domingo, 18 de novembro de 2018

Pra valer a pena



E então alguém pergunta, vale a pena? A pergunta nem é para você. Mas você vai embora com ela na cabeça. E a viagem é longa. Você faz todas as substituições possíveis e imagináveis. Você se pergunta se vale a pena a sua vida, o seu trabalho, o seu sacrifício diário, o seu estresse, as suas “cedidas”, enfim, o “valer a pena” toca nas nossas feridas. E, geralmente, terminamos, sem saber se, realmente, vale a pena. 
Vale a pena tanto sacrifício? Vale a pena esperar? Vale a pena esbravejar? Vale a pena correr tanto assim? Vale a pena gastar sua energia com isto? Vale a pena o preço que se paga? Vale a pena o cansaço? Vale a pena sofrer? 
Sabemos que tudo nesta vida tem um preço. E como bons pagadores, pagamos, sem perceber, pelas nossas escolhas. Muitas vezes pagamos caro demais. Outras vezes pagamos por tempo demais. De uma forma ou de outra, sempre pagamos. A vida não permite devedores. Ela nos cobra de alguma forma. E nunca esquece os juros. 
Contudo, o “nove’s fora” da vida é saber se vale a pena? 
Vale a pena extrapolar seus limites e depois pagar caro para consertar o estrago? Vale a pena impor suas vontades e acabar sozinho no meio da multidão? Vale a pena o cansaço, a dor, a inércia, a mentira, a teimosia e o ciúme? Será que vale a pena ganhar os presentes e perder as presenças? 
Vale a pena ganhar o sucesso e perder a saúde, a família ou as pessoas que amamos? Vale a pena o topo, se junto com ele está a solidão? 
Pra valer a pena, há que ser leve. Há que ter sorriso, choro, emoção, noite de sono tranquilo. Pra valer a pena, é preciso que haja abraços calorosos, olhares festivos e braços que aconcheguem de verdade. Pra valer a pena é preciso que haja reconhecimento, gratidão, compaixão ou alguém que diga simplesmente, muito obrigado. Pra valer a pena, tem que correr nas veias, tem que brilhar os olhos e disparar o coração. Pra valer a pena tem que haver o sorriso de alguém que amamos na linha de chegada, ou do outro lado do mundo torcendo por nós.  Pra valer a pena é preciso haver amor. 
Caso contrário, todo sacrifício será em vão. Caso contrário é tudo obrigação, tarefa cumprida para ganhar algo em troca. Moeda. Acordo que fazemos com a vida para obtermos o que nos convém. E a conveniência? Ah essa está muito longe de ser felicidade. Está muito longe de fazer valer a pena! 

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis

Olá pessoal,

Para mim, vale a pena viver, vale a pena amar e vale a pena se sacrificar quando a causa é nobre. Mas esta crônica surgiu de uma conversa com uma amiga que me dizia que “não sabe se vale a pena”. A conversa foi longa, uma discussão filosófica. Ao final, fomos embora com a certeza de que muita coisa vale a pena, só não vale a pena carregar pesos inúteis. Fica a reflexão. 

Grande abraço

Leila Rodrigues



segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Queridos lobos


Aqui de fora, do lado que se pode ver, tem uma pessoa lutando como louca para dar conta de todos os seus papéis. Não podemos reclamar de nenhum deles. Todos são  papéis que escolhemos, que assumimos e que não abrimos mão.  O papel de pais, de esposa ou de marido, o papel de filhos, de empresários, de profissionais, sejam estes bem sucedidos ou não, o papel de defender alguma causa social, de participar de uma instituição e ainda o papel de cidadão em um país com as deficiências do nosso. Enfim, ser a pessoa que somos dá um trabalho danado. Mas é um trabalho bom! Trabalho escolhido por livre e espontânea vontade, ainda que seja tão difícil equilibrar tudo. Todos conhecem a pessoa madura e forte na qual nos tornamos.
Mas dentro de cada um de nós,  aqui deste lado que só eu e você conhecemos, ainda falta muito!
Dentro de cada um de nós, escondido e encolhido moram nossos medos, nossas pequenices, nossas falhas. Aquelas que ainda não conseguimos vencer. Nossos desejos proibidos, nossas intenções negras, aqueles pensamentos sórdidos trancados a sete chaves. É lá dentro, lá onde ninguém chega, que residem nossas verdadeiras máculas. E torcemos para que Deus seja tão ocupado que não tenha tempo de conhecê-las. 
A maldade, a vaidade, o ciúme e a inveja. Este lobo mal que alimentamos silenciosamente. Ah como é difícil conviver com essa verdade! Como é difícil aceitar que somos tão frágeis e que o caminho da verdadeira evolução é longo! 
É certo que não somos só isso!  O que nos salva é que, na outra jaula de nossos corações, reside um lobo bom. Capaz de amar e de se compadecer. É ele que não nos deixa por em prática tudo que pensamos. É ele que, entre um dia e outro, acorda nossos sentidos e não nos deixa cometer um desatino. É ele que nos dá prudência, sabedoria, discernimento, razão e afeto na proporção certa. É ele que nos permite viver nossos papéis. É ele que nos silencia na hora da briga e nos dá voz na hora da defesa. É ele que nos mostra o caminho e nos traz de volta à nós mesmos.  Aqui reside a nossa lucidez, a centelha de luz que carregamos. A verdadeira e silenciosa bondade. A que luta contra nossas vaidades e pequenices. E é ele, este pobre lobo bom que carregamos, quem devemos alimentar todos os dias. 
Difícil mesmo é saber qual dos dois tem sido nosso guia. 

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos

Olá pessoal,

o ser humano tem brigado mais que o normal, tem se ofendido mais e tem ferido o outro com mais facilidade. Nesses últimos dias, aqui no nosso amado e idolatrado país, temos assistido brigas homéricas em função da política. Temos visto lobos ferozes, esbravejando, rosnando e mordendo, na tentativa louca de provar que o outro está errado em suas escolhas. Vindos de todos os lados eles atacam e pervertem. Alimentados pelo ódio, pela descrença ou pelo cansaço, eles brigam como se estivessem num ringue, onde o vencedor tem que comer o outro vivo até que não lhe sobre absolutamente nada, tampouco dignidade. 
Existe um lobo bom morrendo e sede e fome, alimente-o!

Grande abraço


Leila Rodrigues

Das dificuldades da vida


Não é difícil para mim, acordar cedo e ir  trabalhar. Não é difícil para mim, resolver conflitos, orientar pessoas, receber clientes e ajudá-los a resolver seus problemas. Também não é difícil para mim, chegar cansada em casa e ainda arrumar o jantar. O prazer de ver a família reunida, jantando, supera qualquer cansaço. E assim, movidos pelo amor às pessoas e às nossas causas, não é difícil viver. 
Não é difícil viver sozinho e não é difícil criar uma família. São propósitos de vida, portanto imagino que não sejam difíceis para  quem se propõe vivê-los. 
Não é difícil ser um cidadão comum. Pegar fila, esperar a minha vez ou falar a mesma coisa muitas vezes nas repartições públicas. Enquanto cidadão, valho tanto como qualquer outro e isto é bom. Me põe no meu verdadeiro lugar.
Não é difícil cuidar dos nossos pais, tampouco dos nossos filhos. Por mais que haja dificuldades, é tanto amor envolvido que tudo se ajeita. 
Difícil é suportar os entraves, disfarçados de pessoas, que surgem. Isso é difícil! Gente mal educada, que atravanca os processos, que nasceu para complicar o que já estava resolvido, isso é difícil! Difícil é ter que dar satisfação da sua vida para quem não foi convidado para fazer parte dela. Difícil é ter que conviver com pessoas que “não suportam” a nossa felicidade. Difícil é ter que “pisar em ovos” com pessoas dispostas a explodir a qualquer momento.  Ah como é difícil! 
Difícil é suportar pessoas que só tem olhos para seu próprio umbigo. Só enxergam a si mesmas. Seus problemas, suas causas, seus atributos, suas escolhas. Essas são insuportáveis. Difícil é ter que conviver com quem não sabe ganhar, nem tampouco perder. Quando ganham são sarcásticas, quando perdem são céticos. 
Difícil mesmo é conviver com essas pessoas e enxergar o lado bom delas. Isto é o mais difícil de tudo! É transcender as fraquezas do indivíduo e chegar a um lugar que ninguém conhece (ainda). Como assim, se eu ainda não transcendi nem as minhas próprias fraquezas? 
Difícil é amanhecer disposto a fazer a sua parte e esbarrar nestas pessoas. Difícil é saber conduzir nossas vidas e não permitir que essas pessoas nos roubem nossa energia, nem nossa alegria de viver. Isso é evolução da espécie humana. E talvez explique a existência de todas essas pessoas em nossas vidas. Só se evolui com provações! Aí estão elas! 


Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos
Imagem: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/ecoturismo/eco-esportes/eco-esportes.html Rapel, um esporte belíssimo  e muito difícil (para mim)

Olá pessoal,

O meu sonho de escalar uma montanha por enquanto é só um sonho. Sou apaixonada por altura e o meu próximo passo será pular de para-quedas. Um dia chego à montanha!
Quanto à crônica de hoje, cada um no seu canto, sofre seu tanto! Vocês aí, com suas dificuldades e eu aqui com as minhas. Talvez o que seja difícil para mim, não seja tão difícil assim para você e vice-versa. 
O importante é compreendermos nossas “dificuldades" para criarmos mecanismos de combate a estes vilões silenciosos. 
E tudo há de ficar bem. Para mim, para você, para todos nós!


Grande abraço



Leila Rodrigues