domingo, 22 de maio de 2016

Mãe de meninos



Sei que hoje existem mecanismos que permitem que o casal escolha o sexo do bebê. Eu sou das antigas, não escolhi. Meus meninos chegaram e pronto. Eu os recebi e os amei assim, meninos. E quem tem meninos vai entender bem a minha fala.
Ser mãe de meninos é algo inexplicavelmente bom. É conviver com um universo diferente, prático, rápido e sem muitas firulas. Quem tem a possibilidade de crescer com meninos, como eu, pode dizer que tem graduação em praticidade.
Eu fui criada no meio de meninos e hoje tenho a honra de viver com meus três meninos. Meu marido e meus filhos. Criar um menino é preparar um homem. E viver no meio deles é viver uma filmagem de Indiana Jones em tempo real. É almoçar de segunda a sexta assistindo a algum programa de esporte, ou a todos, ou àquele que estiver falando do time favorito deles. E aprender que quando o time perde, melhor não tocar no assunto, discutir neste momento é piorar a situação.
Ser mãe de meninos é entender que eles realmente nunca vão dobrar uma roupa com perfeição. A não ser que sejam profissionais da moda, isso é realmente irrelevante para eles. Aliás, para eles roupa deveria ser algo descartável. Ser mãe de menino é compreender que o silêncio quer dizer silêncio e não falta de colo ou de perguntas que nos levem a algum problema. Simples assim. Ser mãe de menino é entender que a tampa do vaso é um entrave e que condicionador de cabelos para eles é tudo igual. Como são iguais todos os tons de rosa, de azul ou de cinza.
Ser mãe de menino é morrer de ciúmes de cada mulher que se aproxime deles e que tenha alguma, a mínima que seja chance de ser a mulher da vida deles. É achar todas as meninas espertas demais para os nossos “pequenos”, mesmo que de pequenos eles não tenham mais nada.
Ser mãe de menino é incorporar no vocabulário os nomes dos games, dos jogadores de futebol, da marca do boné ou do computador mais novo. E descobrir que tudo isso faz de mim uma pessoa mais prática, mais forte e indiscutivelmente mais mulher.
Ser mãe de menino é entender que saltar, pular e lutar fazem parte do cotidiano deles. E que mesmo que eles rolem no chão, eles não vão se matar. É entrar na brincadeira, ser a prisioneira e deixar o mocinho te salvar. E quando bater aquela falta de um colo, sentir a mão quentinha deles no nosso ombro e ouvi-los dizer timidamente que tudo vai ficar bem.

Leila Rodrigues
                             
Olá pessoal,

Sou realmente uma pessoa rodeada de meninos. Nasci no meio deles, cresci com eles, me casei com um, tenho dois filhos e trabalho com um monte de rapazes. Incrível como isso muda a gente. A primeira vez que percebi foi em uma loja com duas amigas onde eu gastei 5 minutos para escolher uma roupa e elas me olharam espantadíssimas!!! Daí para frente eu comecei a observar e hoje convivo e aceito todo seu aprendizado de bom grado. Na foto eu e meus meninos, meus amores.

Grande abraço


Leila Rodrigues 

domingo, 8 de maio de 2016

Pequena Mulher



A casa dela é simples. Tem santos nas paredes e plantas em vasilhas de plástico coloridas que deixariam qualquer arquiteta incomodada, mas tudo combina. Combina com ela, combina com o seu jeito simples de ser. Ela varre a calçada toda manhã e enquanto isso conversa com todos que passam pela rua. Arruma emprego para um, serve um café para o outro e um par de sapato para o sujeito que passou de chinelo. É assim seu coração. Sem medidas e sem barreiras. É capaz de atravessar a cidade para pedir emprego para o vizinho e não está nem um pouco preocupada se a sua pele precisa de filtro solar. Tem outras preocupações mais nobres. Ela escreve bilhetinhos para os seus santos pedindo por cada um da família. Às vezes acho que ela vive mais perto de Deus do que nós.
Naquele dia ela me esperava no portão. Banho tomado, cheiro de sabonete e aquele vestido florido que eu dei no Natal de 2008 e que ficou ralinho de tanto lavar. Sorriu para mim e disse que o café estava me esperando. Tinha biscoito frito, café da hora e o cheiro inconfundível da cozinha dela no ar. 
Fiquei olhando para ela e observando os seus olhinhos brilharem enquanto falava comigo. De um jeito divertido ela contava as noticias da casa, do bairro e da cidade. O pé de graviola que está cheio de fruta, o bairro novo que abriu e o gengibre que agora está bom para apanhar. Coisas tão simples que vindo dela se tornam notícias de verdade. Impossível não se empolgar. Ela perguntava de tudo e de todos. Queria saber de mim, saber dos netos, saber de tudo. Entre uma pergunta e outra ainda dizia que eu estava bonita demais. Meu Deus, quem mais nesta vida me ama deste jeito? Onde eu vou encontrar alguém que fique tão feliz com a minha presença como esta pequena mulher? Ela não é meu cliente, não é meu fornecedor, nem está interessada em likes na rede social, ele quer a mim e isso basta. Em nenhum outro coração eu vou ocupar um lugar tão especial como este que ela me dá. 
Mãe, nada é mais mágico que o momento em que estamos juntas, usufruindo da presença uma da outra. O mundo é cheio de encantos, sem dúvida porém a sua companhia supera todas as outras opções. 
O nome dela é Dona Neusa e tudo que eu quero é um dia ter um coração parecido com o seu.

Leila Rodrigues

Publicado na Revista Xeque Mate - maio 2016 e no JC Arcos

Foto: Eu e ela - Dona Neusa - clicadas por Juliano Costa

Olá pessoal,

falar de mãe é algo tão difícil que por por mais que tentemos explicar o tamanho da sua grandeza, quando terminamos, sentimos que ainda faltam palavras. Hoje falei da minha mãezinha, Dona Neusa. Uma pessoa simples de verdade. Uma leoa quando o assunto é defender sua cria. Mas imagino  de que se eu trocasse o nome da Dona Neusa pelo de qualquer outra mãe os adjetivos continuariam tão adequados quanto. É a maternidade! É o coração desmedido de ser mãe. Hoje é o dia delas! Das nossas rainhas. E eu desejo que você, sendo filho ou sendo mãe, tenha um dia irradiado deste amor inexplicável e sem medidas.

Grande abraço

Leila Rodrigues






terça-feira, 3 de maio de 2016

Em quantos?



Enquanto um conta vantagens, a outra conta quantos faltam, o outro conta quantos vieram e aquele outro conta as moedas para comprar o pão. É conta que não acaba mais. E quem paga a conta é quem ficou para trás. Enquanto um fala a verdade o outro não fala nada e aquele outro fala dos outros. Que falazada!
Enquanto um dá um passo para frente, outros tantos dão dois passos para trás e assim ninguém chega a lugar nenhum. Enquanto um canta, o outro desencanta e nenhum dos dois entende de melodia. Há quem goste!
Enquanto uma faz qualquer loucura para emagrecer, a outra paga caro para engordar. E nenhuma das duas conhece ainda a beleza de ser. Ganhou quem inventou de modificar! Êta mercado danado que sempre arruma um jeito e um lugar para se ganhar!
Enquanto um trabalha, outros se abastecem daquilo que deu muito trabalho para executar.  Enquanto um constrói o outro desvia, enquanto um faz a ponte, outros fazem a cancela e continuamos todos desunidos, desconstruídos de nossas bases. Enquanto um ensina, o outro recrimina e um terceiro assassina. Aprender para quê se vai durar tão pouco? Já morreram a gramática e a inocência. Seria agora a vez da esperança? Eu espero que não!
Enquanto um espera, o outro se desespera e sai fazendo tudo errado. Eu tenho esperança de que um dia tudo se acerte. 
Enquanto um é mocinho, o outro é bandido e na manhã seguinte eles trocam de lugar. E agora? Quem poderá nos defender? 
Enquanto um chega o outro sai e a porta é sempre a mesma. Quem vai ou quem fica são apenas dois lados da mesma moeda. Hoje estou deste lado aqui, amanhã posso estar do lado de lá. Depende apenas do contexto, da necessidade ou de quem está contando a história. E cada um tem certeza de que está sempre do lado certo. Estas são as duas cegueiras do mundo. A certeza e o lado. 
Enquanto um tenta provar que sim, do outro lado alguém se defende, por quê não? Enquanto isso o tempo passa para todos e a vida enche de “poréns”. Desnecessários. 
Enquanto um executa, o outro planeja, o outro orienta e um outro lá de longe acredita e investe. É assim que deveria ser. É assim que deveríamos seguir. Mas para quem não sabe onde quer chegar qualquer lugar serve. Onde vamos parar?

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: Game Age Off Empires - Série de jogos eletrônicos de estratégia para computador (retirada da internet)

Olá pessoal,

Tenho visto amizades de muitos anos sendo desfeitas devido à divergência de opiniões. Me pergunto até onde vai o direito de impor a escolha do outro e vice-versa. Cada um de nós carrega uma história, uma trajetória e um DNA. Não há como querer que o outro atenda às minhas expectativas!!
Ah se somássemos nossas competências e diminuíssemos nossos interesses singulares!!! O quão longe poderíamos ir???

Grande abraço

Leila Rodrigues