sábado, 26 de maio de 2018

Força motriz


Meu pai foi motorista de caminhão. Trabalhei  em uma concessionária de caminhões e depois tive a honra de implantar sistemas em uma grande transportadora. Por tudo isso, caminhões fazem parte da minha vida. Sou daquelas que tem o modelo preferido, que gosto de acompanhar a evolução deles e que ainda pretendo fazer uma viagem a bordo de uma carreta um dia.
Ver a estrada sem eles pareceu sexta-feira da paixão. Ficou um vazio. Um vazio na estrada, um vazio nas prateleiras, um vazio na boca de todos nós. Calamos. Emudecemos ao perceber que aqueles que, ignorantemente consideramos o “incômodo do trânsito”, conseguiram parar um país. Conseguiram o que muitos tentaram com pouco efeito. E ataram os pés e as mãos de muitos brasileiros.
Dizem que se o boi soubesse a força que tem, ele não puxava carroça. Eles, os caminhoneiros descobriram a força que têm! E descobriram que, juntos, podem parar um país. Você já tinha parado para pensar que o remédio da sua pressão, a maçã que você come todo dia, a compra que você fez na internet, o que move o seu carro e os aviões que cruzam o céu, dependem todos daquele “incômodo do trânsito”? E nós que achávamos que só a tecnologia tinha importância em nossas vidas! 
Existe uma turma grande que acorda cedo, que dorme fora de casa, que não leva o filho para a escola e que literalmente carrega este país nas costas. Em um país de estradas vergonhosas e de segurança duvidosa, eles seguem em frente, entregando a nossa sobrevivência. É melhor respeitá-los! Eles hoje sabem a força que têm! 


Leila Rodrigues

Publicado no JC Arcos em 26/05/2018

Olá pessoal,

Tem muita gente contra e muita gente a favor. É direito de cada um ter a sua opinião a respeito. Estamos todos sendo afetados. Então, de uma forma ou de outra, estamos envolvidos, estamos no olho do furacão. Agora é torcer para que a nossa dignidade seja reestabelecida!

Grande abraço

Leila Rodrigues




domingo, 20 de maio de 2018

Meia volta volver


Ela caminhava apressada a poucos metros à minha frente. Carregava algumas sacolas.  Parecia uma pessoa  determinada e segura.  E de repente, sem nenhuma seta, nenhum aviso, virou para traz e fez o caminho inverso. Não tive como não perceber, assustei e rimos juntas quando vi que era uma conhecida. Ela sorriu e disse tranquilamente, “faz parte, não é mesmo?”
Continuei meu trajeto pensativa. O que será que esqueceu? Onde estaria indo e desistiu? 
Fomos criados para não desistirmos jamais,  para não desanimarmos, para praticarmos a resiliência. Contudo, resiliência não pode ser confundida com insistência. Mesmo porque, nem tudo que começamos vai dar certo ou vai durar eternamente! Algumas coisas tem prazo de validade sim e este prazo precisa ser respeitado! 
Parar, encerrar,  desistir, não significam, necessariamente, que não foi bom ou que não houve aprendizado. Desistir pode ser libertador!
Admiro quem tem a coragem de praticar o famoso “meia volta volver”. Aqueles que têm a bravura de tomar a iniciativa e acabar com o que sufoca, o que angustia, o que já deixou de dar satisfação faz tempo. Geralmente são eles, os corajosos de plantão, os que são julgados como fracos ou como os ruins da história. Mas também são eles, as pessoas mais leves e mais preparadas para novas experiências. Eles não têm vergonha de dizer que caíram, que tentaram, que faliram ou que começaram de novo. Isso é parte da vida deles como também é parte o recomeço, a conquista e a vitória. 
Não importa quanto você já caminhou, não importa quão tortuosos foram seus caminhos. Importa a sua temeridade em tomar as rédeas do seu destino. Mudar de vida, mudar de rota ou de rumo depende de cada um de nós. 
Vejo jovens angustiados por terem que atender expectativas dos pais e não às suas próprias. Vejo pessoas entristecidas, fazendo trabalhos medianos  sem coragem para atuarem naquilo que têm paixão. Vejo casais que estão juntos mas não estão sequer próximos. Apenas estão ali, mantendo algo que não existe mais. Tudo porque vivemos em uma cultura onde desistir é sinônimo de derrota. 
Mediocridade! Derrota é não tentar! Derrota é se acomodar! Derrota é se contentar com a vida sem emoção! Isso sim é se fazer um derrotado! 
Não te faz bem, não te acrescenta, não te engrandece, não te dá alegria nem prazer, então junte seus soldadinhos e saia da brincadeira. Meia volta volver também é vida que segue! É assim na infância e assim deve ser para a vida inteira. Afinal, viver há de ser uma gostosa brincadeira! 

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem da Internet

Olá pessoal,

Esta semana recebi um feedback do Jornal Agora que me deixou muito feliz. Escrevo há 7 anos para o Agora e sou grata a este veículo e aos leitores que sempre me procuram. Minhas crônicas agora sairão na edição de sábado. Obrigada Flávio (Jornal Agora) e aos leitores por prestigiarem  meu trabalho.
Sobre a postagem de hoje, eu realmente admiro pessoas que sabem dar meia volta, volta inteira, um passo para trás, enfim, admiro quem não tem medo de mudar de rumo!
Meia volta, volver” é um comando militar que significa mudar de sentido numa volta de 180° sem retirar o pé do chão. Tudo a ver com o que falamos.
Sigamos pois, com a coragem necessária para mudarmos o rumo da nossa história sempre que preciso for.
Grande abraço


Leila Rodrigues

domingo, 6 de maio de 2018

Eu comigo e eu mesma


A semana havia sido intensa. Muito mais do que eu achava que poderia suportar. Tudo me exigiu. Tudo me requereu esforço, decisão, pensamento e dedicação. Enquanto todos os meus papeis brigavam para não ter que contracenar. Ninguém me perguntou se eu poderia, se eu gostaria, se eu queria estar ali. A vida é assim mesmo. Não nos pergunta se queremos. Nos joga precipício abaixo para ver no que vai dar. É parte do processo!
Passado o meu furacão particular, como passam todas as nossas tormentas solitárias, hoje eu acordei com a certeza de que precisava de um pouco mais de mim. Por mais que eu tivesse pessoas maravilhosas ao meu lado, naquele momento eu queria a minha própria companhia.
Então eu encostei a general que vive em mim no canto da minha sala de estar e saí para o meu dia, disposta a fazer deste, um dia de mim.
Hoje eu me dei licença para não pensar em trabalho, em casa, em filho, em marido, em cliente, em fornecedor, em negócio ou em qualquer coisa que demande meu raciocínio lógico. 
Hoje foi dia de ouvir a minha playlist  e cantar junto com Belchior, Mariza Monte, Nazi, Cassia Eller, Roberto Carlos  e todos aqueles que um dia cantaram alguma coisa que tocou meu coração. 
Hoje foi dia de reler meus velhos livros e descobrir um novo sentido para aquela velha frase que eu marquei há anos e nunca mais voltei a ler.
Hoje eu fiz questão de preparar um café só para mim e ser a minha melhor companhia. Hoje foi dia de pegar sozinha alguma coisa no maleiro mesmo que isto tenha me custado  um estalo na coluna. Hoje eu precisei ficar só com a minha cachorra para perceber o quanto ela respeita meus silêncios. Mais que muita gente! 
Hoje eu escolhi não sentir saudade e curtir cada minuto comigo com a certeza de estar em boa companhia. Hoje foi dia de encurtar a distância entre eu e meus valores, meu coração e meus sentimentos mais profundos. Hoje o silêncio me contou mais de mim do que todas as horas que eu falei para alguém. E o nada que eu fiz preencheu todos os espaços que a minha mente precisava para se recompor. Nada me faltou, nada me excedeu, as coisas apenas se encaixaram num espaço mínimo entre eu e os meus valores. Tranquilamente assim. E todas as canções foram cantadas, todos os sabores foram sentidos na mais perfeita simplicidade de ser. 
Pode até parecer solidão. Mas é só eu cuidando do meu relacionamento comigo. Prometo voltar amanhã, cheia de espaço para você! 

Leila Rodrigues

Imagem da internet, editada com a frase da autora 
Publicado no JC Arcos

Olá pessoal,

Quem já fez um “deserto”, sabe a relevância do encontro consigo. Posso dizer que isso se torna uma necessidade, de tão importante. Encontrar-se, antes de qualquer outro encontro. Essa é a arte! Esse é o alimento que a mente precisa.
Afinal de contas, se viver é esta luta constante e insana que temos experimentado, que pelo menos entre o “eu e eu mesmo” que existe em cada um de nós, haja paz!
Grande abraço Paz e bem!


Leila Rodrigues

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Por mais entardeceres tranquilos


Pode ser que ela tenha vindo a este planeta para ser uma grande estrela do cinema. Ou quem sabe uma cantora pop com milhões de fãs. É amada, desejada e invejada por muitos. E quando todos se vão, ela sonha com um entardecer tranquilo que possa renovar as suas forças. 
Pode ser que ela tenha vindo para procriar. Teve muitos filhos, uma família linda e seu dom é educar e cuidar da sua prole. É amada pelos seus e isto basta. E quando todos se vão, ela sonha com um entardecer tranquilo que possa renovar as suas forças. 
Pode ser que ela tenha vindo para ser uma grande guerreira. E enfrentado leões na jaula ou soldados no Golfo.  Quem sabe a sua guerra tenha sido por uma causa, um ideal. Ela desbrava terrenos e luta incansavelmente até o fim. É amada por alguns, odiada por outros e invejada talvez. E quando todos se vão, ela sonha com um entardecer tranquilo que possa renovar as suas forças. 
Pode ser que ela tenha vindo a esta existência para fazer a diferença no mundo dos negócios. Ela enxergou longe, opinou, participou ativamente e mostrou a que veio. É invejada por muitos. E quando todos se vão, ela sonha com um entardecer tranquilo que possa renovar as suas forças. 
Pode ser que ela tenha vindo a esta terra para sobreviver. E morando em condições desumanas ela anda léguas em busca de uma lata d'Água que possa saciar os seus. Falta-lhe os dentes. Sobra-lhe a dor. É amada pelos poucos que a rodeiam e talvez nunca tenho sido desejada de fato. Mas quando todos se vão, ela também sonha com um entardecer tranquilo que possa renovar as suas forças. 
Pode ser que ela tenha vindo a esta existência para dar prazer. Um amor bandido, um amor proibido, um amor escondido, um amor incansável, um amor inimaginável. E tudo que ela faz na vida é lutar para manter a chama do prazer acesa. Se é amada eu não sei. Desejada, com certeza! E quando todos se vão, ela sonha com um entardecer tranquilo que possa renovar as suas forças. 
Não importa onde ela vive, não importa a sua cor, a sua raça ou a sua idade. Na hora de parir, na hora de amar, na hora de lutar até o limite de suas resistências, na hora de defender suas crias e suas causas somos todas iguais. Não importa qual tenha sido o dom que ela recebeu ao nascer, quando todos se vão, todas sonhamos com um entardecer tranquilo que possa renovar as nossas forças. 

Leila Rodrigues

Imagem da internet
Publicado na Revista Xeque Mate edição 03/2018


Olá pessoal,

Depois que abracei a Menopausa como minha causa, todos os dias converso com mulheres a respeito. São mulheres de todas as classes, regiões do Brasil, profissões e estilo de vida. Só vejo mudar os endereços, porque as dores e as angústias são muito parecidas. Elas foram a minha inspiração para esta crônica. 
Que estejamos juntas e unidas cada dia mais. Que a dor da outra, nos incomode também; a ponto de termos uma única causa, dignidade e respeito para conosco!

Grande abraço 



Leila Rodrigues