domingo, 20 de julho de 2014

Pelo fim das listas




Ontem encontrei a Glorinha. Boa pessoa ela! Tranquila, sempre em busca de alguma coisa melhor.  Ela se queixou que queria procurar um emprego melhor, pois já estava no mesmo emprego há muito tempo. Também comentou que queria fazer uma atividade física porque já estava acima do peso. Indiquei alguns nomes e ficou nisso.
No carnaval também encontrei a Glorinha e ela contou que ainda não havia começado nada porque janeiro tinham sido férias e ela resolvera esperar o carnaval. Passou o Carnaval e ela enxergou que a semana santa estava próxima (só ela enxergou isso) e preferiu esperar para começar depois da semana santa. Mas aí maio começou com feriado prolongado e em seguida foi o aniversário dela (que na cabeça dela também virou um feriado prolongado) e quando ela percebeu já era a copa.
Então, segundo a última estatística da Glorinha, já que a copa acabou no meio do mês, em agosto ela vai procurar emprego, iniciar uma dieta, praticar atividade física e... Viver.
A Glorinha não sabe ainda, mas esse encontro foi muito importante para mim. Estou até agora questionando meu lado "Glorinha" pelas coisas que eu me prometi fazer e não fiz. Inglês, Pilates, natação, poupança, visitar fulano, ler o livro tal, enfim todos nós temos uma lista de coisas que colocamos na fila de espera de nossas vidas. O problema é que a fila não anda! Sequer rasteja!
Será que é mesmo por livre e espontânea vontade que fazemos essa “pseudolista” de promessas ou será que é para atender a uma sociedade que exige que sejamos tudo isso? Talvez seja para provar para nós mesmos que somos muito bons e que um dia daremos conta de tudo. Ou também pode ser que acreditemos que ao fazer a lista, as coisas aconteçam por osmose. Só pode ser!
A Glorinha mexeu tanto comigo que depois de dialogar muito com a minha lista eu tomei três atitudes. A primeira foi riscar a metade das minhas promessas que de cara eu percebi que jamais ia cumprir. A segunda foi resolver umas três coisas que eram primordiais. E a terceira atitude foi olhar para o resto da lista e colocar um pouco de razão e atitude em cada item.
Vamos ver se agora a Glorinha resolve. Ela, eu, você, o meu vizinho, a nossa cidade e este país inteiro que até agora ficou parado esperando a próxima festa. Porque de boas intenções e grandes listas ninguém sobrevive, ninguém cresce, ninguém chega a lugar nenhum.

Leila Rodrigues

Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 15/07/2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

O canto do Gigante




Gosto de aperto de mão. Mas de aperto de mão de verdade! Inteiro, forte, consistente. Aperto de mão com pegada! Tenho dificuldade quando encontro alguém que não cumprimenta com vontade. Preferia que ficasse só no oi e não me estendesse a mão, já que não posso sentir firmeza no toque. Mas isso faz parte de mim e vai muito além do aperto de mão. Não sei estar em lugar nenhum sem fazer parte. Não sirvo para ser enfeite. Não me incomodo nem um pouco em ser figurante, em fazer parte da plateia, mas gosto de participar.
O envolvimento é do ser humano. Acontece e pronto. A pessoa envolvida não se contenta no seu encanto. A pessoa envolvida quer mais! Na hora do jogo torce, na hora do gol abraça, na hora do aperto compartilha, na hora do choro abraça de novo! É assim! Sem explicação, sem que isso signifique que ela quer algo em troca.
Vivemos neste sábado uma emoção indescritível com o jogo do Brasil. E ainda que eu entenda muito pouco de futebol, foi impossível não sentir frio na barriga, não torcer, não suar de expectativa pelos meninos de verde e amarelo. Tentei não assistir e não ouvir, mas foi impossível porque cada casa tinha alguém acompanhando, torcendo e tecendo seus comentários. Naquele momento, fomos todos técnicos, juízes, comentaristas e porque não um jogador a mais. É quase impossível não se envolver.
O que eu penso é que se conseguimos nos envolver tanto no momento do jogo, se conseguimos ser um só para torcer, porque não conseguirmos nos envolver de verdade no momento de escolher nossos representantes?  No momento de exigir qualidade, de negar o “jeitinho”, de abrir mão do benefício próprio em benefício da sua cidade, do estado e da nação? Sabemos fazer bonito no momento de festa, não podemos fazer tão bonito quanto pelo nosso país?
Tenho visto turistas estarrecidos com o clima, com o riso brasileiro, com a festa, com a liberdade de ir e vir, de comemorar; tudo isso são coisas que eles não têm em seus países e nós temos de sobre porque faz parte de nós. Em contrapartida somos completamente acomodados nos nossos direitos mais básicos como saúde e educação.
Tá lindo ver o Brasil cantando o hino junto, mesmo que a orquestra pare.  Provamos que é possível cantar sem maestro! Busquemos um maestro que realmente nos represente, que represente o que merecemos de verdade e aí sim poderemos todos cantar novamente que o gigante está de volta!

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 01/07/2014
Imagem da Internet