sábado, 26 de novembro de 2016

O melhor de ir



No começo, nas primeiras viagens à trabalho, eu sofria muito. Frio na barriga, tensão, vontade de não ir, medo de acontecer alguma coisa. Um dia me dei conta de que, na minha profissão, viajar seria uma rotina, se é que podemos relacionar viagem com rotina, afinal, cada dia um lugar diferente. Então decidi incorporar a viagem na minha vida e usufruir o melhor dela. 
A cada cidade uma cultura, novas pessoas, novos lugares. Um jeito diferente de fazer as coisas, um pãozinho diferente em cada padaria. Nesses anos todos, descobri um Brasil que eu não imaginava existir. Um Brasil de diversidades, de um povo hospitaleiro e bom, além de lugares  belíssimos. Fiz das minhas viagens à trabalho um grande aprendizado. Aprendi a gostar de São Paulo, essa gigante que, no meu conceito, domina o restante do país e descobri beleza em cada cidadezinha singela da minha região, o Centro Oeste Mineiro. Aprendi que o melhor de ir é voltar modificado.
Hoje sempre que viajo revejo meus conceitos sobre alguma coisa. A distância do nosso habitat nos permite ver as coisas sob um outro ângulo. As coisas, os fatos, a vida. Geralmente refaço minhas listas. Diminuo a lista das necessidades, crio novas prioridades e começo a pensar na próxima viagem.  Me faz bem esse exercício. Volto para casa animada para colocar em prática os desafios que me propus enquanto distante. 
Pode ter sido uma viagem rápida ou longa, isso não importa. O que importa aqui é usar a distância para uma reflexão. Distante dos nossos pertences, das nossas paredes acostumadas conosco podemos baixar a guarda. Aí fica mais fácil deixar-se entrar no novo ambiente  e consequentemente trabalhar ou se divertir. 
Para quem vai a trabalho, o foco ajuda a esquecer a distância de casa e as preocupações com os que deixamos. Quando a casa funciona sem a nossa presença é sinal que aprenderam a lição. Para quem vai a passeio tudo pode virar diversão. A comida, os lugares, as pessoas e até as mancadas. Basta deixar as malas no chão e junto com elas as bagagens da alma. Uma alma leve trabalha ou se distrai muito mais facilmente. 
E depois do trabalho feito com gosto e qualidade; depois da diversão, do riso e de liberada as endorfinas adormecidas, refletir será apenas uma consequência. Um presente que nos damos. Um convite ao recomeço de alguma coisa, nem que seja apenas uma melhor versão de nós mesmos. 

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem da Internet


Olá pessoal,

quem viaja a trabalho sabe que não há glamour nenhum em passar a noite em um quarto bege que não tem identidade. É tudo frio. Saudade, cansaço, distância, vazio… esses são os companheiros dos ambulantes. E quando você não em outra saída, junte-se a eles e faça da viagem a sua melhor companhia. Foi o que eu fiz durante as minhas andanças e o que eu sempre falo com a minha equipe que ainda viaja muito. Seja qual for o motivo da sua viagem, aproveite para viajar com ela. 

Grande abraço

Leila Rodrigues


sábado, 19 de novembro de 2016

Metamorfose



Não tem muita explicação. A coisa acontece e pronto. Um dia você se pega ouvindo mais e falando menos; percebendo mais e opinando cada vez menos. 
Alguns chamam isso de maturidade, outros de experiência. Eu gosto de dizer que é o tempo da serenidade que chegou. 
O tempo da serenidade chega mansinho, sem alarde. Geralmente fruto de nossos silêncios e de nossas vivências. E quando ele chega, muitas coisas perdem o sentido e outras novas tomam seu lugar.
As frescuras da moda, por exemplo, não cabem no tempo da serenidade. A altura do salto, o tom da gravata; a ultima coleção. Todos eles saem e entram o conforto e a leveza nas nossas escolhas. A pressa de chegar se rende ao respeito pelos nossos limites.  E a prepotência do poder perde o sentido para o humano que existe dentro de nós.  No tempo da serenidade os verbos controlar e exigir soam estranho aos nossos ouvidos. É a grande metamorfose humana. Quando a velha e pesada roupa dos títulos, aquela que nos levou a atingir níveis cada vez mais altos, já não nos cabe mais. É quando voar deixa de ser para atingir o topo e passa a ser apenas para descortinar a paisagem. 
E quando o tempo da serenidade chega, estar sentado no trono ou não, não faz a menor diferença. A esta altura você já terá naturalmente se tornado um líder. Pode caminhar tranquilo pela calçada da vida, que seus seguidores encontrarão seu rastro. 

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Image da Internet

Olá pessoal,

mudanças fazem parte de nossas vidas. Ainda que ficássemos parados no mesmo lugar, mudamos de opinião, mudamos de lado, mudamos nossos gostos no decorrer dos nosso dias. Mas a grande mudança do homem ocorre quando ele se percebe humano no real sentido da palavra. A isso eu chamo de metamorfose. Que ela aconteça com você e te faça um ser humano melhor e mais feliz.

Grande abraço

Leila Rodrigues



sábado, 5 de novembro de 2016

Ser em extinção



Ser em extinção

Numa sociedade em que a competição é cada dia mais acirrada, o mercado cada vez mais exigente e a concorrência cada dia mais inteligente, é preciso saber tudo de tudo. Se ontem bastava ser bom, hoje é preciso ser ótimo. É preciso se manter à frente das exigências da sua área de atuação. O básico virou banal. O complexo de ontem é o basicão de hoje e o démodé de amanhã.
Tudo isso é fato. Temos que buscar formas de sobreviver nesta selva. O lado B de tudo isso é que, esta busca desenfreada pelo sucesso ultrapassa os limites da sanidade. Onde é que está escrito que precisamos ser bons em tudo? 
Tenho visto pessoas fazendo um esforço sobre-humano para serem bons pais, bons filhos, bons amantes, bons alunos, excelentes profissionais, levar uma vida saudável e… ufa! E ainda correm daqui e dali para estarem em tudo e participarem de tudo. É cansativo só de ouvir!
 A palavra networking subiu à cabeça das pessoas. O que vemos são show-man e show-girl ambulantes. Atitudes premeditadas e comedidas que não passam de um plano para se chegar ao podium. Até o "bom dia" sorridente é premeditaado! Encontros e contatos são minuciosamente arquitetados. Elogios são distribuídos como fichas de entrada para um mundo melhor. Tudo faz parte da conquista do troféu de bem-sucedido! 
Onde estão as pessoas normais? Aquelas que têm a grandeza de dizerem que não sabem fazer algo, que perderam alguma coisa ou que se deram mal. Onde está você, ser em extinção?! 
Procura-se alguém que possa compartilhar verdades e não apenas vantagens. Procura-se por pessoas que saibam rir e chorar, perder e ganhar. Procura-se por gente que se machuca, que se esfola, que está na fila, que pede ajuda. Procura-se pessoas, não um case de sucesso. 
Ando correndo de quem está pronto, inteiro, formado. Tenho pena desses feras, perfeitos, acima de qualquer suspeita. Pessoas impecáveis, super-hiper-mega organizadas e produzidas me causam pânico. Tenho medo de pegar a doença da perfeição e nunca mais ser eu mesma. 
Mulheres perfeitas à base de fluoxetina. Homens bem-sucedidos escravos de um comprimido azul. E ninguém toca no assunto do que não deu certo. Fazem-se caras e bocas, sorrisos e poses. Tudo isso para disfarçar que, por trás dos holofotes, somos todos iguais! 

Imagem: Zygmund Bauman - sociólogo polonês autor de vários livros, dentre eles Amor Líquido.

Leila Rodrigues

Olá pessoal,

ser em extinção é um dos primeiros textos meus. E eu continuo com medo das pessoas perfeitas. Zygmund Bauman, filósofo polonês  que aparece na imagem acima, tem uma frase que eu gosto muito: "A preocupação com a administração da vida parece distanciar o ser humano da reflexão moral.” Pessoas excessivamente preparadas e retocadas para dar certo não me inspiram confiança. É bom se cuidar, é excelente ter foco e disciplina; mas robotizar-se para atingir seus objetivos, aí é perder o sabor de viver! Continuo preferindo aquelas pessoas que quebram o salto de vez em quando e ainda conseguem rir de si mesmas. 

Grande abraço



Leila Rodrigues

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Para hoje



Oi Vó,

Para mim não faz diferença se você nasceu de novo, se virou um cachorro ou se vive feliz em uma outra dimensão. Eu não pretendo te incomodar. Mas de vez em quando eu gosto de falar com você. Eu também não sei se você me houve, seria muita pretensão minha achar que você está a meu dispor. Mas é fato que eu gosto de trocar algumas poucas palavrinhas com você. 
Quando estou muito feliz,  passo ali na padaria e compro  um picolé, por exemplo. Nesta hora eu sempre me lembro de você e digo: "Vó, tá delicioso! Íamos nos divertir!” Também acontece quando tenho que entrar em uma reunião difícil, eu simplesmente te chamo: "Vó, vamos comigo! Eu preciso enfrentar aqueles leões. E você sempre soube fazer isso!"
Nunca questionei se você me ouviu ou não. E não pretendo classificar esses meus lampejos de diálogos com você em nenhuma categoria. Porém, me sinto bem quando os faço, revigorada de alguma forma que eu não sei explicar.  Acontece também com meu querido tio Roberto. Toda vez que canto me lembro dele e da alegria que ele distribuía ao seu redor. Aí canto mais forte ainda, como forma de agradecer por ter conhecido este homem incrível. 
Então vó, neste dia em que os vivos se dedicam a homenagear seus mortos, algo que eu nunca consegui entender muito bem, eu  não tenho nada para dizer que eu não tenha dito enquanto você viveu conosco. Nem para você, nem para o tio Roberto, nem para nenhuma das muitas pessoas queridas que se foram. O que eu tenho em mim é alegria e contentamento por ter convivido tão de perto com você. A pessoa mais integra e mais amorosa que eu já conheci. E uma saudade que nunca terá fim. 
Mas vai que você esteja me ouvindo, fica o meu breve recado: 
"Oi Vó, seja feliz onde você estiver! Luto para ser um dia igual a você!" 

Leila Rodrigues

Foto: Vinícius Costa

Olá pessoal,

Para a mãe que perdeu um filho, todos os dias são de saudade. Não importa se é finados ou não. Para quem perdeu seu grande amor, finados é só um dia vermelho no calendário porque a dor da saudade acontece na calada da madrugada quando se procura o outro para um abraço. 
Então como eu disse no texto, sempre tive um pouco de dificuldade de entender este dia. Respeito as opções e expressões de cada um. Todos nós trazemos no peito uma saudade, essa dor latente que não tem medicamento que cure. Cada um a seu modo vai tentar carregar essa dor pelos dias afora. Acomodar a saudade no meio da correria dos dias comuns, da vida que segue. Para todos que hoje choram a perda de uma pessoa querida, deixo aqui o meu abraço sincero.




Leila Rodrigues