Acordei com eles. Os passarinhos. Animadíssimos! Parecia dia de festa entre eles. Imaginei que seria o primeiro voo de alguns e a
parentada toda veio assistir. Uma verdadeira festa! O tempo nublado e o
silêncio da manhã de domingo me convidavam a continuar na cama. Em
contrapartida meu lado general acionava a sirene: "Hora de acordar
pobre mortal! Ou você acha que só porque é domingo será um dia de moleza".
De fato meu lado general não estava errado, eu tinha mesmo muita
coisa para fazer. Afinal, vida de quem trabalha, estuda e tem filhos não perdoa
nem feriado, todo dia é dia de obrigações a cumprir. E eu como integrante ativa
deste time tinha um dia cheio pela frente. Meu marido sempre diz que mulher
quando não tem nada para fazer inventa logo alguma coisa. É verdade! Eu naquele
domingo tinha algumas coisas imprescindíveis, outras nem tanto e algumas outras
que inventei de fazer para completar a lista.
Contrariando o protocolo deixei a preguiça levantar comigo. Tomei
café de pijama, joguei paciência e juntei os cabelos em um coque para não ter
que penteá-los. E assim, nessa toada de baiano eu passei o meu domingo. Um dia
de nada! Ou de um jeito mais categórico, um dia de ócio.
Confesso que me senti culpada. Também pudera, nos dias de hoje em
que é moda ser uma pessoa ocupada, passar um dia de ócio é um sacrilégio. E se
o fazemos, ao final nos sentimos culpados.
Acontece que a sobrecarga de tarefas que o ser humano se propõe
para atingir seus objetivos, além de ser gigantesca, se tornou comum. A ponto
de errado ser não ter a agenda cheia de alguma coisa para fazer.
A esta altura, o ócio criativo, que Domenico De Masi identificou
como de grande importância para o desenvolvimento do nosso intelecto, se perdeu
por completo em meio ao turbilhão. Será que alguém consegue parar tudo e
divagar em pensamentos antes de criar um projeto, escrever um texto ou tomar
uma decisão? Se consegue, ótimo! Você está na linha certa! Agora se você, como
eu ainda tem dificuldade ou quando consegue se sente culpado, deixo aqui um
trecho do livro "A essencial arte de parar" de David Kundtz: “O principal objetivo
de Parar é fazer com que, quando avançamos, avancemos na direção que queremos e
que, em vez de estarmos apenas sendo empurrados pelo ritmo das nossas vidas,
estejamos escolhendo, a cada momento, o que é melhor para nós.”
Empurrados ou escolhendo, nos vemos na próxima parada.
Leila Rodrigues
Imagem da internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 17/03/2015
Bem, eu acho que a gente tem que esnobar um pouco a vida, toda essa engrenagem, essa mecânica. Um pouco de preguiça de vez em quando,(só de vez em quando), faz bem sim. Se a vida é inconstante com a gente, sejamos com ela tamvbém, de vez em quando. Parabéns!!!
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