domingo, 21 de maio de 2017

Amor esquisito



Lá vem você de novo me dizer o que eu devo ou o que eu não devo fazer! É sempre assim! Você sempre tem certeza que tem a receita certa para mim. Toda dia você me diz o que fazer. Você  me diz o que vestir, o que comer e aonde ir. Todos os dias!
Todos os dias você me fala se eu escolhi a roupa certa, se eu comi muito ou não comi nada. Você corrige meus erros de português quando eu estou falando, você conta de novo, claro, e de um jeito melhor, a história que eu estou contando, você sabe o jeito melhor de estacionar o carro e você me lembra todas as vezes que eu esqueci a luz acesa. Eu não sei o que seria de mim sem você! 
Você prepara a comida ideal para mim de segunda a segunda, todas as refeições; você guarda as minhas roupas e arruma minhas gavetas do seu jeito. Você escolhe o que eu devo vestir. Você sempre escolhe onde vamos jantar, o que vamos comer, onde serão nossas férias, qual será nossa programação em Guarapari, que quadro "vamos" colocar na parede, qual supermercado "faremos" as compras este mês e qual a marca da TV que vamos comprar em janeiro do ano que vem. Olha que coisa! Você faz tudo para mim! 
Os amigos te elogiam e fazem questão de me dizer que você é muito boa para mim e eu sempre confirmo com a cabeça que sim! Você é ótima! Você é uma excelente mãe e uma esposa exemplar. Você é amorosa, dedicada e prestativa. Muito prestativa! Aliás eu já nem sei mas o que é mesmo ser prestativo. Essa palavra ficou confusa para mim! Vamos voltar a falar de você. Você me proporciona uma economia gigantesca. Você me economiza viver! Eu não preciso pensar, eu não preciso decidir, eu não preciso escolher, eu não preciso nada a não ser te obedecer. E o que mais me impressiona nisso tudo é que eu nunca te pedi para fazer nada disso. Você decidiu que seria assim! É muito amor envolvido! Um amor esquisito que não se vê nos romances nem nos poemas. 
Eu queria muito, mas muito mesmo que um dia você prestasse atenção em mim. Não para falar que eu estou gordo, porque isso você já fala todo dia, nem para reparar se o meu corte de cabelo ficou bom, isso você sempre faz também. Eu gostaria muito que você soubesse que mesmo ocupando esta posição medíocre de figurante eu sou um homem de muita sorte,  na minha cerveja e no meu time você nunca interferiu. Ah! Eu sou uma pessoa feliz. 
Leila Rodrigues

Imagem do clássico filme  E o vento levou de 1940 com Vivien LeighClark Gable
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

Olá pessoal,

Uma vez ouvi que, em se tratando de relacionamentos, ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim e também ouço de vez em quando que "cada caldeirão tem a tampa que lhe cabe”. Mas tenho amigos e amigas tristes, que amam seus companheiros mas se sentem completamente amarrados pelo controle do outro. 
Torço para que, quem está preso a alguém consiga se libertar e quem está controlando consiga se desfazer desse fardo, porque viver controlando o outro deve ser pesado demais.
E que juntos consigam achar um jeito de ser feliz!
Grande abraço


Leila Rodrigues

domingo, 14 de maio de 2017

Para ficar na história



Era maio. Era 14 de maio de 1958. Éramos nós e o pequeno vilarejo de Aureliano Mourão. Éramos eu, você mamãe, papai e meus 10 irmãos. E você, Dona Ilva Campos Rios era a nossa rainha. De você viemos e à sua volta conhecemos a alegria de ser uma família. Sob o seu comando crescíamos e descobríamos o mundo. Eu José Roberto, meu pai Antonio Rios e meus irmãos, Amélia, Vitória, João Pedro, Antônio Augusto, Ana Aparecida, Raimundo Cézar, Zenon, Dimas, Sonia e Ricardo. 
Lembro do seu cabelo escuro sob a sua pele clara. Lembro do seu sorriso e do cheiro que vinha das suas panelas anunciando a hora de comer. Lembro do quanto a sua presença coloria aquele vilarejo com a sua alegria de viver. Lembro das manobras constantes do trem bem em frente à nossa casa e você nos advertindo dos perigos do mesmo. 
Mas quis o destino que você nos desse uma lição muito maior. E quis ainda o destino me escolher para assistir o seu ato de bravura. Foi o seu instinto materno, o seu amor pelo seu filho que fez você entrar no meio do emaranhado de máquinas gigantes para salvar o nosso pequeno Ricardo da morte. Você o salvou mamãe! Você salvou o nosso irmão Ricardo no mesmo instante em que nos deixou. 
Ah como eu gostaria de te abraçar pelo seu gesto! Como eu gostaria de te dizer que a sua bravura repercutiu em mim e nos meus irmãos para o resto de nossas vidas! 
Eu era um menino,  um adolescente sujo de terra que ainda tinha muitas histórias para compartilhar com você. Por muitos anos eu esperei o seu colo. Por traz desse homem bravo e forte que eu me tornei, o seu menino ainda vive e chora a sua falta. E toda vez que o trem apita lá longe, um misto de dor e saudade traz você para perto de mim. É o momento em que eu me sinto de novo o seu pequeno José Roberto.
Mãe, nem eu nem meus irmãos temos dúvida de que você habita o céu! Você se tornou esse anjo que protegeu nossos caminhos até aqui. Depois da sua partida houveram tempos difíceis. Foi preciso que nós, eu e meus irmãos, nos uníssemos para continuar o seu legado Dona Ilva. Nós nos unimos para nos criarmos de novo, em um novo mundo sem você. E agarrados um ao outro crescemos. Crescemos e formamos nossas famílias. Hoje somos muitos. Hoje você tem genros, noras, netos e bisnetos. Você Dona Ilva Campos Rios continua sendo a nossa rainha. E por você eu defendo os meus filhos e luto para que sejam pessoas de bem. O seu ato de bravura ao salvar o seu filho, há de ficar na história de cada um de nós. 
Tem gente que diz que o tempo leva tudo. O tempo não leva tudo! Nem todas as ventanias que eu e meus irmãos enfrentamos nesta vida desataram o laço que existe entre nós. Nem o fato de você habitar outra dimensão, nem o barulho do trem, nem ninguém... Você permanece viva em nossos corações! 

Leila Rodrigues

  • Esta é a história real do Senhor José Roberto e sua família, em especial de sua mãe a Sra. Ilva Campos Rios que faleceu em 14.05.1958 ao salvar o seu filho Ricardo que brincava entre os trens.
  • Publicado no Jornal Agora em 13.05.2017.
  • Imagem da internet - meramente ilustrativa.

Olá pessoal,

Nesta semana fui procurada pelo Senhor José Roberto que queria muito me contar a sua história. O Sr. José Roberto é um pai de família, uma pessoa muito simpática que me contou a história acima, a história da sua mãe e me pediu que a transcrevesse para ele. 
Não sei explicar a emoção que foi para mim receber este convite. Também não sei traduzir o  momento da escrita. Tive pouco tempo para internalizar a história, mas espero ter conseguido traduzi-la do jeito que a história merece.
Assim são as mães, pode passar o tempo, pode o mundo evoluir, pode a tecnologia avançar, mas o amor de mãe, o instinto salvador das mães, isto nada no mundo vai mudar.
E assim desejo a todas as mães forças para viver este amor infinito e incondicional que acomete a todas nós a partir do momento em que concebemos um filho no ventre!
Abençoadas sejam as mães!!!!


Grande abraço



Leila Rodrigues