Quem mora por essas bandas já sabe que o outono e o inverno são cruéis com a plantação. Este ano, porém, foi devastador. E quem pode tirar alguns minutos do dia para prestar atenção na natureza, percebe o desgaste acontecer dia após dia. A água vai baixando, diminuindo, as plantas murcham, depois secam e algumas se fingem de mortas. Lições da natureza. O gado cada vez mais cansado não sai de perto do pouco barro que resta. As árvores despendem-se de suas folhas e sustentam caladas o sol a pino.
Eu caminhava toda
manhã pela trilha do Belardo. É uma trilha que nós moradores fizemos, que nos
leva até a nascente do rio. O nome Belardo é em homenagem ao vizinho Belardo
que ajudou fazer a trilha, mas não a viu pronta, foi prestar outros serviços no
céu.
A minha rotina todas
as manhãs é caminhar até a nascente, beber um gole de água pura e depois sim,
começar o meu dia. O fim do inverno é marcado pelo céu sem nuvem e pela
tonalidade amarela diferente do sol. Antes de me mudar para cá, eu jamais
imaginei que o sol pudesse ter tons diferentes. Provavelmente era a minha
pressa de viver que nunca me permitiu olhar para o sol. Hoje eu sei que a cada
estação do ano ele tem suas nuances diferentes de amarelo. Aprendi a respeitá-lo, como fazem todos que
vivem da plantação.
A televisão anuncia
que a situação é crítica, os políticos usam a falta d'água para conseguir
votos, os ensandecidos continuam lavando carros, calçadas e afins e os peixes
se desesperam pelas ultimas gotas que lhes restam. Impotentes é como ficamos todos diante deste
fenômeno. Tão inteligente o bicho homem, capaz de inventar a cura para tantos
males e um completo impotente diante da falta d’água. Anos e anos usufruindo da
natureza sem nenhum respeito e agora impotente diante das consequências.
Eu, que vivo aqui na
beira deste rio, que um dia deixei a cidade grande e escolhi este canto para
viver, observo em silêncio o meu rio morrer. Naquela manhã voltei sem meu gole
de água fresca. Voltei cabisbaixa, pensativa. Pensei nos peixes, pensei nas
plantas, pensei no gado, nos sapos, nos pássaros e em todos que dependiam
daquela água. Rezei. Rezei pelo rio, pelos bichos e principalmente pelos
homens, para que a necessidade nos provoque um despertar. E que o despertar nos
tire dessa condição bestial de usufruir sem medidas de tudo que recebemos da
mãe terra. E quando a chuva caiu, ainda que tímida, debrucei na janela e deixei
que as minhas lágrimas caíssem junto.
Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 07/10/2014
Imagem da internet
Que tocante o seu texto, Leila! Vivemos realmente uma condição bestial em que pensamos em ter, coisas, consumir, sem nenhuma moderação, e os bens gratuitos do Criador desvalorizamos todos! O "bicho homem" que se diz racional, tem agido com o mais irracional possível! Chega um tempo em que os bens naturais valem mais que muitas aplicações bancárias! Parabéns pelo seu posicionamento!
ResponderExcluirAbraço.
Leila, é emocionante te ler e cair bem a ficha dessa triste realidade. Infelizmente o bicho-homem usa, abusa de tudo e depois falta vamos ter! Mas eles não pensam nas gerações próximas. Só que nunca imaginaram que faltaria Já, agora! bjs, lindo DEZEMBRO! chica
ResponderExcluirEu quero acreditar que teu rio vai reviver.
ResponderExcluirNós que acreditávamos ser infinita a mãe natureza, agora temos a oportunidade, pela pior maneira possível, mas ainda assim uma oportunidade de olharmos com o devido respeito traduzido em mudanças de hábitos.
Lindo, lindo teu texto!
Beijo!