Antes de trancar a porta olhei para trás e vi a casa vazia. Assim parecia bem maior. No lugar da mobília apenas o sinal dos móveis na parede. No lugar do barulho, apenas o eco assustador. Dei a volta e fui me despedir do pé de limão. De tudo, ele é o que vai me deixar mais saudade. Foi plantado por mim. Desejei que ele continuasse dando muitos frutos e que o próximo morador gostasse tanto de limão quanto eu. Bati o portão e fui.
O processo de mudança estava só começando e eu já estava exausta. Exausta de ter que juntar os meus cacos, exausta de ter que abrir gavetas que eu achei que não abriria nunca mais, exausta por ter que enfrentar a poeira de tudo que ficou muitos anos guardado. Inclusive a minha. Enquanto o caminhão seguia eu olhava no retrovisor a rua em silêncio. Ela parecia se despedir de mim. De cansada, cochilei em pleno caminhão de mudança.
E desce coisa, sobe coisa, desmonta daqui, monta dali, descarta aqui, aproveita de lá... É muita transformação para um momento só. O que antes cabia em 3 gavetas agora vai ter que caber em 1. Aquela velha cômoda que ficava escondida no fundo do quarto de bagunça agora encontrou seu canto na sala de estar e sorriu. E assim as adaptações vão acontecendo e o novo espaço se forma.
Mais cansada ainda cheguei na janela e pela primeira vez, observei melhor a nova paisagem. Daqui de cima dava para ver a copa de um flamboyant no jardim da escola. Crianças brincando. Um vizinho de baixo tocando violão e uma manada de cachorros (Maltezes brancos como a neve) na vizinha do primeiro andar. Dei as boas vindas a todos eles, me apresentei à mãe natureza daquele novo lugar, respirei fundo e fui viver.
Lá fora o novo me aguardava radiante de felicidade! Hora de começar de novo, de conhecer o novo, de fazer novas amizades e montar de novo um habitat todo meu. Eu me sentia completamente agradecida pela minha história até aqui e inteiramente vazia para que o novo me preenchesse.
Hora de arrumar a casa e esperar os novos vizinhos e os velhos amigos. Os novos e os velhos que se misturarão para formar um novo grupo, de novo! Afinal, é preciso oxigenar!
É preciso desapegar para se ter onde apegar novamente.
É preciso aproveitar a mudança para mudarmos também!
Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Div e no JC Arcos
Olá pessoal
Quando não mudamos, vem a vida e nos muda de alguma forma. Então, mudemos com as mudanças!
Grande abraço
Leila Rodrigues
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