domingo, 28 de agosto de 2011

Sobre mim


Na minha infância eu já inventava histórias. Tinha muitos amigos imaginários e com eles eu criava uma história nova a cada dia. A Leila escritora sempre existiu, desde os tempos de estudante, porém, muito timidamente. Como escrever não se explica, tentarei, pelo menos, dizer como acontece comigo. Raramente penso um assunto antes de escrever, a não ser quando me pedem. As idéias chegam quando começo escrever. Escrever me descansa, me conforta, me liberta. Como observadora atenta à tudo a minha volta e como participante ativa de todos os meus papéis, mãe, esposa, filha, amiga e profissional, coloco nos meus textos o cotidiano de uma mulher da minha idade, que possa ser lido por todos.
 Acredito sinceramente, no valor do bom humor e por isso, naturalmente, o humor está sempre presente nos meus textos. Quem me conhece, sabe que eu sou assim mesmo, portanto, meus textos não poderiam ser diferentes. Porém, existem temas mais complexos e mais pesados em que a força da expressão tem outra vertente.
Quero falar sobre o dia-dia, sobre mim, sobre você e sobre todos nós. Como boa mineira que sou, espero que as minhas palavras cheguem até as pessoas com a frescura e a simplicidade de uma boa conversa.

Agradeço imensamente ao carinho de todos que tem dedicado um pouco do seu tempo a ler as minhas palavras. De coração, muito obrigada. É por vocês que eu escrevo. É por vocês que eu busco a cada dia, aprender e  melhorar um pouco mais.

Um grande abraço


Leila Rodrigues

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A felicidade de cada um

Encontrar um parceiro ou parceira é, para muitos, um pré-requisito obrigatório para a felicidade. Faz parte do "pacote de realização" encontrar o seu par. Me pergunto se o que as pessoas realmente procuram é um parceiro ou o lacre que faltava neste tal pacote?  
Independente do propósito é nítido como o ser humano naturalmente procura seu par. Alguns facilmente encontram e outros passam a vida à procura.  São turmas distintas. A turma dos "unidos" onde estão os casados, namorados, namoridos, amantes e adjacências. A turma dos solteiros, onde também se juntam os viúvos, separados, deixados, abandonados, perdidos e a decidir. E tem ainda a turma do "nem". Nem casado, nem solteiro; onde se enquadram os ficantes, os casos, os rolos, os indecisos, os que tem mais de um (e não tem nenhum), os que estão, mas nunca estiveram; os que estiveram e ainda não entenderam que não estão mais... e por aí vai...
Não importa onde voce se enquadra, se vamos falar de felicidade, o que eu vou dizer aqui cabe para qualquer um. Velhos, novos, homens, mulheres, enfim, cabe para mim e cabe para você. A felicidade é responsabilidade de cada um de nós. Sozinho. Isoladamente. A felicidade é solitária! Sim, é verdade, a felicidade é solitária. 
As pessoas realmente felizes não são, necessariamente, as que têm alguém, as que têm dinheiro, as que tem poder nem as que tem mais ou menos sofrimento. Porque a felicidade  independe do "ter"; ela esta relacionada com "ser". E "ser" é único, singular.   
A pessoa verdadeiramente feliz tem a felicidade como premissa e não como fim. Ela começa feliz. Ao contrário de outros que  vivem enxergando a felicidade como uma luz no fim do túnel que um dia vai chegar e este dia nunca chega.
A pessoa feliz é feliz com ela mesma e por ela mesma e isso não é egoísmo, isso é propósito de vida. A pessoa feliz sabe que o amor é solitário e  que nossas escolhas, assim como as consequências, são solitárias. 
A pessoa feliz de verdade é feliz enquanto constroe, ao contrário de outros que vivem à espera da "casa pronta" que vai trazer felicidade. Felicidade também é construção, é caminho, é trilha.
A pessoa feliz sabe que precisa dos outros e faz questão de também colaborar com os outros e jamais confunde essa ajuda mútua com transferência de responsabilidade. A pessoa feliz sabe amar, sabe se doar e sabe dividir; mas sabe também que isso não significa possuir ou ser propriedade de alguém. A pessoa feliz também sofre, sente dor e tristeza. Mas sentir não significa ser. Sentir pode depender da circunstância, de fatos. E ser, depende de querer adotar para si.
Podemos caminhar juntos, de mãos dadas, pela mesma trilha. Mas não posso me responsabilizar pelo seu sucesso ou fracasso, porque não vivo as suas dores, não amo os seus amores.  Me limito a este espaço que fica do lado de fora de você. E aí dentro de você, tem um infinito que é só seu. Assim como em mim, um universo particular. 

Leila Rodrigues

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Minha felicidade

Minha felicidade
Cabe na palma da sua mão, enquanto me acaricia
Cabe no copo de água fresca que me sacia
Cabe nas panelas de comida que faço
Cabe na barriga que vai parir, no regaço
Cabe na minha rede, de papo pro ar
Cabe na minha mesa de jantar
Outrora, a minha felicidade não cabe em lugar nenhum, 
Tão grande fica, ebule e se dissipa no ar.

A minha felicidade, às vezes, é pedra preciosa,
Verdinha, verdinha, disfarçada nos olhos do amado meu
A minha felicidade é dança
Minha felicidade ainda é criança

Minha felicidade é tão simplesinha...


Leila Rodrigues

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

No caminho

A passos largos e precisos ele seguia. Jamais olhava para o chão, poderia evidenciar a sua fraqueza. Olhava em frente, via o horizonte. Na verdade, nada via. Enquanto fazia aquele percurso de sempre, ele nunca enxergava nada. Aquele caminho era sempre o mesmo. A mesma hora, as mesmas pessoas, as mesmas lojas, as mesmas velhas casas e aquele mesmo velho corpo caminhava de volta para casa.
Achou tudo velho. Se achou completamente velho e pesado ao fazer aquele velho percurso. Teve ódio de si mesmo pela sua mesmice. Teve ódio da permissão que ele dava a cada dia para que a mesmice acontecesse.
De súbito, transgredindo a velha regra do caminho, virou a esquina seguinte. Olhou para cima e para os lados, mudou o compasso dos seus próprios passos. Respirou fundo como se quisesse, não só engolir, mas saborear aquele novo ar. Afrouxou a gravata e sorriu. Finalmente sorriu.
Daquela rua nova resolveu entrar em outra e depois em outra e outra. Andava, desesperadamente, a procura de nada. Virava aqui e ali procurando se perder. E quando se deu conta estava mesmo em um lugar completamente novo. Entrou no primeiro bar. Olhou o relógio, anoitecia. Dali a alguns minutos alguém começaria a ligar. Achou uma mesa no canto, desligou o celular e sentou-se. Sorriu de novo. Sorriu criança naquele momento.
Pediu uma cerveja e bebeu vagarosamente o primeiro gole. Sozinho naquela mesa ele observava à sua volta. Pessoas chegando, pessoas passando, casais se beijando e ele ali como um deus despercebido a observar tudo e todos. Um total e completo estranho naquele novo lugar.
Instantaneamente desejou cada mulher que cruzou aquela porta, despia todas nos seus pensamentos e ria sozinho no seu harém platônico. Analisou, filosoficamente, todos os bebuns transeuntes daquele reduto. Invejou a liberdade de alguns que chegavam serenos, tranquilos, sem medo de estarem ali. Concluiu que estes não tinham ninguém à sua espera. Andava cansado dessa espera. Cansado de ser precisamente esperado. Aquela precisão matemática havia extrapolado as portas da confiança.
Decidiu que acabaria com isso tão logo retornasse ao seu velho mundo. Porém agora não. Precisava usufruir cada segundo deste novo tempo, antes que este se tornasse velho também. Naquele novo lugar ele bebeu. Bebeu, comeu e filosofou. Bebeu, recitou e cantou. Bebeu, sorriu, riu, gargalhou, chorou, pagou e cambaleou até reencontrar o velho caminho.
Ajeitou a gravata, alinhou o passo e pegou de volta a velha estrada.


Leila Rodrigues

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Domingo

Quando criança, domingo era dia de missa. E de picolé depois da missa. Domingo era dia de frango, de macarronada, de casa de vó. Domingo tinha um cheiro diferente, cheiro de alegria.

Cresci e o domingo virou um tédio. Talvez pela sua localização estratégica entre o sábado e a segunda, o domingo servia para acumular duas coisas: a ressaca do sábado (bebido ou não) e a revolta pela segunda. O infeliz não passava; eu arrastava um chinelo pela casa, embrulhada naquele roupão encardido de sempre, amargando a espera dele passar. Isso quando eu não chorava ao entardecer. Sem nenhum motivo aparente eu derramava um pranto sem sujeito quando chegava aquela hora fatídica.

Incomodada com aquele dia cruel bem no início da minha semana, comecei a me encher de compromissos. Precisava dar um jeito de reverter aquela situação! Feiras, almoços, parques, shoppings, enfim, compromisso era meu sobrenome. Passava o domino (domingo) na rua. Programa não faltou. O que faltou foi disposição mesmo! Chegava na segunda eu estava um caco, um trapo de gente arrastando o peso do meu cansaço. Percebi que havia escolhido a estratégia errada.

Continuei minha saga em busca do domingo perfeito. Comecei a juntar dinheiro para comprar um sítio, minha casa de campo. Isso sim vai ser felicidade! Natureza, sossego, silêncio... Até esqueci o trabalho que dá, o trânsito para ir e vir, a manutenção do meu sonho, enfim.  Quando vi que isso poderia demorar alguns anos, fiquei à deriva novamente. Não que eu tenha desistido do sonho, mas eu queria resolver isso agora. Não tenho um dia da semana para dar de presente ao nada. É perder muito da vida.

De volta ao meu apartamento, resolvi dedicar o meu domingo a alguém muito especial: A mim mesma!

Hoje ele (o domingo) passa tão rápido que mal dá tempo de fazer tudo que eu quero. Tomo meu café da manhã de rainha, ouvindo as minhas músicas, sem pressa.  Leio meus livros, mato a saudade dos meus amigos. Caminho, cozinho, ou invento uma comida única, temperada com um pouco de mim. Assisto meus filmes, meus programas prediletos. Escrevo, leio, escrevo de novo, leio mais um pouco. Aprecio com mais tempo os meus filhos, o meu marido, as flores do meu jardim, a paisagem da minha janela. Falo com meus amigos distantes. Coloco ou tiro compromissos no domingo conforme a minha vontade, meu estado de espírito.

Converso comigo e com Deus. Ouço um pouco de silêncio e também um pouco de mim. Dou a mim mesma, um pouco mais do que meus cinco minutos sonhados. Dou-me um começo melhor, uma semana começando por mim.

Leila Rodrigues 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pura magia

Demorei tanto para chegar e agora, que aqui estou, a impressão que tenho, é que sempre estive aqui. Você me é tão familiar que fica difícil explicar. Parece que eu já ouvi seus hiatos, já sei o tempo das suas falas, o tom da sua voz.
Fiquei à vontade antes mesmo de você puxar a cadeira.
E olha que eu ainda não sei quase nada de você e nem você de mim. Mal sei seu sobrenome e você nem sabe onde eu nasci. Ainda nem te contei como foi o parto do meu filho, nem você me disse onde passou suas últimas férias. Mas você sabe me fazer sorrir só de me olhar e eu sei te contar casos que nem para mim mesma eu contei um dia.
Talvez nem sobre tempo para falar de mim, mas isso pouco importa. Aquela pressa de se mostrar, aquela aflição de dizer quem sou, sumiu. Deu lugar para uma tranqüilidade incrível, uma leveza que dispensa explicações. Olhos falam, sorrisos explicam, afinidades se misturam. Que coisa é essa? Pura magia, eu diria.
Não precisa me levar a lugar nenhum, meu caro. Eu já me sinto, aqui, no melhor lugar. Não se apresse em misturar nossos mundos porque eles já são próximos por natureza. Gostamos das mesmas cores, respiramos os mesmos ares ainda que estejamos a milhares de distância. A força infinita da natureza nos aproximou e ela mesma vai tratar de entrelaçar nossas mãos.
Em meio a milhões de cliques, num deles estava você. Nesse mundo novo, onde tudo é tão instantâneo, tão efêmero, tão moderno, não se esperava que o sentimento, esse velho avassalador, vencesse. Mas ele venceu. Venceu as barreiras do teclado, venceu as fronteiras do monitor. Venceu o frio da distância e juntou pessoas, uniu casais, formou famílias...
Sim o amor é mesmo inexplicável! Pode surgir de onde menos se espera, de onde nada se espera. De onde não se procura, em momentos que nem sequer imaginamos, lá vem ele tomando conta de nossos espaços. Fazendo amigos, formando parceiros, tribos, grupos, casais... amores.
Ombros que eu nunca vi, colos que eu jamais dormi, choram comigo minhas dores e vibram comigo as minhas alegrias, a milhas de distância. Alguém poderá dizer que este sentimento é menos nobre que qualquer outro ?
Vindos de todos os lugares, de todas as tribos, as pessoas se descobrem próximas, parecidas, unidas, pares. E como um toque de magia, uma cumplicidade imediatamente inexplicável toma conta de nós.
Neste campo imenso de girassol, vivemos a mais pura magia do encontro. Naturalmente simples. Como um clique.

Leila Rodrigues, especialmente para os meus amigos Ricardo Calmon e sua doce Regina, pessoas que eu conheci com um clique.