quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A foto



A fila era gigantesca. O shopping lotado, o ar condicionado não dava conta do recado e aquela barba que causava uma coceira dos infernos. Não via a hora de encerrar o expediente e voltar para casa.
Pensava no quanto aquele dinheiro extra iria ajudar, no terceiro filho que estava para nascer e no rosto daquelas crianças emocionadas e assustadas ao mesmo tempo. Calçou novamente as botas e tomou o seu lugar. Esse era o seu trabalho extra há 11 anos, desde que engordara pela primeira vez. Dali para frente, seu emprego de Papai Noel foi garantido.
Uns vinham com o pai, sempre apressado. A maioria com a mãe, sempre preocupada com a foto e muito poucos vinham como aquele menino de uns 14 anos, sozinho.
- Oi,vou sentar no seu colo não tá! Tô grande e sei que você não existe.
- Tudo bem, mas então por quê veio? Por quê enfrentou essa fila imensa?
- É que eu queria te falar uma coisa. Uma parada aí que tá rolando comigo.
- Pois então diga.
- Cara, sonhei com você! Pronto falei! Eu sonhei com o Papai Noel e agora tô aqui te contando esse mico, veio! Pode isso?
- Claro que pode? Tanto pode que aconteceu. Mas me conte, o que foi que você sonhou?
- Brow, eu sonhei que você era meu pai.
- Mas isso é comum, muitas crianças sonham que eu sou o papai ou que o papai sou eu. É porque os pais compram os presentes e eu entrego.
- Veio, cê num tá entendendo, eu num tenho pai não! De onde foi que eu tirei essa doideira de sonhar com você? Já imaginou se a minha turma descobre que eu tô aqui, eu tô ruim na fita pra sempre! To fora do bando, entendeu agora? Só vim aqui te contar porque achei sinistro demais. Mas já tô vazando...
- Não, relaxa, já que você chegou aqui, vamos, pelo menos, tirar uma foto.
 Nervoso, com as mãos trêmulas, aquele menino sentou no colo do pseudo-velhinho e  o abraçou com toda sua vontade. Tão emocionado quanto o menino, o homem correspondeu de imediato. Ficaram assim abraçados por algum tempo até que finalmente alguém chamou para a foto.
Na foto, dois pares de olhos inundados de emoção eternizavam um momento único na vida daquelas duas pessoas. Nunca mais se cruzaram e nem sequer perguntaram o nome um do outro. Mas levaram para sempre a imagem de alguém que fez um dia especial em suas histórias. 
Leila Rodrigues

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Pena




Pena não ter tido tempo de dizer adeus
Pena ter feito você chorar
Pena ter perdido aquele trem e junto com ele o que teríamos de história

Pena não ter tido coragem
Pena não ter dito a verdade
Pena ter buscado em outros cantos o seu verdadeiro encanto

Pena ter ficado tão quieto
Pena não seguir meu coração
Pena nunca ter voltado pra te pedir perdão

Pena não ter feito das minhas penas, um bom motivo para mudar
Pena não ter tido coragem de voar
Que pena!


Leila Rodrigues