domingo, 11 de setembro de 2016

Para você que se foi





Então você se foi. E não deu nem tempo de fazermos juntos aquela viagem que planejamos. Nem aquela ida à fazenda do seu tio como você queria.  A sua camisa azul, aquela que você gostava tanto, lavei, ficou pendurada aqui esperando você passar para pegar. Seria aquele momento de tomarmos um café juntos e você me contar como estava a vida. E você não passou. E o café esfriou na garrafa esperando você chegar. E você não chegou.
É! Você não vai chegar. E meu coração vai continuar achando que em algum momento você vai entrar por aquela porta e sorrir para mim. O seu sorriso. Como eu vou sobreviver sem ele? A sua fala, o tom da sua voz, as suas brincadeiras tão suas e a minha felicidade tão nossa!
Você não vem para o almoço e nunca mais virá para o jantar. O quê que eu faço com o Nero que não pára de olhar para mim e perguntar com os olhos cadê você? O quê que eu faço comigo que não sei parar de pensar em você?
Aquela musica que você cantarolava perdeu o tom, o seu chinelão de couro, companheiro de andanças perdeu o caminho e todos nós nos perdemos no silêncio que ficou depois que você se foi. Amanhã talvez eu consiga descobrir novos sons mas hoje ainda estou ouvindo o eco da sua voz no quarto vazio que você deixou. Amanhã talvez eu me lembre de regar as plantas, mas hoje meu coração está árido demais para qualquer flor. 
Foi tudo tão breve. Eu poderia ter dito mais vezes o quanto amava você. Eu o fiz tão pouco. O meu amor foi muito maior que as minhas palavras. Mas certamente você sentiu  todas as vezes que meu coração pulsou de amor por você. Eu poderia ter te abraçado ainda mais, ter te dado o meu colo e tudo mais que você precisasse de mim. Quem poderia imaginar que o fim seria logo ali, naquela esquina, naquele instante entre uma calçada e outra? Eu aqui te esperando e acaba tudo assim? Eu precisava de mais. Eu precisava de mais tempo pra viver a seu lado. Eu precisava de mais tempo para aprender com você.
Meu tempo parou no instante em que você se foi e eu preciso dar a ele um novo movimento. A vida quer que eu continue, ainda que com o coração despedaçado pela falta de você. Sinto-me fraca. Não posso mais pedir a sua mão. Preciso deixá-lo ir. A partir de hoje você habita o lugar sagrado do meu coração, junto das divindades, daqueles que eu não posso tocar mas posso amar eternamente. E assim farei. Te amarei eternamente. Que seja leve e sereno a sua caminhada espiritual.


Leila Rodrigues

Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos


Olá pessoal,

este texto foi a forma que encontrei de abraçar todas as mães que perderam seus filhos em acidentes de trânsito. Neste ano de 2016, principalmente na minha cidade (Arcos), tem morrido muitos jovens em acidentes de trânsito. Sempre penso nas mães, na dor de cada uma delas. Sinto vontade de abraça-las.  A todas mães que perderam seus filhos, seja de que forma for, o meu carinho e a minha oração. 

Grande abraço


Leila Rodrigues





3 comentários:

  1. ... é um caminho difícil esse... Li com emoção sua crônica. Sei bem o que é esse sentimento... Obrigada!
    Abraço.

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  2. Leila, vc é mesmo bastante feliz nas suas palavras, pois na simplicidade de seus temas, consegue atingir, com leveza, o mais profundo dos nossos corações. Mil abraços. Dulcemar

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  3. Ola Leila, foi uma bela porta voz do sofrimento de todas as famílias, que esperam e esperam por aqueles que jamais estarão ali naquela mesa, pessoas que tiveram suas vidas ceifadas pela violência de nossas estradas e das irresponsabilidades de muitos condutores,apesar de todas as campanhas. Uma inspiração na dor amiga, mas que ficou muito boa.
    Que Deus nos proteja de todos os perigos.]
    Um bom domingo para uma semana linda para voce.
    Meu terno abraço.

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