Eduquei meus filhos com a
brincadeira da troca. Quando entrávamos em qualquer estabelecimento comercial,
eles me perguntavam se podiam comprar uma “coisinha”. Quando podia, era sempre
uma coisa só. E assim, enquanto eu fazia minhas compras eles iam trocando as
“coisinhas” até chegar a um
denominador comum entre o desejo deles e o valor que eu estipulava. Se foi
certo ou errado, eu não sei, mas funcionou.
O tempo passou, eles
cresceram e eu segui em frente com as trocas da vida. Não sou de trocar meus
pertences, mas a vida me ensinou que trocas são necessárias.
Hoje troco com facilidade algumas coisas.
Troco uma resposta que
estava na ponta da língua, por um um minuto do meu silêncio. Troco uma discussão acalorada
sobre política, pelo meu direito de não entrar na discussão. Troco uma festa
chique, cheia de gente desconhecida, por uma mesa com amigos. Troco o barulho
da casa noturna mais badalada da cidade, pelas manhãs de domingo ao som dos
passarinhos que visitam a minha parreira. Troco o salto fino de grife da loja mais chique da
zona sul, por um tênis confortável que me leva onde eu quero e troco a esteira mais
moderna da academia por uma caminhada ao ar livre. Troco a carne pela salada.
Troco a TV pelos livros e troco a rede social pela presença de um amigo.
Ao longo da vida troquei
muitas vezes. Troquei de partido, troquei de emprego, troquei de casa, troquei
de carro e troquei seus por meus dúzia. Troquei a cor dos cabelos, troquei a
chave do portão, troquei a foto na parede e troquei dinheiro por atenção.
Troquei o campo pela cidade, o certo pelo duvidoso, troquei desaforos, troquei
farpas e, de vez em quando, troquei as bolas.
Vi gente trocar de sexo, vi outros trocarem de
lugar. Vi gente ficando com o troco e outros sem ter o que trocar.
Fui trocada por alguns,
dei o troco em outros, troquei a noite pelo dia e, por alguns trocados, troquei
sossego por confusão.
Troquei meu estilo de
vida, troquei minha forma de ver, troquei gato por lebre e troquei de lugar sem
querer.
Apesar de tudo, nunca
troquei de time, nunca troquei meu fardo
e nem a minha religião.
E como não podia deixar de fora, além das pessoas que amo, tem aquelas
coisas que eu não troco por nada desse mundo, minha cachorra, meu travesseiro e
meu café coado na hora. Cada
um tem seu preço e cada preço o seu valor. Quer trocar?
Leila Rodrigues
E trocando, nós vamos nos transformando!
Boa leitura a todos!
Leila Rodrigues
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