sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Juliana



Alguém pode achar que Montes Claros é logo ali. Provavelmente não pegou um ônibus às 23:00 numa sexta-feira e viajou a noite inteira para chegar até lá. A cada parada eu achava que tinha chegado e me preparava para descer. Engano meu, era mais uma cidadezinha para pegar algum passageiro. Algum coitado que como eu ainda não tinha um veiculo ou capital suficiente para ir de avião.
Coisas do amor! Faria tudo de novo. De ônibus, noite a dentro, no batidão só para vê-lo. O Rafa. O meu Rafa! Ele estrearia no time da cidade, o Montes Claros Futebol Clube no dia seguinte.
 A grana estava curta, na faculdade aquele aperto de sempre, no trabalho a mesma pressão pelas metas mas a minha vontade de estar lá falou mais forte. Fiz adiantamento no trabalho, perdi a aula de sexta, arrumei tudo na correria e fui. Se alguém acha que namorar jogador de futebol tem glamour, está enganado. É uma grande aventura! A aventura do encontro.
Eu corria o risco de não chegar nem perto do Rafa; iniciante no time, precisava mostrar disciplina. Se o treinador determinasse concentração total eu estaria perdida. Fiquei indecisa. Falo ou não falo da surpresa para ele? Optei por ir sem nenhum aviso prévio.
No caminho, enquanto o ônibus sacolejava pelas estradas inexplicáveis do norte da nossa querida Minas Gerais, entre um cochilo e outro, eu pensava na força que me movia até ali. Eu, essa quase mãe de família que tem um irmão para criar, essa estudante de arquitetura que ainda tem um curso inteiro para pagar, essa pessoa que acredita que no amor é preciso correr riscos. Pela primeira vez experimentava o que seria amor.
Cheguei. A cidade ainda adormecia. O meu dinheiro mal dava para um café. Da rodoviária até o estádio me perdi várias vezes. Conheci quase todas as praças, as igrejas e as lojas do caminho. No estádio simples, os torcedores esperavam o novo jogador. Eu ouvia os comentários orgulhosa! É do meu Rafa que eles estão falando. 
Começa o jogo, Rafa entra em campo. Caminhei devagar até a grade que separava o campo dos torcedores. Encostei-me e desejei-lhe boa sorte. Senti quando ele me viu lá de longe. Meu rosto queimava. Sorri e deixei meu coração bombardear à vontade. Naquele dia ganhei um gol. O primeiro de muitos. 

Leila Rodrigues

Inspirado na história de Juliana e Rafael, um casal de jovens que se amam de verdade.

Publicado na Revista Xeque Mate setembro/2016

Foto da Revista Xeque Mate e do acervo da Juliana.



Olá pessoal

Falar de amor não é fácil. Principalmente nos dias de hoje, de amores líquidos e escorregadios. Diante disso, a minha proposta na Revista Xeque Mate foi um grande desafio. Falar de amor, de amores reais. De histórias que acontecem agora, com alguém perto de nós. E para minha grande surpresa, a cada dia descubro mais e mais belíssimas histórias de amor. O antigo conto de fadas cedeu seu lugar para o amor real. O amor que enfrenta fila e  anda no asfalto lotado de carros. São os amores de hoje! Novos tempos, novos encantos. E o amor prevalece! Que bom!
Não poderia deixar de agradecer ao Giovani Lima que acreditou junto comigo neste projeto. Valeu Giovani! Tem sido maravilhoso escrever para a Revista Xeque Mate!
Sobre a Juliana, o quê dizer? É uma amiga querida, uma pessoa do bem que eu tenho a honra de ter como amiga. E o Rafa também. Um casal lindo.

Grande abraço e muito obrigada pela visita

Leila Rodrigues






domingo, 25 de setembro de 2016

Autenticidade




Autenticidade


Eu tenho amigos jovens, na flor da mocidade como dizia minha avó. São pessoas belíssimas, cheias de vigor e alegria. Alguns eu convivo todos os dias, outros nunca abracei, mas todos eles têm uma coisa em comum, são autênticos. São pessoas que lutam, que tentam, que se esfolam, que não têm fãs nem seguidores mas têm pessoas com valores comuns à sua volta.
Eu tenho amigos velhos, com anos de estrada pode se dizer. Eles são incríveis! São pessoas leves, sem muitas bagagens nos ombros, mas abarrotados de histórias e experiências que eu não me canso de ouvir. Alguns eu convivo todos os dias, outros nunca abracei, mas todos eles têm uma coisa em comum, são autênticos. Não tem medo de dizer que erraram, que se esfolaram, que amaram ou perderam seus amores. Eles também não estão interessados em fãs e muito menos em likes, mas em pessoas com valores comuns à sua volta.
Eu tenho amigos budistas, espíritas, católicos e evangélicos. E ouço com prazer quando falam de suas experiências espirituais. Alguns eu convivo todos os dias, outros nunca abracei, mas todos eles têm uma coisa em comum, são autênticos. São fiéis aos seus princípios, aos seus valores e crenças. Nunca quiseram me "arrebanhar". Respeitam a minha escolha como eu respeito as deles. E eles, ah eles não estão nem aí para o número de likes, o que eles querem mesmo é pessoas com valores comuns à sua volta.
Eu tenho amigo atleticano, cruzeirense, corintiano e flamenguista. E tenho outros que nem gostam de futebol. Alguns eu convivo todos os dias, outros nunca abracei, mas todos eles têm uma coisa em comum, são autênticos. São eles mesmos, com seus defeitos, seus jeitos e suas qualidades tão únicas. Eles não estão preocupados com o número de fãs ou adeptos. Eles só querem pessoas que os respeitem  e que tenham valores comuns.
Eu tenho amigo escritor, cantor, ceramista, poetas e poetisas de verdade. Alguns são famosos, outros nem tanto. Alguns deles tem fãs e seguidores, outros ainda estão no anonimato, mas uma coisa eles tem em comum, o talento é deles. Não roubaram de ninguém. 
Talento é propriedade privada. É bem! Não se sobe ao palco com o talento alheio. E se tem uma coisa que me faz tirar alguém desta minha lista de amigos é quando eu descubro que algum deles, qualquer um que seja, quer se dar bem usando o talento de outros. Autenticidade é tudo! Sem ela, sem lista.


Leila Rodrigues


Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

Olá pessoal,

As redes sociais se tornaram o novo palco do mundo. Uma forma de angariar fãs e seguidores, ou seja, de ficar famoso. E o ser humano adora a fama. A fama afaga o ego e camufla os problemas mal resolvidos dos obcecados por atenção. A sensação de superioridade é confundida com felicidade plena. E hoje, subir ao palco digital ficou muito fácil. Principalmente porque no universo digital você pode subir ao palco com o talento alheio. É fácil copiar um texto, um poema, um desenho, uma foto e até um trabalho feito por alguém e postar como se fosse seu. Quem vai questionar? Quem vai se dar ao trabalho de procurar a autenticidade disto ou daquilo? 
Até ontem falso eram apenas as propagandas para emagrecer. Que ironia. O falso está aí, bem na nossa frente. Com cara de fino e educado. Nas mais diversas propagandas. Há poucos dias acompanhei minha amiga, a poetisa portuguesa Rosa Maria, que luta veementemente contra este tipo de atitude. Assim como Rosa Maria, muitos outros profissionais passam por isso todos os dias. E a cada dia tem mais e mais pessoas tentando se dar bem com o trabalho de outros. Isto me indigna profundamente. 
Sou do tempo em que ser famoso não era tão importante assim. Ser você mesmo, sim. Será que estou fora de moda? Pode ser. Continuo acreditando que o errado é errado mesmo que todo mundo esteja fazendo e o certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo. E assim pretendo continuar a minha vida. 

Grande abraço

Leila Rodrigues





domingo, 11 de setembro de 2016

Para você que se foi





Então você se foi. E não deu nem tempo de fazermos juntos aquela viagem que planejamos. Nem aquela ida à fazenda do seu tio como você queria.  A sua camisa azul, aquela que você gostava tanto, lavei, ficou pendurada aqui esperando você passar para pegar. Seria aquele momento de tomarmos um café juntos e você me contar como estava a vida. E você não passou. E o café esfriou na garrafa esperando você chegar. E você não chegou.
É! Você não vai chegar. E meu coração vai continuar achando que em algum momento você vai entrar por aquela porta e sorrir para mim. O seu sorriso. Como eu vou sobreviver sem ele? A sua fala, o tom da sua voz, as suas brincadeiras tão suas e a minha felicidade tão nossa!
Você não vem para o almoço e nunca mais virá para o jantar. O quê que eu faço com o Nero que não pára de olhar para mim e perguntar com os olhos cadê você? O quê que eu faço comigo que não sei parar de pensar em você?
Aquela musica que você cantarolava perdeu o tom, o seu chinelão de couro, companheiro de andanças perdeu o caminho e todos nós nos perdemos no silêncio que ficou depois que você se foi. Amanhã talvez eu consiga descobrir novos sons mas hoje ainda estou ouvindo o eco da sua voz no quarto vazio que você deixou. Amanhã talvez eu me lembre de regar as plantas, mas hoje meu coração está árido demais para qualquer flor. 
Foi tudo tão breve. Eu poderia ter dito mais vezes o quanto amava você. Eu o fiz tão pouco. O meu amor foi muito maior que as minhas palavras. Mas certamente você sentiu  todas as vezes que meu coração pulsou de amor por você. Eu poderia ter te abraçado ainda mais, ter te dado o meu colo e tudo mais que você precisasse de mim. Quem poderia imaginar que o fim seria logo ali, naquela esquina, naquele instante entre uma calçada e outra? Eu aqui te esperando e acaba tudo assim? Eu precisava de mais. Eu precisava de mais tempo pra viver a seu lado. Eu precisava de mais tempo para aprender com você.
Meu tempo parou no instante em que você se foi e eu preciso dar a ele um novo movimento. A vida quer que eu continue, ainda que com o coração despedaçado pela falta de você. Sinto-me fraca. Não posso mais pedir a sua mão. Preciso deixá-lo ir. A partir de hoje você habita o lugar sagrado do meu coração, junto das divindades, daqueles que eu não posso tocar mas posso amar eternamente. E assim farei. Te amarei eternamente. Que seja leve e sereno a sua caminhada espiritual.


Leila Rodrigues

Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos


Olá pessoal,

este texto foi a forma que encontrei de abraçar todas as mães que perderam seus filhos em acidentes de trânsito. Neste ano de 2016, principalmente na minha cidade (Arcos), tem morrido muitos jovens em acidentes de trânsito. Sempre penso nas mães, na dor de cada uma delas. Sinto vontade de abraça-las.  A todas mães que perderam seus filhos, seja de que forma for, o meu carinho e a minha oração. 

Grande abraço


Leila Rodrigues