sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sobre velhos e novos




Quando eu tinha 17 anos eu achava qualquer pessoa com mais de 30 anos velha. Os 30 chegaram e eu percebi que ainda tinha tantos ou mais projetos que quando eu tinha 17. E então eu entendi que o número de anos vividos não tinha uma ligação tão direta assim com a velhice. Isso é algo que só aprendemos com a prática, ou melhor, com o tempo. E comigo não foi diferente. Aos 30 eu realmente fui movida por uma disposição incrível. Filhos, família, trabalho, estudo, tudo junto e misturado para se chegar a algum lugar. 
Os 40 chegaram e foi como começar tudo de novo. Se a vida começa aos quarenta então eu estava praticamente nascendo. Bem, na prática a teoria é outra, o ditado exagera um pouco mas não deixa de ser um incentivo a mais. O ciclo de amigos pode ficar menor, mas as amizades são mais intensas e verdadeiras, porque aos 40 a quantidade importa pouco.
Aos 40 você quer fazer coisas que nunca fez porque estava ocupado demais com o seu futuro lá atrás. Aos 40 você quer cantar as suas músicas favoritas e que se dane as novas. Aos 40 as pessoas contam mais que as contas e não se deixa para amanhã o que não pode ser feito ontem. 
À medida que os 40 avançam você percebe nitidamente a conta da farmácia crescendo e a do biquini diminuindo. Naturalmente você se vê introduzindo um remedinho para a pressão, depois outro para a hipotireóide, depois um omega3 e a cada ano você repete o mesmo biquini porque já não o usa tanta assim. 
Mas isso não significa necessariamente que você esteja velho. Digamos que a máquina agora precisa de uma manutenção mais frequente, mas continua funcionando bem obrigada. Muito provavelmente para um rapaz de 17 eu seja praticamente idosa. Mas isso não me afeta, afinal, ele só tem 17 anos e talvez ainda não consiga enxergar um horizonte tão longínquo. Porém para mim, que estou aqui escrevendo, vivendo, trabalhando, de malas prontas para o Show do Rollling Stones e cheia de projetos, velhice tem um conceito diferente. 
Não vou negar que na minha mala hoje tem hipertensivo, sapato da linha conforto e meias que eu uso para dormir. Mas tem também uma roda de amigos dispostos a se divertirem que me acompanham e fazem a minha viagem valer a pena. A minha maior bagagem agora é a história que eu carrego comigo. Se isso é velho ou novo, não faz a menor diferença! Envelhecer não é uma escolha, ser feliz sim!


Leila Rodrigues

Olá pessoal, 

Escrever para mim é algo que não consigo programar. Acontece. E quando alguém faz uma “encomenda” de um texto com um assunto específico, geralmente deixo a inspiração chegar no tempo dela e um dia a coisa acontece. Este texto é continuação de uma discussão entre amigos onde um  falou a frase fatídica: "É! Estamos ficando velhos!”… O assunto rendeu e terminamos com muita risada e descontração. Em resumo descobrimos que estamos ficando velhos e melhores. Melhores como pessoas, como amigos, como filhos, como pais, como esposa e marido, enfim, sem bater de frente com a lei da gravidade, estamos melhores como pessoas. 

Grande abraço e que o tempo nos faça pessoas melhores!

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis (23/02) e no JC Arcos (27/02)

Imagem da internet



sábado, 13 de fevereiro de 2016

Trinta anos e uma história



Teve gente que como eu veio sozinho, veio para abraçar os amigos, dançar e cantar de novo junto com pessoas que foram importantes na sua juventude. Teve gente que veio com a família, trouxe os filhos para cantarem juntos e conhecerem os amigos daquela época. Teve gente que ficou quietinha, espiando e observando… certamente relembrando em silêncio. Tiveram outros que não pouparam abraços e risos dos encontros. Mas o fato é que tinha um tom diferente no ar. Seria um tom de nostalgia? Um tom de alegria? Ah! Era o Tom Bege de novo e a vontade de ser feliz mais uma vez!
Foi assim, com muita alegria e descontração que o então casal (Zezé e Samuel), que agora virou trio (Zezé, Samuel e Júlia) receberam os amigos para comemorarem os 30 anos do Tom Bege, o casarão antigo, bem no centro da cidade, decorado ao estilo “mineiro bom de noite” que abrigava a juventude arcoense nos anos oitenta e noventa. 
Era ali que tudo acontecia! Seja para "tomar uma” sozinho no balcão, encontrar os amigos, namorar tranquilo nas mesinhas do fundo, paquerar (Sim, naquela época nós paquerávamos!) ou simplesmente tomar um caldinho de feijão, Tom Bege era o nosso lugar. Quantos amores não começaram naquelas mesinhas? Quantos outros não acabaram ali também? Foi no Tom Bege que eu aprendi que “aquela angelical e fina flor do amor também pirou!”. Foi na varanda do Tom Bege que eu vi a noite acontecer e moçada dosarcos se divertir. Quantas histórias! Éramos felizes! E olha que nem existia celular e internet! 
Foi maravilhoso dançar de novo ao som de Andre Gouveia e cantar com ele a era de ouro da música brasileira; Kid Abelha, Paralamas, RPM  e todos os demais sucessos dourados da época. Foi delicioso tomar de novo o caldinho de feijão do Tom Bege, o precursor da iguaria. E foi emocionante ver Tia Carminha e Dona Zezé as matriarcas  da família Calácio e sempre presentes e atuantes no Tom Bege. 
Sim eu dancei de novo com Donizete Bernardes e posso dizer o quanto foi bom! Eu abracei e sorri de alegria ao rever pessoas queridas. Ainda que tenha sido tão breve, foi muito bom saber que você está bem! E foi muito bom também ver a nova geração cantando e dançando junto com a velha guarda.
É moçada o tempo passou para todos nós. Engordamos, perdemos os cabelos, mudamos com o tempo, fazer o quê? Acontece com todos! Mas em contrapartida está mais que provado que tivemos uma juventude tão gostosa e saudável que reviver é leve e prazeroso. Uma benção!
Parabéns e muito obrigada Zezé, Samuel e toda família Calácio por nos proporcionar um momento de tão grande alegria! Tenho certeza que lá da outra dimensão, o Sr. Zequinha aplaudiu de pé!


Leila Rodrigues

Publicado no JC Arcos em 13/02/2016
Foto oficial do Casarão onde funcionou o Tom Bege


Olá pessoal,

Escrever este texto foi uma alegria à parte. Uma viagem natural no tempo regada aos abraços dos amigos que revi. À família Calácio minha gratidão e carinho por participar deste momento. O Tom Bege é parte da nossa história!
Um dia todas as juventudes viram histórias para contar. Eu tenho a honra de contar a minha com um sorriso…


Grande abraço

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Simples assim


Sou fã da Cris Guerra. O que eu escrevi hoje é uma reflexão do que Cris apresentou no seu programa na Internet http://youtu.be/74sTsLhnk1k .  O tema foi  "As coisas me desorganizam", mas o que me chamou a atenção foi o que Cris disse sobre acúmulo e leveza. Aqui vai um comentário de uma fã.
Dizemos em alto e bom tom que queremos ser simples, que queremos ser leves e que queremos viver com menos. Queremos ser ecologicamente corretos, básicos e "naturais". Uma releitura do natureba de décadas passadas. Mas na prática, sítio sem Internet, namorado sem carro e quarto de hotel sem ar condicionado nem pensar! Então que simples é este que defendemos? Até onde suportamos o "natural" que pregamos?
Alguém fala que quer viajar comigo pra fazer um "mochilão" por aí, mas tem que levar a chapinha na mochila e também o óleo especial que ela passa no cabelo para tirar o frizz! Tudo na mochila de grife, claro!
Nosso mais novo feito é que conseguimos falsificar a leveza! Só não sei a quem estamos iludindo!  Enquanto 120 pares de sapato descansam no closet ou 78 garrafas de vinho dormem horizontalmente na adega, insistimos em dizer que somos simples e leves!
Acumulamos nossas gavetas de coisas e mais coisas, nossas vidas de pessoas e mais pessoas e consequentemente nossa mente de pensamentos para administrar tudo isso. E o que mais assusta é que este acúmulo não é resultado de uma paixão por determinado objeto. Acumulamos porque queremos ter mais, independente da necessidade ou do uso. A impressão que tenho é que acumulamos de medo de um dia perder. Só pode ser! E quando chega o Natal saímos por aí doando nossos pertences para diminuir nossas culpas! Nem sequer percebemos que para administrar este acúmulo gastamos tempo, energia e muito mais dinheiro.
É como um círculo vicioso. Compramos para satisfazer nossos desejos. Uma vez satisfeitos, nossos "brinquedos" não nos servem mais, então precisamos de outros brinquedos. Chega um momento em que o armário não cabe mais de tanto brinquedo e você não sabe mais como brincar.
Um pouco que não é pouco, um simples que não é simples e um natural completamente sofisticado. Assim estamos nós, equivocados e confusos. E Cris conseguiu resumir perfeitamente isso em uma frase: Queremos um hippie com Wi-Fi. Simples assim!

Leila Rodrigues


Cris Guerra é publicitária e escritora www.crisguerra.com.br
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 26/01/2016 e no JC Arcos em 30/01/2016
Imagem da Internet