quarta-feira, 22 de junho de 2016

Tudo junto e misturado



Dizem que é rodeio, que é festa do peão, do agricultor e do produtor rural. Mas de rural mesmo tem pouco. Senti falta do gado, dos cavalos bem cuidados e dos concursos de animais. Soube que aconteceu porém eu não acompanhei. Vi lindos e variados chapéus que ornavam os rapazes de jeans super-justos e fivelas grandes. E também vi belas montarias. Um espetáculo à parte.
As mulheres esqueceram a roça e usaram de tudo. Plumas, peles e paetês; tudo no mesmo lugar. Justos, curtos, decotados e bordados que nada deixavam a desejar. Look verão, alto-verão, outono e inverno na mesma noite e no mesmo lugar. Tudo junto e misturado. O importante era festejar. 
Alguns foram para ver. Muitos foram para ser vistos e todos foram para se divertir. 
E como os gostos hoje são bem ecléticos era preciso agradar a todos. E agradaram! O trio-elétrico entreteve quem não gostasse do sertanejo. A boite tinha funk, pop e aquelas músicas de poucas palavras que a moçada gosta de dançar. Então, gregos e troianos acharam seu lugar e se divertiram. 
E se o assunto é música podemos dizer que tivemos grandes  produções. Para tristeza das mais velhas, as novinhas são sensacionais. Aquele 1%  é vagabundo e  os outros 99% estão loucos para chegarem lá. A vaca foi para o brejo mesmo! E para deixar todo mundo feliz "ainda ontem choramos de saudade" das antigas e boas canções sertanejas. 
O fato é que o tempo passa e um dia percebemos que "os donos do pedaço" já não somos nós. São eles, nossos filhos, sobrinhos e demais colegas  da mesma idade. As meninas de cabelos longos e os rapazes de barba cerrada. Não importa se nós achamos a música sem conteúdo ou a mania de selfie um disparate. Agora o tempo é deles e são eles que ditam as tendências e as verdades breves. Eles elegem o que é bom ou ruim  e os padrões que regem as escolhas de hoje muito provavelmente não tem nada dos padrões que escolhemos lá atrás. Para nós país, sempre fica a pergunta: “Será que já ensinamos tudo que precisava  ser ensinado?”  Provavelmente não. Mas chega um momento em que  a vida se encarrega de ensinar tudo aquilo que precisamos aprender. Foi assim conosco e será assim com eles. É preciso aceitar que, daqui para frente eles seguirão com suas próprias asas. Resta-nos assistir com a sabedoria de quem já passou por isso e sabe que logo ali na frente, os desafios serão bem maiores que o tamanho da fivela. 

Leila Rodrigues

Imagem da Internet: http://www.divinaexpo.com.br/#!fotos

Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 21/07/2016








Olá pessoal,

Tem 20 anos que eu moro em Divinópolis e é a primeira vez que fui à Divina Expô. Obrigada aos amigos que me incentivaram a ir. Foi uma grande festa e eu me diverti de verdade. 
Ficam as lições… como em cada canto desta vida.

Grande abraço e que venha 2017

Leila Rodrigues


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Cabeça feminina




Procurou na bolsa, não estava lá. Apalpou os bolsos. Também não estava. Parou, olhou para um lado, para o outro, entrou na primeira loja. Não queria comprar nada, nem sequer prestou atenção no que vendia ali. Pediu licença e colocou a bolsa no balcão. Foi tirando coisa por coisa. Saiu celular, saiu um outro celular, carregador, capinha extra de celular, batom, óculos de sol, limpador de celular e carteira. Sim ela tinha uma carteira! Tirou outra bolsa (menor de carregar as aspirinas, mais um antialérgico (poderia precisar), colírio, remédio para prisão de ventre e um relaxante muscular). Nada de achar! Continuou tirando as coisas da bolsa. Saiu mais uma bolsinha, agora com caneta, lapiseira, borracha e um bloquinho de anotações que nunca foi usado. Detalhe, ela não estuda há anos! O balcão ficou pequeno, pediu uma sacola e colocou tudo que já havia tirado dentro da sacola.
Continuou a saga. As chaves, Chave de casa, chave do escritório, chave da casa da mãe (é que ela está velhinha, posso precisar entrar lá a qualquer momento), chave do carro e chave do cofre do patrão. A esta altura a balconista já estava entrando em pânico, tentando ajudar e ao mesmo tempo se livrar dela que havia tomado todo seu balcão. Quis ser educada, trouxe uma água, ofereceu cadeira. Nada de achar.
Ligou em casa. A empregada demorou 15 minutos para atender.  - Procura na gaveta do meu criado. Atrás do sofá. Entre a poltrona e a minha cama. Na geladeira. Na gaveta das calcinhas. Nada.
Desesperada começou a suar frio. A pressão ameaçou baixar. Aceitou um café. Rezou. Ligou para a melhor amiga. 
- Como é que pode? Um investimento tão alto. Ainda nem acabei de pagar as prestações e já perdi. Já imaginou quando meu marido souber? Vai me matar! Amiga, torce por mim que o meu dia acabou. Vou voltar para casa, tomar um calmante e dormir. Desisti da academia, do médico que eu tinha hoje, de visitar a tia Luzia no hospital... Hoje eu não quero mais nada!
Colocou de volta todos os pertences da bolsa, agradeceu a atendente. 
- Muito obrigada amiga! Você me acolheu em uma hora muito difícil da minha vida. Valeu a torcida.
Ajeitou a roupa no corpo, limpou as lágrimas para sair e levou a mão na cabeça para ajeitar os cabelos. 
- Oh! Achei! Meu “Raiban” amado! Seu safado, estava aqui na minha cabeça este tempo todo! Paguei caro para você vir dos "States" e você faz isso comigo?

Leila Rodrigues

Imagem da internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis


Olá pessoal,

não importa se você é o homem ou mulher. Não importa a idade que você tenha, um dia a sua memória vai te trair. É fato! É parte do processo hormonal. E aí é ferro que fica ligado, luz acessa, porta sem trancar… enfim. Sãos os sinais do tempo. Os letais. Percebo que nós mulheres conseguimos confundir ainda mais as coisas, principalmente por essa nossa mania de querer fazer várias coisas ao mesmo tempo. Um dia embola tudo e não sai nada direito. É o preço que pagamos pelas nossas urgências.
Este texto é para todos nós, homens e mulheres que já experimentamos este momento cruel com nossas memórias. Que a gente consiga foco, que a gente consiga organizar as ideias, mas sobretudo, que consigamos achar graça em nós mesmos. Afinal, rir ainda é um bom remédio.

Grande abraço


Leila Rodrigues

domingo, 12 de junho de 2016

Sinopse



Se eu te contar que moro em Bangladesch talvez tudo acabe por aqui mesmo. Não é verdade, mas seria bem mais fácil. Pagaríamos a conta, ainda sorridentes e ao cruzar a esquina deixaríamos este momento para trás. Eu não teria que pensar se amanhã você iria me ligar ou não. Eu não teria que me preocupar em comprar um vestido preto para te impressionar, porque os homens adoram vestidos pretos e eu não tenho nenhum. Simplesmente ficaríamos aqui por mais algum tempo e sem a pretensão de te agradar, eu te contaria como foi a minha viagem a Cuba, mesmo sem saber se você tem algum interesse em Cuba.
Mas e se eu te contar que aliso os meus cabelos, que tenho mania de dormir com o dedo no ouvido e que gosto de acordar de madrugada para escrever, você vai sorrir e achar tudo isso uma graça, porque tudo no começo tem graça, até a coisa mais sem graça do mundo. 
Embora o seu sorriso me seja tão convidativo a continuar a conversa, ainda não decidi se te conto ou não. Não sei se mudo o rumo dessa história a partir da página um, ou se permito que ela se escreva do jeito que tem que ser. Talvez seja melhor contar de uma vez e assim não precisarei parar o meu tratamento noturno com creme de abacate no rosto. E nas férias, não vou precisar procurar lugares românticos com chalés e lareira. Menos trabalho.
Só vou te ouvir mais um pouco, por que gostei quando você falou que tem o CD novo do Caetano. Você nunca foi a Cuba, mas conhece a história melhor que eu que fiquei dois anos lá! Ai meu Deus! Por favor, pare logo de me dar atenção, senão eu não vou conseguir te contar os meus defeitos e amanhã toda vez que o telefone tocar eu vou querer que seja você! 
Aqui estou eu fazendo a sinopse de um livro antes mesmo dele ser escrito. Repara não, são os tombos da vida que fizeram isso comigo.
Será que vou ter que começar a chorar aqui agora no meio do bar e dizer que sou depressiva, desde os meus 13 anos, porque aí você para de ser lindo, para de ser educado e vai embora de uma vez?  
Pior de tudo é que mesmo que eu pense isso a minha boca está me traindo! Ela não consegue dizer quase nada a não ser sorrir. 
Você nem imagina, mas o meu cartão de crédito está estourado, preciso urgentemente trocar os dois pneus do meu carro e amanhã eu pego o plantão às 07:00 da manhã. Mas não sei por que fiquei feliz em saber que estivemos no mesmo show do Roger Waters, embora um nem soubesse da existência do outro. 
Que coisa mais louca isso! Se eu deveria sair correndo a vontade passou e o tempo também. Olha só, tem mais de três horas que estamos aqui conversando e eu nem vi o tempo passar. Nossa, o bar já está fechando! E eu estou indo embora com a sensação de que eu me esqueci de te contar alguma coisa! 

Leila Rodrigues


 Olá pessoal


Começar de novo não é tarefa fácil. Acompanho alguns amigos e sei o quanto isso exige coragem e um desprendimento gigantesco. É preciso colocar o passado em seu devido lugar e deixar o coração aberto para que o novo aconteça. Para voces, meus amigos guerreiros que eu tanto admiro, o meu carinho e o meu abraço. Vocês são a prova viva de que a felicidade é possível.

E que o amor “acometa" a cada um de vocês.

Grande abraço

Leila Rodrigues



terça-feira, 7 de junho de 2016

O amor nosso de cada dia



O amor nosso de cada dia

Promete que se eu falar de amor você não vai rir de mim? Não vai dizer que isso é coisa de adolescente? Nunca fui ligada a datas, mas hoje me deu vontade de falar de amor. Prometo não ser utópica, nem falar de eternidade. Não confundo amor com paixão. Hoje eu sei separá-los muito bem.  Eu já passei da fase de escrever frases no fim do caderno contornadas de coração. Hoje nem tenho mais caderno e meus desenhos de coração não seriam mais tão redondos quanto aqueles. 
É fato que não me sobra espaço na mente para lembrar de enfeitar a sua xícara no café da manhã com flores ou para simplesmente te dar um beijo demorado depois do almoço corrido de uma quarta-feira qualquer. Porém, decidi que não quero falar de amor depois que você se for. Não quero chorar pelos cantos declarando ao acaso os poemas que deixei de dizer para você. Não quero buscar você nas flores ou no canto dos pássaros sem antes buscar a sua carne e o seu osso nos dias comuns.  Não quero provar da saudade como prato principal, porque eu mesma não saboreei a ceia da tua presença.
Não que o romance tenha morrido, ele ainda vive, apenas intimidou-se. O romance mora no olhar que cruzamos e dispensa palavras, na mão que encontramos debaixo da mesa, no beijo no elevador, no momento em que você tenta, desajeitadamente, acalmar meus cabelos esvoaçantes. 
O amor que quero falar é este que faz com que eu queira que o tempo passe logo para te contar como foi interessante a aula de economia. É quando não consigo planejar uma viagem sem colocar você ou quando fico orgulhosa dos nossos filhos se parecerem tanto com você.
Dizem que o cotidiano é o devastador do amor. Que de tão comum, vamos decorando o outro e aí o romance se esvai. Eu acredito nisso, mas insisto em  fazer o jogo inverso. Quero que o cotidiano se alimente de nós dois, de tal forma que é ele quem vai ficar viciado em nós! 
Então falar de amor será falar a nossa língua, nosso código, nossas besteiras diárias. Apenas isso. 
Que a poesia de Fernando Pessoa se incorpore em nossas vidas e dizer seja desnecessário para nós dois.

Leila Rodrigues

Imagem da Internet


Olá pessoal,

Atendendo ao pedidos dos amigos, vou repostar alguns textos que selecionei.
Falar de amor é algo muito difícil. O amor é peculiar. O amor é de cada um. O amor no começo é um, no dia-a-dia é outro e no final é outro completamente diferente. Hoje estou falando do amor cotidiano, do amor que acorda cedo e não tem tempo para declarar-se. Do amor rodeado de filhos, livros e afazeres. Apesar das tantas ocupações ele existe e está presente em cada instante. E foi exatamente isso que eu quis dizer no texto acima.
Também não poderia deixar de agradecer a todos que estão compartilhando os textos nas suas redes sociais e multiplicando o número de leitores do palavras. Muito obrigada a cada um de vocês. É assim que o Palavras está crescendo. Naturalmente. Como deve ser.

Grande abraço 



Leila Rodrigues

domingo, 5 de junho de 2016

Culpa da modernidade




_ Morreu! 
_ Não. Mas ouvi dizer que está muito mal. Coitada! 
_ Será que é alguma doença grave ou velhice mesmo?
_ Como assim velhice? Se a mãe dela ainda é viva?
_ É mesmo! Não tinha me atentado para este detalhe. Certamente deve ter adoecido.
_ Pouco provável! Cheia de doutores na família. Se bem que a doença é inerente…
_ Dizem que é depressão.
_ Eu acredito.
_ Não suportou a evolução. 
_ Foi demais para seu coração enfraquecido.
_Tudo começou com o orkut. Depois vieram o facebook e por último o watsap. Ela não tinha como aguentar isso.
_ É muito vc, tb, tbm, cm, pq, s, n.
_ Sem contar os kkkkkkkk. Esse ai acabou com ela.
_ Eu soube mesmo que a pressão subiu e ela foi parar no hpt. Desculpe, no hospital.
_ Estes foram apenas alguns dos agravantes. Ela não se conformou mesmo foi com o estrangeirismo. Este sim lhe custou um câncer.
_ Me lembro. Mouse, sandwich, deletar, software, design, chech-in
_ E “for sale” em tudo que é loja. Coitada!
_ As vezes ela se queixava comigo que estava morrendo aos poucos.
_ Foram muitas teses e doutorados tentando recuperá-la, mas o movimento inverso foi mais forte.
_Todos nós sabíamos o quanto tudo isso a abalava mas ninguém interviu a seu favor.
_ Não é interviu sua imbecil! É interveio.
_ Lá vem você me corrigir! Está parecendo com ela!
_ Mas o verbo intervir deriva do verbo vir e não do verbo ver. E a conjugação de verbos compostos deve seguir a conjugação do verbo simples.
_ Agora você comeu a coitada!
_ Escuta aqui sua idiota, eu não precisei comer a Gramática para conhecer a língua portuguesa! _ _ Eu apenas não parei de aplicar o que eu aprendi.
_ Então vamos mudar de assunto senão vai virar briga. Vai visitar a pobrezinha?
_ Só se você for comigo.
_ E se eu falar errado? E se ela me corrigir?
_ Fica caladinho…
_ Mas Dona Gramática adora conversar.
_ Eu digo que você está com dor de dente. Tudo culpa da modernidade.



Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos
Imagem da Internet



Olá pessoal,

Tive alguns problemas com o blog, por isso não tivemos postagens nas três ultimas semanas. Agora já está tudo bem. Peço desculpas aos que já estão acostumados a visitar o palavras. Infelizmente ainda sofremos com invasão de nossos sites. 
Sobre o texto de hoje, imaginei nossos heróis batendo um papo. Cora Coralina, Cecilia Meireles, Drummond, Veríssimo e tantos outros defensores da nossa gramática. 
Obrigada pelo carinho de sempre.
Grande abraço

Leila Rodrigues