terça-feira, 1 de outubro de 2013

Você precisa de quê?




Mulher tem mania de precisar. Basta ver uma vitrine de sapatos que precisa imediatamente de um. É automático! Essa necessidade feminina é tão complexa que só falta a física para tentar resolver, porque a psicologia e a neurologia juntas, não conseguiram.

Mas o fato é que, todos nós, homens e mulheres, estamos sempre precisando de algo. Além de nossas necessidades diárias, claro! Basta trocar dois minutos de conversa com qualquer pessoa e você vai ouvir, "preciso trocar meu carro", "preciso trocar o óleo do meu carro", "preciso ir ao dentista", "preciso cortar o cabelo", "preciso ligar para o fulano", "preciso retomar o inglês", "preciso tirar férias", "preciso parar de fumar", "preciso fazer uma atividade física" ... preciso, preciso, preciso.

Precisar virou meio de vida. Verbo transitivo direto para tudo aquilo que nos falta coragem de começar. Sabemos que precisamos, mas não sabemos precisar. 

Segundo o dicionário precisar é ter necessidade de. E necessidade é uma aspiração natural. Mas aí eu pergunto, será natural necessitar de um sapato novo toda vez que se deparar com uma vitrine? Onde está a naturalidade em trocar o celular sempre que lançar um novo modelo?

Se o novíssimo modelo de celular cedeu seu lugar ao dentista, então "precisar" perdeu completamente o sentido? O consumismo faz com que as verdadeiras necessidades cedam seus lugares aos caprichos de cada um. E não estamos falando só de adolescentes, pessoas fúteis, mal resolvidas e problemáticas. Estamos falando de todos nós! 

Precisamos de muitas coisas e todas elas são necessidades reais. Mas deixamos todas as "necessidades" de lado e avançamos direto para os nossos caprichos. Tornamo-nos crianças, cada uma com sua birra particular pelo seu brinquedo favorito. Seja ele um celular, uma bolsa ou um carro.

E na fila de espera ficam o dentista, o pneu do carro, a caridade, o seguro de vida, a atividade física e tantas outras precisões que elegemos, mas que sabemos que não vamos investir tão cedo. Talvez estas fiquem aguardando na fila até o dia em que precisar se torne desesperadamente o "não dou mais nem um passo sem". Aí sim, vamos fazer o que for preciso.

Enquanto isso continuaremos comprando sapatos, bolsas, celular, tablet. Até o dia em que o dente doer ou o pneu do carro nos deixar na mão. Aí sim, vamos experimentar a verdadeira necessidade. Aquela que já tinha sido esquecida na gaveta.


Leila Rodrigues
Imagem do filme Delírios de Consumo com Beth Bloom