domingo, 24 de agosto de 2014

Adeus mestre





Chegou o seu momento, o seu ponto final. Rubem Alves, escritor, poeta, filósofo, professor, mestre. Um grande mestre! Vá em paz e leve a certeza de que, aqui, você deixa um jardim imenso de ipês. Suas palavras, como você bem disse, suas sementes, já estão plantadas em nossos corações.
Nem deu tempo de apertar a sua mão. Nem deu tempo de você me conhecer e eu te dizer o quanto eu te admirava. Meus livros "seus" não são autografados. Também pudera, eu era apenas mais um no meio da multidão de leitores que como eu, queria te abraçar um dia.
Mas eu não queria ser sua fã. Eu queria mesmo era ter sido sua amiga, ter tomado um café com você e juntos apreciarmos a chuva na serra. Algumas vezes invejei a Tomikko e qualquer outra pessoa que lhe fosse próxima, simplesmente por estarem tão perto de você e eu não. Mas não foi nesta existência. Quem sabe nos encontraremos na próxima?
Mestre, ainda com o coração triste por te ver partir, eu quero me despedir de você de outra forma, relembrando aqui algumas vezes que você entrou em minha vida.
Por causa de você, no momento do meu desespero, dependurada na pirambeira dos meus problemas, eu enxerguei morangos e me agarrei a eles até achar a saída.
Por causa de você eu não esperei os sessenta e comprei vestidos vermelhos, floridos, coloridos, enfim eu continuo contrariando o modismo geriátrico do cinza e preto e colorindo-me à minha maneira.
Por causa de você eu vivo quebrando as gaiolas. As que eu invento e as que inventam para mim. E sinto-me alada e feliz. Asas não envelhecem.
Por causa de você eu adoro pimentas e sem incendiar eu as acrescento em tudo que posso. Seja num simples prato de comida ou nos meus pensamentos-pimenta que temperam a minha vida e consequentemente temperam o mundo ao meu redor.
Por causa de você eu não espero a morte todas as manhãs e nem conto menos um a cada anoitecer. Eu quero a surpresa do ponto final e os meus dias cheios de alguma coisa qualquer. Que sejam palavras, que sejam jardins, que sejam meus sonhos meninos empoeirados na gaveta, eu tenho muito a fazer.
Por causa de você eu me dei o direito de não terminar de ler um livro, de repetir a leitura de outro que me agradou, de ler aquilo que eu quiser e sentir prazer. Foi libertador não seguir nenhuma lista, nenhuma orientação catedrática.
Entraste tão sutilmente em minha vida que nem eu imaginei que seria para sempre. Primeiro na estante, esperaste calado e tranquilo o momento certo de eu te buscar.  Depois no meu colo onde tantas vezes adormeci marcando alguma página no momento em que o cansaço me venceu. E finalmente no meu pensamento onde nunca mais você saiu. Só agora, vendo-te ir é que eu me dei conta de que, por causa de você eu causei um reboliço em mim.
Adeus mestre, foi um prazer e uma honra tê-lo tão perto.

Leila Rodrigues
Minha homenagem ao grande escritor Rubem Alves
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 05/08/2014
Imagem da Internet

Queridos leitores,

Peço desculpas pela falta de postagem. Estive sem condições de fazê-lo por alguns dias. As postagens continuam. Obrigada a todos pelo tempo destinado a esta leitura. Esta semana teremos a FLID – Feira Literária de Divinópolis (a nossa primeira). Convido a todos para participarem.
Grande abraço

Leila Rodrigues

13 comentários:

  1. Que linda homenagem e revelações. Que rebuliço bom ele causou em ti, pois escreves maravilhosamente. Lindo reconhecimento! bjs, tudo de bom,chica

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  2. Show a homenagem, Leilinha vc tá escrevendo uma barbaridade kkk. Parabéns pelo texto e pela inspiração

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  3. Leilinhamiga

    Que belo texto! Sentido, magoado, saudoso, lindo, lindo, lindo.

    Nunca li Rubem Alves, mas vou fazê-lo por mor de ter lido este teu texto. Obrigado.

    Quero lembrar-te que estou a finalizar os trabalhos sobre o meu novo livro que será vendido nas livrarias SARAIVA aí no Brasil. E diz às/aos Amigas/os para também o comprarem. + um brigado

    E convidar-te para ires à nossa Travessa e como sempre comentar

    Qjs

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  4. Leila!
    Tenho certeza de que ele leu seu texto... sorriu e foi saborear as últimas jabuticabas com imenso prazer!
    Abraços.

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  5. Olá Leila,

    Belíssima homenagem! Parabéns!
    Rubem Alves cativou-me desde que fui apresentada a seus livros.
    Aplaudo você por tão bela crônica. Arrasou!

    Beijo.

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  6. Olá, Leila.

    Linda, merecida e oportuna homenagem a esse grande artífice das letras. Mais um que partiu nesses tempos doridos onde temos visitado com uma incomum frequência a "estação das despedidas". Mas, se a morte assinala um ponto final, a vida transmuta-o em ponto de continuação. Pois a imortal alma humana segue em prosa e verso reescrevendo o infinito.

    Um abração e uma boa semana.

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  7. Leila,tão lindo seu texto! Comovente ligação com Rubem Alves! Creio que nessa vida somos ligados em pessoas que não conhecemos por sua energia, um jeito comum, uma bonita afinidade. bjs e boa semana,

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  8. Um grande vulto da cultura brasileira e da Lusofonia. Um cidadão do mundo. Perdeu-se uma referência cultural deste século, mas a sua Obra permanecerá para sempre como um marco de relevo!

    Bjusss,
    AL

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  9. Comovente homenagem Leila!
    Ele está tão perto, tão dentro de você mesmo sem ter havido o aperto de mãos e certamente os ipês amarelos iluminarão sempre a tua admiração por este grande homem.
    Beijo!

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  10. Tão maravilhosa crônica sobre o querido Rubem.
    Tenho certeza também que ele leu e está feliz como
    todos nós.

    Os mais lindo ipês amarelos para você.
    Bjs.

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  11. Lindo! Lindo! Lindo!
    Amo as reflexões e referências do Rubens. Imortal!

    "Asas ñ envelhecem"
    Que poética verdade, vou usar lá no blog e te referenciar e reverenciar :)

    Fiz tb na ocasião do transmutar dele uma singela homenagem.

    * Quem me indicou seu texto foi a Ana Paula ai acima.

    Prazer em ler, bjos e bater de asas \o/

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  12. Hoje seu post tá citado e linkado lá no blog
    Vai lá :)

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  13. Olá!
    Linda homenagem para este lindo mestre, que tantos ensinamentos nos deixou...cheguei até aqui pelo blog da Tina Bau e adorei...com certeza voltarei! abrs

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