondia a nossa história. Brincávamos de ser e éramos sem saber. Éramos um do outro. Éramos de cada um. E os sonhos que sonhamos juntos não couberam em lugar nenhum sozinhos.
No fundo eu sabia que outros encantos te encantariam e que a minha grande viagem ainda estaria por vir. Mas você fechava os meus olhos com um beijo e eu fingia que acreditava que seria sempre assim. E abraçados cantávamos juntos que "o caminho é um só”, mesmo sabendo que na manhã seguinte cada um tomaria um rumo diferente. 
Foram-se os bilhetes, o meu caderno eu não tenho mais. E você meu cavaleiro de todos os sonhos, foi-se na névoa daquele inverno e nunca mais voltou. Às vezes tenho saudade de mim e outras vezes de você. Mas o tempo não me permite parar para lembrar. A vida hoje acorda cedo e quando chega a hora de sonhar eu já estou de pé. Demorei muitos anos para entender que o amor não vem em um cavalo alado descido dos céus e que príncipes e princesas hoje deixaram seus castelos e caminham juntos no asfalto lotado de gente. 
Foi-se a realeza e que seja muito bem-vinda a realidade! Ainda insisto em ter os cabelos longos, atendendo ao seu pedido de nunca cortá-los. Nunca mais fiz provas de física e o meu gorro rosa virou caridade. 
Ah que falta me faz minha avó e o café quentinho que ela sempre tinha para mim. Foi com ela que chorei a falta de você. E foi ela, a minha avó, quem me ensinou que a temporada dos príncipes dura menos que um conto de fadas, mas permanece eternamente em nossos corações, como serena lembrança de um tempo mágico que não volta nunca mais.

Leila Rodrigues







Olá pessoal,

Depois de três anos falando sobre tecnologia, Alice é a primeira crônica que escrevo para a Revista Xeque Mate. Uma deliciosa viagem no tempo. Neste tempo mágico de nossas vidas que acaba escondido na névoa dos dias comuns abarrotados de compromissos. Lembrar nossos amores é viajar em nossa própria história. O título uma homenagem à Alice, esta menina linda da foto, que eu tenho a honra de ser tia. Alice é inteligente, é moderna, é ela! Capaz de conversar muito bem sobre qualquer assunto, gosta de ler, de estudar e não vê limites no seu céu. Alice, te ver crescer assim tão linda, me fez lembrar da minha história, me fez voltar ao eu tempo de Alice. 
Muito obrigada Giovanni Lima, um grande amigo e incentivador das minhas crônicas pela oportunidade de fazer mais uma vez o que eu gosto de verdade, escrever. Aqui falaremos de amor, das histórias escondidas atrás dos nomes, de homens e mulheres comuns, como eu você, mas que carregam em si, os verdadeiros contos de fadas!

Grande abraço

Fotos de Vinícius Costa




quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Ponto cego





Já faz alguns anos que eu comecei a trabalhar com os paulistas. Posso dizer que aprendi muito com eles. E esta é mais uma das minhas peripécias paulistana. Aconteceu nas minhas primeiras idas a trabalho a São Paulo. Mineiro quando vai para São Paulo se esbalda no casaco. Fazia frio. Frio com chuva. Coisa comum em São Paulo. E eu me enrolei num cachecol gigante e fui. Me sentindo a própria executiva paulistana, entrei no taxi e fingi que conhecia tudo de São Paulo. Uma executiva que se preze tem que conhecer bem São Paulo. E para mim que conhecia muito pouco ainda, melhor era fingir que conheço e vai ficar tudo bem!  _ Vamos ali na Rua tal. 
E o motorista que de cara deve ter reconhecido a minha mineirisse foi logo perguntando. 
_ A Sra. quer ir pela Marginal ou pela Gastão Vidigal?
E eu insistindo na minha fantasia de paulista respondi que podia ser pela Marginal mesmo. Achei melhor não arriscar, afinal o nome Marginal é mais conhecido, sabe lá se essa outra rua é um beco sem saída e ele vai me sequestrar, me roubar, me estuprar… 
O motorista, por sua vez, continuou insistindo comigo que a Marginal estava cheia, que a gente ia demorar muito, que quando chove a Marginal vira um inferno… Mal sabia ele que no inferno já estava a minha cabeça prevendo o meu futuro dentro daquele carro. Entrei em pânico! Imaginei o sequestro, a notícia na TV, a minha mãe me reconhecendo no IML, a trabalheira que ia dar para me achar… enfim. E o motorista não parava de falar. Até que eu não aguentei e joguei meu disfarce de Paulista pela janela. 
  _ Moço, escuta aqui, eu não tenho a menor ideia de qual caminho é melhor. Eu não sou daqui, não entendo nada desta cidade e tudo que eu sei é que eu preciso chegar neste endereço até as 09:00. O Sr. acha que é possível? O Sr. pode me levar até lá? Ou eu vou ter que sair de dentro deste carro com ele andando, gritando com a mão na cabeça pedindo socorro?
Ele arregalou bem os olhos, virou o pescoço e procurando um jeito de me acalmar disse:
  _ Misericórdia minha Senhora! Depois dizem que mineiro é tranquilo! Pode ficar sossegada que eu vou deixar a senhora sã e salva no endereço que a senhora pediu. 
 - É bom mesmo, porque lá na minha terra, combinado é combinado! E agora pára de me fazer pergunta difícil e dirige esse carro.
 - Sim senhora! Ainda bem que a minha mulher é de Atibaia! Escapei por pouco…



Leila Rodrigues


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Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

Gostaria de agradecer a todos pelo carinho com que me receberam no blog depois de um tempo se postar. Muito obrigada a todos! Pelos comentários, pelas visitas, pelos emails enfim por todo esse apoio e carinho que vocês me deram. 
O Palavras é de vocês! Boa leitura!
Abraços

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Meu recado

Olá pessoal,

Escrever aconteceu na minha vida de uma forma muito peculiar. Depois de um incidente difícil de superar, um terapeuta me pediu para fazer algo que gostasse, que eu tivesse habilidade. Porém, eu não sou uma pessoa habilidosa, meu lado artístico nasceu meio desanimado. Me lembrei então que sempre gostei de fazer redações e para desaguar a dor do meu coração comecei a escrever.
Não posso deixar de falar das duas pessoas que me incentivaram neste caminho. Minha sobrinha Duda que me mostrou o que era blog e meu marido Juliano que sempre me incentivou e me apoiou. 
Escrever mudou a minha vida. De lá para cá, surgiram amigos de todo lugar. E eu tomei gosto pelas palavras. Depois surgiram os veículos de comunicação que são de grande relevância na divulgação das minhas crônicas. Jornal Agora, Revista Xeque e JC Arcos. Muito obrigada a vocês que apostaram em mim. Também tenho que agradecer aos meus fiéis leitores do Jornal Agora e JC que interagem comigo e divulgam minhas palavras pelo mundo afora.
Muitos me perguntam pelo livro. Posso dizer que, com o incentivo de todos, já começo a sonhar com este filho.
Agradeço a todos vocês que dedicam um tempo de suas vidas para vir aqui visitar o Palavras e espero, de coração, ter sempre uma palavra interessante para vocês.
Minhas palavras são o que eu tenho de mais genuíno e a partir do momento que eu as coloco no papel, sei que não são mais minhas, são de todos vocês que vêm aqui ler.
Com muita alegria, apresento a vocês o novo Palavras. Repaginado especialmente para vocês que me acompanham aqui na blogsfera e com algumas novidades. Convido vocês para conhecerem as outras pastas com novas crônicas, pílulas e poemas (que eu arrisco de vez quando). Espero que gostem. Na pasta crônica, estreamos com uma crônica exclusiva do blog que tem tudo a ver com este momento: Mudança! Corre lá para ler!

Muito obrigada e boa leitura a todos!

Grande abraço



Leila Rodrigues

A lista



A lista

Viaje no tempo, relembre seus momentos difíceis e faça uma lista das pessoas que te ajudaram em sua vida. Provavelmente com muitas delas você não convive mais. Se proponha a procurá-las e dizer a cada uma delas o quanto elas foram importantes para você. Agradeça por terem cruzado o seu caminho e siga em frente.
Faça uma lista das pessoas difíceis que cruzaram o seu caminho. Aquelas que te fizeram gastar todo seu estoque de paciência e tolerância. Reconheça o quanto elas foram importante na sua evolução e dê a elas um bom lugar na sua história. Liberte-as e siga em frente, desta vez mais livre e mais leve.
Faça uma lista das pessoas que você ama, não deve ser tão difícil assim! O tamanho da lista não é importante. A intensidade dos sentimentos sim. Diante da lista dos seus verdadeiros amores, perceba como você vivência este amor. Como você se manifesta, como você ama realmente. E finalmente se pergunte se o seu amor faz estas pessoas melhores. De que vale amar se não for para melhorar o outro?
Faça uma lista dos seus verdadeiros amigos. Aqueles capazes de conviver com suas tristezas e com as suas vitórias. Convide-os para um café, um jantar ou minuto de boa prosa. Não há nada mais rejuvenescedor que isso. 
Faça uma lista dos brinquedos que você gostava quando criança, relembre o quanto você se divertiu com cada um deles. E conte essa história para alguma criança de sua convivência. Você estará colaborando com a história e fortalecendo as raízes culturais do seu país.
Faça uma lista das músicas que te fazem bem. Grave-as e dê um jeito de ouví-las todos os dias. Cante, assobie, relembre as letras. Dance se gostar. Crie mais e mais listas musicais para momentos diferentes da sua vida. A música é a terapia mais fácil de se fazer. Aproveite também para listar os livros que você quer ler ou os filmes que você sempre quis assistir e nunca achou tempo.
Faça uma lista dos lugares que você gostaria de conhecer e comece agora a se programar para cumprir o seu roteiro. A vida é curta demais para devolvermos nossos sonhos ao vento.
Faça uma lista das suas fraquezas, aquelas que você silenciosamente envergonha-se de possuir. Aceite-se assim! E se proponha a melhorar, a promover a sua evolução neste pequeno espaço de tempo que você tem chamado existência.
E por fim, se você não resistir à vontade de fazer uma lista com os defeitos alheios, faça-a na areia, bem perto das ondas.

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Idas e vindas



Largou. Os estudos, o namorado, o curso de inglês e o anel de formatura já comprado pelos pais na gaveta do criado.
Sonhou. Que seria fácil, que seria lindo. E que ela poderia controlar o mundo.
Mudou. Os cabelos, o jeito de andar, a cor do batom, as intenções, as pretensões e as canções do Ipod que comprou no camelô.
Aumentou. Os peitos, o salto, os cabelos, o decote, o rímel, o tamanho dos óculos escuros e o tamanho das unhas que agora eram de veludo.
Subiu. O morro da piteira, a barra da saia, a fé em si mesma, a febre dos meninos e a lista de coisas indispensáveis na sua bolsa.
Criou. Expectativa neles. Inveja nelas. Desejo em uns, desprezo em outras. Indiferença em todos e tristeza nos pais.
Comprou. O que tinha, o que não tinha, o que sempre quis ter, o nunca pensou em ter... E ainda comprou briga, comprou confusão e comprou sem pagar. 
Vendeu. O corpo, os segredos do morro, os segredos do mundo. E ainda vendeu cosmético, bolsa, chapéu, sanduíche, churro e bala de hortelã.
Cedeu: A alma para o capeta e o corpo para quem pudesse pagar. E a moeda de troca era a que melhor pudesse sustentar seus caprichos.
Provou. De tudo, de todos, do líquido, gasoso e do solidificado. Provou ainda da felicidade em tragos, tão curta quanto a fumaça do cachimbo.
Subiu mais um pouco. No palco, no ibope, no conceito deles todos, no salto fino, no pau de selfie e na produção.
Fingiu. Fingiu que gostou, fingiu que cresceu, fingiu que era sem nunca ter sido. E provou o perigo de pisar num chão sem raízes.
Ganhou. Bilhões de acessos, milhões de flashes, centenas de seguidores, dezenas de interessados, cinco minutos de fama e nenhum amigo.
Provou de novo. O gosto da ressaca, a fome do dia seguinte, o fim dos efeitos, o apagão dos holofotes e o gosto amargo da verdade.
Caiu. No conceito. Caiu do salto. Caiu na vida. Caiu do castelo. Caiu a autoestima. Caiu a ficha. Caiu do morro como se fosse um saco de lixo que precisa ser descartado.
Passou. Por todos os becos, por todas as ruas, por todas as vergonhas e pela vontade de voltar.
Reencontrou. O caminho de casa, os pais vendo TV no mesmo sofá e o pijama de bolinha guardado na gaveta.
Tomou um banho, tomou um café, tomou de volta o colo da mãe, tomou o sono de filha. Adormeceu...
Sonhou que amanhã teria aula de inglês.

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

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sábado, 26 de setembro de 2015

Dias tortos



Perdi a hora. E desta vez não foi culpa do despertador, nem do el-niño, nem do governo. Assumo que a culpa foi toda minha. O problema é que perder a hora em plena segunda-feira tem um efeito dominó que, se não cuidarmos, pode derrubar até a sexta-feira. 
O jeito foi correr contra o tempo. Banho "no automático”. Enquanto a água descia eu tentava, ainda sonolenta, refazer a agenda do meu dia. Tenho que desmarcar aqui, remarcar acolá. Por um triz não escovei os dentes com o creme de cabelo. Foi salva pelo meu olfato.
Café da manhã nem pensar! E se tem uma coisa que me deixa mal-humorada é não tomar café da manhã. Mas como compromissos tem prioridade, esquece o café e vai.... Então parti para o segundo obstáculo do dia, o trânsito. Trânsito parece que tem uma conexão direta com os astros, o trânsito sempre sabe quando estamos com pressa. Somente em dia de pressa você pega um engarrafamento ou o seu trajeto é interrompido por uma obra. Comigo não foi diferente! Naquela manhã, entre a minha casa e o meu compromisso, eu cruzei com todos os obstáculos possíveis e imagináveis. 
Tentei cantar, mas a cabeça preocupada com o atraso não conseguiu lembrar as letras das músicas. Tentei pensar em brisa, natureza, cachoeira, mas como pensar nisso se o relógio corria e o meu dia escorria junto? Então pensei no Dalai Lama. Será que ele já perdeu a hora alguma vez na vida? Será que já teve de correr senão ia perder um voo, uma palestra ou um compromisso importante? E o Papa Francisco? Será que alguma vez escovou os dentes na correria? Imaginei como os dois reagiriam diante de tal cenário. E a resposta que eu tive foi os dois rindo de si mesmos e seguindo em frente na mesma toada de sempre. Nem mais rápido, nem mais lento. Do jeito que é possível ser.
Então ri de mim e relaxei no banco. Virei a esquina da rua Sete de Setembro, para variar não tinha lugar para estacionar, o que piorava a minha condição de atrasada. Dei uma volta no quarteirão, encostei rapidamente e embora eu tentasse me controlar, entrei esbaforida no consultório. Antes mesmo de eu abrir a boca para falar do meu atraso a secretaria sorri para mim e me diz "fique tranquila Dona Leila, o próximo cliente cancelou, o horário é todo seu"! Coincidência ou não, quando olhei para o lado me deparei com o Papa Francisco na capa de uma revista. Olhei para a foto e pisquei para ele. Valeu! 

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

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sábado, 19 de setembro de 2015

Pelo direito ao "off"



É domingo de manhã. Estou com meus pais, meus irmãos e sobrinhos. O cenário é a cozinha da minha mãe. O lugar mais simples e mais acolhedor que eu conheço. Ela faz o café de sempre e começamos a conversa. Sem roteiro, sem cerimônia, sem segundas ou terceiras intenções. É em um desses momento que eu decididamente exerço o meu direito de ficar off. 
Sim eu quero o direito de permanecer desligado ou de ligar-me quando eu bem entender. Quero o direito de curtir os meus amigos, meus discos e livros dentro da minha casa ou onde quer que queiramos, desde que seja apenas entre nós. Quero o direito de praticar o verbo curtir e compartilhar através de abraços e olhares. 
Quero ouvir a voz dos meus verdadeiros amigos. Quero um abraço de verdade no dia do meu aniversário. Quero olho no olho. Quero pele, calor, abraço, risada. Quero tocar, sentir, cheirar e saborear meus momentos. Quero o mais comum dos presentes, presença! Quero comer, beber, dançar, cantar e ser feliz sem necessariamente divulgar os meus momentos. Nada contra quem o faz. Cada um usa seu espaço tecnológico como lhe convém. Mas não me cobrem uma exposição que não faz parte dos meus princípios. Admiro e me divirto com quem o faz por livre e espontânea vontade e não para angariar curtidas como se fossem ações da bolsa. 
Eu já sei que a tecnologia é um caminho sem volta, também sou uma cidadã que usufruiu de todas as possibilidades tecnológicas mas daí a me tornar uma pessoa  alienada que não é capaz de  desgrudar do celular nem para ir ao banheiro já é demais! E ainda que eu use a tecnologia para tantas coisas boas e interessantes, que eu tenha o direito de não me expor, que eu respeite os limites que eu um dia coloquei para mim. E que o meu padrão de escolha seja respeitado pelos demais. 
Quero dizer eu te amo para quem eu amo ouvir. Quero o direito de passar um dia desconectado do mundo e conectado às minhas raízes, aos meus filhos, enfim, às minhas escolhas.  Que a minha falta de jeito com fotografia seja respeitada e que eu continue tendo o direito de aproveitar as minhas viagens sem narrá-las como se fossem um programa de viagens da TV. 
Então se eu tiver off e não participar da sua conversa do seu post ou do seu grupo, respeite o meu direito de conexão privada comigo. Não me cobre um filme da minha vida, porque eu estou ocupado demais vivendo! 


Leila Rodrigues

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Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Nunca me outono



Você pode achar que é arrogância. Na minha adolescência eu também achava os adultos arrogantes e prepotentes. Mas hoje, que já passei dos trinta, dos quarenta e muito provavelmente da metade da minha vida, posso te garantir que não é arrogância. É apenas um silencio estranho que passei a cultivar dentro de mim. Os questionamentos continuam, mas são muito mais meus do que de qualquer pessoa. Não se faz mais necessário gritá-los por aí. Hoje já não me importo mais com a marca do seu jeans, mas me importo sim se eu perder a minha aula de yoga. Não me interessa mais quantas curtidas eu tive, quantas festas serei convidada ou quão correto está o meu look. Chega a ser engraçado, mas algumas coisas que antes eram tão importantes se tornaram relevantes sem que eu tenha acionado nenhum botão mágico. Eu hoje espero a minha violeta florir com a mesma alegria que na minha adolescência eu esperava na janela o moço louro passar. E decididamente me proponho a guardar todo meu dinheiro para fazer uma viagem e deixar para trás todas as coleções maravilhosas de sapatos sem comprar um par sequer. Hoje me interessa  saber se aquele meu amigo está feliz morando sozinho em Floripa ou se a minha cachorra dormiu bem depois de parir. E sou capaz de passar horas procurando atentamente a palavra certa para meu novo haicai. Você pode até achar que eu não tenho mais uma opinião formada sobre política, corrupção ou o mensalão. Engano seu, eu continuo com a cabeça cheia de opiniões, ideias e projetos, apenas não tenho mais a pretensão de mudar o mundo. Se eu conseguir mudar-me, já me sentirei vencedora.
Você pode até achar que eu estou me curvando ao tempo. Eu acho mesmo que o tempo andou mexendo com a gente. Perdi a pressa de chegar. Terá sido porque já cheguei?  Ou simplesmente porque hoje espero a primavera saboreando os ipês? Passei tanto tempo correndo atras de um lugar, que perdi as estações que me conduziam. Hoje choro não tê-las contemplando um pouco mais. Mas ainda me resta a próxima estação e isto é o que importa. Nunca me outono e sempre hei de cultivar uma primavera dentro de mim. Por mais cinza que esteja o tempo aqui fora, por mais chuvoso que tenha sido viver depois que ele se foi, por mais frio que seja viver sozinho, eu insisto em fazer em mim um sol pleno e nunca há de faltar flores para a minha janela. Nunca me outono. Jamais!

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

Imagem e título da minha amiga querida Elisa Campos. 

Elisa é daquelas raras pessoas que parecem ter alma de pássaro tamanho a leveza. Não a conheço pessoalmente, mas sinto-a tão sensível quanto seus haicais, tão leve quanto o voo de um pequeno pássaro, tão meiga quanto uma flor. Elisa querida, obrigada por fazer parte da minha rede de amigos especiais (nem digitais, nem virtuais), especiais porque fazem os meus dias mais coloridos. 



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A melhor festa


O que faz uma festa ser realmente boa? Um bom bufê com comidas nobres, entradinhas leves, taças de cristal, pratos bem pensados e preparados com precisão? Ou uma mesa impecavelmente arrumada, talheres  luxuosos, garçons bem vestidos e música clássica ao fundo? Pode até ser que com tudo isso a festa seja boa, mas o impecável não garante a satisfação dos convidados. Para uma boa festa, pode ter tudo isso ou nada disso! O que faz uma festa realmente boa é a energia que se cria. Já estive em festas extremamente bem preparadas, comidas fartas e saborosas porém sem emoção. Também já estive em festas em salões luxuosos convites disputadíssimos e que na hora H deixaram a desejar.
A boa festa é aquela que te deixa tão à vontade que você nem se lembra de reparar o vestido de onça da fulana ou o paetê da ciclana. Sabe por quê? Isso deixa de ser importante. Em festa boa de verdade você se sente ocupado com a festa. Isso é muito diferente de quando você é um mero expectador.  
O cantor pode até esquecer a letra da música que os convidados cantam por ele. Pode faltar copo, faltar cadeira ou faltar celebridade, o que não pode faltar em festa boa é alegria! Essa sim, tem que existir de sobra. No ambiente, no semblante dos anfitriões, nos convidados, no ato de festejar, tudo tem que estar permeado de boas energias, de alegria e da vontade de comemorar.
Decoração, luxo e perfeição é ótimo! Todos nós gostamos! Mas amigos de verdade quando se reúnem querem mesmo é se divertir. Os anfitriões são peça-chave pois o sucesso depende mais deles do que dos detalhes.
E se você puder juntar tudo isso a uma comida feita com amor e carinho, melhor ainda! Comida feita com cuidado e amor tem sabor diferente. Agrada de verdade! Comida que não só satisfaz a fome, mas desperta o interesse de quem come.
Em festa boa de verdade tudo é perfeito do seu jeito, no seu devido lugar sem que isto esteja em algum padrão. É perfeita porque fez todos felizes, gerou alegria, contentamento e satisfação.
É simples reconhecer a melhor festa. Ninguém quer ir embora! Para a música, param de servir e você continua lá saboreando a alegria do momento, torcendo para que ele não acabe jamais.

A melhor festa dispensa lembrancinhas pois fica naturalmente em nossa lembrança por um bom tempo. Este é o verdadeiro sabor de "quero mais”.


Leila Rodrigues

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Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

Se você tem um casal de amigos que se chamam Amnys e Cleide, ou se você já visitou a casa do Sr. Marcos Antônio e D.Irene vai entender o que eu estou dizendo. Trouxe comigo a vontade de voltar.


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A escolha



Levada pelo pensamento, como o vento leva a chuva, ela caminhava de volta para casa. Sempre a pressa, sempre o tempo. Contrariando o cotidiano, desta vez não era a janta que habitava seus pensamentos, nem o dever das crianças, nem o vazamento da pia. Quem a acompanhava pelo caminho era seu devaneio mais recente, uma nova oportunidade. Sim, uma oportunidade, essa dama encantada que habita nossos horizontes, havia beijado a sua face. Àquela altura de sua vida uma oportunidade de começar de novo, de um jeito novo em um novo lugar! Só de pensar nesta possibilidade, ela já se sentia embalada por este novo mundo. Riu de si mesma, conversou sozinha, não conseguiu parar de pensar. Fez e refez mil planos na cabeça, sentiu frio na barriga, tudo isso movida por esta janela que se abrira em sua vida.
A dúvida atormentava-lhe a mente. De um lado, a velha e costumeira vidinha de sempre, família, filhos, trabalho. Tudo tão encaixado para caber na agenda e na vida que até os problemas já lhe eram previsíveis. Não fosse a mesmice dos dias, não fosse a falta de emoção, diria que estava tudo perfeito em sua vida. Para quê mexer?
Do outro lado, feito criança na roda gigante, a oportunidade lhe convidava a largar a zona de conforto e experimentar começar tudo de novo. Quantas vezes ela não desejou, desesperadamente, uma oportunidade de recomeço? Quantas vezes, no auge da dificuldade e da dor, ela não quis uma chance desta? E agora que ela menos esperava, que ela já se havia acostumado com o que tinha, surge este pacote surpresa para dividir seu coração ao meio?!
Chegara a perder a fome, tamanha a dúvida. Silenciosamente cultivava aquela dor de quem precisa decidir um caminho a seguir. A dor não era escolher o caminho e sim, deixar um caminho. O que doía não era o caminho a ser escolhido, mas o que fosse deixado para trás, seja ele qual fosse. Descobriu que estava mais presa aos seus do que imaginava.
Resolveu colocar tudo na balança. E se surpreendeu! Descobriu uma equação que não se ensina nas escolas. Pessoas pesam mais que propostas, saudades medem mais que a distância, liberdade pesa mais que comodidade e felicidade nem sempre combina com facilidade. 
Diante de tamanha dúvida, ela rezou, pediu, pensou, calculou, chorou, sorriu e finalmente experimentou o momento mais solitário da vida. A hora de decidir. 
E assim decidiu! Optou por ser feliz. Achou este o caminho mais adequado.



Leila Rodrigues

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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Quem é ela?




O mercado é mestre em criar datas comemorativas. Há poucos dias tivemos o dia do amigo. Não me lembro desta data na minha infância. E olha que as amizades eram até mais intensas! Todos os dias deveriam ser de nossos amigos, mas com a correria do mundo moderno ter um dia para os amigos não foi uma má ideia. Afinal eles merecem no mínimo um dia do ano para que possamos agradecê-los pelo bem que nos fazem simplesmente por existirem.
Se vamos falar de amigos, então falemos dela. Quem é ela? Ela é aquela amiga que se não existisse, nós a teríamos inventado. É aquela pessoa necessária, imprescindível para a nossa evolução. Ela não precisa necessariamente ser a mais bela, nem a mais fina, nem tampouco a mais graduada, ela precisa apenas de algo que a faz única, é uma pessoa verdadeira. É aquela pessoa que não veio ao mundo para fazer nossas vontades, muito pelo contrário, ela é a única que tem coragem de nos dizer que estamos péssimas, que precisamos sacudir a poeira e dar a volta por cima, ou que precisamos passar um batom e seguir em frente. Quem não tem uma amiga dessa, perdeu metade do tempo se lamentando.
É com ela que queremos chorar nossas mágoas porque sabemos que ela vai tolerar por pouco tempo e logo logo vai dar um jeito de nos tirar do sofrimento. É ela que vai dizer que aquele sujeito não presta, que não precisamos comprar 5 camisas brancas, que o casamento é de dia portanto a roupa não precisa brilhar e ainda por cima vai dividir a conta em proporções mais exatas que qualquer calculadora faria. Só ela faz isso. Só ela é confiável a ponto de pagarmos calados as dívidas dos aniversários,  sem questionarmos uma vírgula.
Há quem diga que ela é mandona, eu prefiro dizer que ela é mãezona. Preocupa-se com todos e doa mais do que deveria para ver tudo em ordem. E ai se alguém mexe com um dos seus eleitos! Ela vira uma fera!
Ela organiza as festas com prazer, tomas as frentes mesmo quando chega atrasada e se não fizer parte da comissão de frente, pode esperar que vai fazer falta! Ah minha amiga o que seria de nós sem você? Sem a sua alegria, sem os seus valores intensos, sem a sua honestidade ímpar?
Como é bom ter você no nosso convívio! Como é bom te ver chegando trazendo barulho, alegria e de quebra uma cerveja Deus para descontrair. Romilda Maria Pinto Nogueira, minha leitora querida, esta pessoa é você! Uma amiga que faz por merecer este nome. A você o nosso carinho e a nossa eterna gratidão.
Leila Rodrigues

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Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 28/08/2015

sábado, 25 de julho de 2015

Permita-se



Passei a minha vida toda detestando iogurte. E não era uma intolerância, era não gostar mesmo!  Há poucos meses abri a geladeira, escolhi um iogurte e o devorei inteiro. Adorei! E de lá para cá iogurte é parte da minha dieta.
Como explicar que algo que eu passei a vida inteira resistindo agora faz parte da minha rotina? Nem eu sei dizer! Só sei que mudei! E que bom! Mudamos quando nos permitimos mudar. E mudar é a grande graça da vida! 
O problema é que mudar não é tão simples assim! Ninguém muda porque o outro mandou, mesmo porque isso não é mudar, é obedecer. Ninguém muda porque viu na TV, ou porque alguém falou que é bom. Isso pode ser experimentar. Desconsiderando as mudanças que a vida nos impõe sem pedir permissão como perder um emprego, uma pessoa querida, um acidente, mudar é um comando que cada um aciona sozinho. No dia em que bem entende. Minha mãe passou muitos anos tentando me provar que eu estava equivocada sobre o iogurte e eu resisti. Certamente muitas sugestões que recebemos de pessoas que nos cercam estejam corretas, mas a mudança só vai acontecer no dia que cada um decidir mudar. 
Que seja mudar o trajeto, mudar o cabelo, mudar de casa, mudar de cidade, mudar de emprego, mudar os móveis de lugar ou mudar a mobília da alma. Isso só vai fazer efeito se for uma decisão espontânea. 
Fernando Pessoa sabiamente nos diz "Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio. E lembra-te: Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão". 
Mudar é um exercício solitário. Às vezes fruto de longas e silenciosas observações, outras vezes resolvidas de supetão, mas sempre acordadas entre "eu e eu mesmo". Mudamos quando deixamos nossa teimosia de lado e nos permitimos enxergar as opções como verdadeiras possibilidades. Mudamos quando deixamos o outro sugerir sem nos aprisionarmos às sugestões. 
Não adianta marcar a data, escolher o local ou preparar um bota-fora para comemorar a mudança que vamos fazer amanhã em nossas vidas, nada disso vai funcionar! Mudar só será realmente possível quando aquele famoso “der na telha” acertar em cheio a tecla <enter> de nossas cabeças teimosas. É uma simples questão de permissão! Caso contrário, vamos morrer programando mudar sem nunca sair do nosso confortável lugar. 

Leila Rodrigues

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Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 21/07/2015