sexta-feira, 1 de março de 2019

Trocadilho



Eduquei meus filhos com a brincadeira da troca. Quando entrávamos em qualquer estabelecimento comercial, eles me perguntavam se podiam comprar uma “coisinha”. Quando podia, era sempre uma coisa só. E assim, enquanto eu fazia minhas compras eles iam trocando as “coisinhas” até chegar a um denominador comum entre o desejo deles e o valor que eu estipulava. Se foi certo ou errado, eu não sei, mas funcionou.
O tempo passou, eles cresceram e eu segui em frente com as trocas da vida. Não sou de trocar meus pertences, mas a vida me ensinou que trocas são necessárias.
Hoje  troco com facilidade algumas coisas.
Troco uma resposta que estava na ponta da língua, por um um minuto do meu silêncio. Troco uma discussão acalorada sobre política, pelo meu direito de não entrar na discussão. Troco uma festa chique, cheia de gente desconhecida, por uma mesa com amigos. Troco o barulho da casa noturna mais badalada da cidade, pelas manhãs de domingo ao som dos passarinhos que visitam a minha parreira. Troco o salto fino de grife da loja mais chique da zona sul, por um tênis confortável que me leva onde eu quero e troco a esteira mais moderna da academia por uma caminhada ao ar livre. Troco a carne pela salada. Troco a TV pelos livros e troco a rede social pela presença de um amigo.
Ao longo da vida troquei muitas vezes. Troquei de partido, troquei de emprego, troquei de casa, troquei de carro e troquei seus por meus dúzia. Troquei a cor dos cabelos, troquei a chave do portão, troquei a foto na parede e troquei dinheiro por atenção. Troquei o campo pela cidade, o certo pelo duvidoso, troquei desaforos, troquei farpas e, de vez em quando, troquei as bolas.
Vi  gente trocar de sexo, vi outros trocarem de lugar. Vi gente ficando com o troco e outros sem ter o que trocar.
Fui trocada por alguns, dei o troco em outros, troquei a noite pelo dia e, por alguns trocados, troquei sossego por confusão.
Troquei meu estilo de vida, troquei minha forma de ver, troquei gato por lebre e troquei de lugar sem querer.
Apesar de tudo, nunca troquei de time, nunca  troquei meu fardo e nem a minha religião.
E como não podia deixar de fora, além das pessoas que amo, tem aquelas coisas que eu não troco por nada desse mundo, minha cachorra, meu travesseiro e meu café coado na hora. Cada um tem seu preço e cada preço o seu valor. Quer trocar?

Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: http://tautonomia.blogspot.com


E trocando, nós vamos nos transformando!

Boa leitura a todos!

Leila Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita. É muito bom ter você por aqui!
Fique à vontade para deixar o seu recado.
Volte sempre que quiser.
Grande abraço