sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Amor x empoderamento



Tento escrever cartas de amor, mas o que fazer com as cartas, em tempos de internet? O romance se foi e vejo que o amor sobrou sozinho à espera daqueles que ainda têm a audácia de vivê-lo. Sim, é audacioso amar.
Amar nunca foi fácil! Acredito que agora ficou ainda mais difícil. Amar, depois da tecnologia, dos livros de autoajuda, do coach e das redes sociais ficou quase impossível.
É preciso atravessar a super auto estima, a meta pessoal, a carreira, todas as redes sociais e muitas selfies para chegar ao amor. Passada todas as etapas do processo de seleção de si próprio, mais todas as ferramentas de auto conhecimento, será que sobra amor para o outro?
A pessoa fica tão foda, tão maravilhosa, tão “empoderada” que não sobra amor para mais ninguém!!!! É uma escola de narcisos!
Todos são super! Não há lugar para os mortais, para os comuns, para os que não gostam de subir ao palco.
Tenho visto as pessoas tão apaixonadas consigo mesmas que não conseguem  achar ninguém à altura delas!
Vivem um relacionamento ilusório com elas mesmas e ao mesmo tempo são carentes de um parceiro. Mas como achar parceiro para quem se coloca acima da humanidade? Como encontrar lugar para o outro numa vida que já vive um relacionamento sério entre “eu comigo e eu mesmo”?
Amar é partilhar a própria vida. Amar é antes de tudo, fazer companhia. Não importa a distância, quando amamos, temos companheiros e companheiras.
O amor não foi feito para os perfeitos. Ele não sobrevive neste meio. O amor fecunda no improvável, no incerto, nas entrelinhas das nossas verdades mais escusas.
Amar é correr riscos, é baixar as máscaras, se desnudar. Amar é deixar o mundo acontecer lá fora e se trancar com o outro num quarto qualquer. Amar é querer acima das condições físicas, financeiras, metereológicas e geográficas. Amar é um grande desafio.
O amor gosta da simplicidade, do descontrole da situação, do riso solto. O amor de verdade dispensa a maquiagem, o carro, o título, o sobrenome. E narcisos não vivem sem eles.
Vai chegar o momento em que a geração da foto perfeita vai ter que fazer uma escolha. E aí, cartas de amor deixarão de ser ridículas; famílias voltarão a fazer parte dos planos dos jovens e viver será mais que receber likes.
Tudo em excesso prejudica, até o empoderamento. Fica a dica!


Leila Rodrigues


Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: http://www.rac.com.br


Olá pessoal,

Em tempos de tantos selfies, likes e curtidas, será que ainda sobra amor para o outro?
Vale a reflexão!

Grande abraço

Leila Rodrigues

Um comentário:

  1. Parabéns pela reflexão, Leila! Mais uma vez, fantástica! É triste ver pessoas se voltando tanto para si mesmas que acabam por passar, como uma locomotiva, sobre outras que lhes dedicam afeto sincero.

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