domingo, 8 de outubro de 2017

Quem sabe ainda sou uma garotinha?


Que ninguém tente nos definir depois dos 40, pois vai se dar mal. Depois dos 40, somos o resultado das nossas lutas, das nossas experiências, noves fora as desavenças e multiplicado pela resiliência a cada tombo. A esta altura eu tenho certeza de que você não está mais pre-ocupada nem ocupada com o pensam de você. A esta altura, você já enfrentou um leão na jaula. 
Agora sim, você poder trazer à tona a menina de olhos brilhantes que queria ser bailarina mas dançou mesmo foi nos idos anos 80 na boate da sua cidadezinha ( no meu caso o saudoso Tio Patinhas). 
Você pode trazer de volta a doce menina de mochila nas costas que queria ser Lidia Brondi ou cantar como a Paula Toller, mas se contentou em ser ela mesma depois que descobriu que este era o seu melhor papel. E o fez com maestria, transformando o pouco que tinha em algo muito além da paisagem. E olha que ela não usou os quadris para isso, nem o namorado lindo que as outras invejavam. Ela acordou cedo, pegou a estrada, enfrentou a chuva e soube esperar a hora certa de ver o sol se por às margens do rio Guaiba sob o som de Kleiton e Kledir. Você poderia trazer de volta qualquer uma delas embora isso agora não faça a menor diferença. Todas elas foram o que foram e isso foi o melhor. Hoje elas são história. História de uma mulher que foi feliz nos seus tempos, em cada um deles. 
Ela foi feliz aos 20 cantando com Djavan, aos 30 embalando suas crias e estudando para as provas, aos 40 aprendendo inglês e se desdobrando para dar conta do trio filhos, trabalho e estudo e ainda ontem eu a vi feliz da vida ao embarcar para MatchuPitchu com o melhor amigo. Ela descobriu que o grande segredo dos propósitos é ser feliz durante a caminhada. Sem vislumbre, sem ilusão. É uma felicidade tranquila, quase silenciosa, resultado do encantamento pela vida. Aquele “Feliz por nada” que Marta Medeiros escreve com maestria. Hoje ela não quer mais mudar o mundo, está ocupada demais mudando a si mesma. E isso dá um trabalho danado!
Os problemas continuam indo e vindo. As pessoas também. Mas hoje ela sabe que não vale a pena segurar ninguém. As pessoas saberão o caminho de volta. E se não voltarem é porque nunca estiveram com ela de fato. Será que ela aprendeu a amar? Pode ser! Prefiro dizer que ela aprendeu a viver! Viver e deixar que a vida aconteça no seu fluxo natural. Ela apenas segue vivendo e achando a vida melhor hoje do que a 20 anos atrás. 
Ela não se envergonha nem se engrandece com nenhum fato da sua história. Apenas segue, com a certeza de que hoje ela sabe algo que as outras ainda não sabem, mas elas vão chegar lá! Algo que não está implícito, que só os anos de salto, sangramento e escova no cabelo podem explicar. Pensando bem, Kassia Eller  estava certa, quem  sabe ainda sou uma garotinha? 


Leila Rodrigues

Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos


Olá pessoal,


Idas e vindas, a vida é isso. Um eterno ir e vir de algum lugar. Ainda ontem eu estava em São Paulo e amanhã mesmo estarei em algum outro lugar. É preciso ir, é preciso voltar, é preciso viver! Viver e deixar que a vida aconteça. Simples assim. 
Não importa se o seu ir e vir é até Nova York, ou se é da cozinha para o quarto. O importante é dar os seus passos. Nada mais!
Sobre o texto, gosto de relembrar a minha juventude, embora não me prenda a ela. Somos os resultado da nossa história, mas a história que vamos contar amanhã, depende do que fazemos hoje, agora, no único instante que temos, o presente.

Grande abraço



Leila Rodrigues

4 comentários:

  1. Adorei o seu texto. Simples assim.

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  2. Uma rica crônica de oportunidades que a vida nos oferece diariamente. Basta que tenhamos discernimento e sensibilidade para não deixarmos nada para depois... Gostei e me revi em muitos parágrafos...
    Abraço.

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  3. Que texto bonito, Leila. Lindo, lindo. Uma saudade gostosa misturada à convicções atuais, da menina ainda tem um pouquinho lá dentro. Parabéns.

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