segunda-feira, 23 de março de 2015

Dia de nada




Acordei com eles. Os passarinhos. Animadíssimos! Parecia dia de festa entre eles. Imaginei que seria o primeiro voo de alguns e a parentada toda veio assistir. Uma verdadeira festa! O tempo nublado e o silêncio da manhã de domingo me convidavam a continuar na cama. Em contrapartida meu lado general acionava a sirene: "Hora de acordar pobre mortal! Ou você acha que só porque é domingo será um dia de moleza".
De fato meu lado general não estava errado, eu tinha mesmo muita coisa para fazer. Afinal, vida de quem trabalha, estuda e tem filhos não perdoa nem feriado, todo dia é dia de obrigações a cumprir. E eu como integrante ativa deste time tinha um dia cheio pela frente. Meu marido sempre diz que mulher quando não tem nada para fazer inventa logo alguma coisa. É verdade! Eu naquele domingo tinha algumas coisas imprescindíveis, outras nem tanto e algumas outras que inventei de fazer para completar a lista.
Contrariando o protocolo deixei a preguiça levantar comigo. Tomei café de pijama, joguei paciência e juntei os cabelos em um coque para não ter que penteá-los. E assim, nessa toada de baiano eu passei o meu domingo. Um dia de nada! Ou de um jeito mais categórico, um dia de ócio.
Confesso que me senti culpada. Também pudera, nos dias de hoje em que é moda ser uma pessoa ocupada, passar um dia de ócio é um sacrilégio. E se o fazemos, ao final nos sentimos culpados. 
Acontece que a sobrecarga de tarefas que o ser humano se propõe para atingir seus objetivos, além de ser gigantesca, se tornou comum. A ponto de errado ser não ter a agenda cheia de alguma coisa para fazer. 
A esta altura, o ócio criativo, que Domenico De Masi identificou como de grande importância para o desenvolvimento do nosso intelecto, se perdeu por completo em meio ao turbilhão. Será que alguém consegue parar tudo e divagar em pensamentos antes de criar um projeto, escrever um texto ou tomar uma decisão? Se consegue, ótimo! Você está na linha certa! Agora se você, como eu ainda tem dificuldade ou quando consegue se sente culpado, deixo aqui um trecho do livro "A essencial arte de parar" de David Kundtz:  O principal objetivo de Parar é fazer com que, quando avançamos, avancemos na direção que queremos e que, em vez de estarmos apenas sendo empurrados pelo ritmo das nossas vidas, estejamos escolhendo, a cada momento, o que é melhor para nós.”  
Empurrados ou escolhendo, nos vemos na próxima parada.

Leila Rodrigues

Imagem da internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 17/03/2015

Um comentário:

  1. Bem, eu acho que a gente tem que esnobar um pouco a vida, toda essa engrenagem, essa mecânica. Um pouco de preguiça de vez em quando,(só de vez em quando), faz bem sim. Se a vida é inconstante com a gente, sejamos com ela tamvbém, de vez em quando. Parabéns!!!

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