domingo, 14 de setembro de 2014

Para a posteridade





Lençóis que esperam 30 anos na gaveta para serem usados! Uma caixa de charutos de quando o filho nasceu e esse filho já passou dos 30. Um canivete alemão que só saiu da caixa para ser mostrado aos amigos. Qual o nome disso? Qual o propósito de se guardar alguma coisa por 30 anos sem uso? Deve haver algum, mas geralmente quem guarda diz que é para a posteridade.
Mas afinal, quando é a posteridade? Amanhã? Daqui a 20 anos? Cinco anos talvez? Não tenho a menor ideia e por isso mesmo tenho dificuldade com o tema. Não tenho nada, absolutamente nada aguardando a hora de ser usado. Minto, tenho sim. Tenho um casaco de frio que comprei em Buenos Aires aguardando outro inverno bravo ou uma viagem para ser usado novamente. Só! Mais nada! E não consigo compreender pessoas que guardam roupas, sapatos, joias e demais objetos para um dia que nem elas sabem qual será!
Mulheres que guardam lingeries durante anos para serem usadas quando o príncipe chegar, ou quando o marido sapo virar príncipe! Minha filha tome tento, os príncipes não existem mais! Nestes anos de espera, quantas farras boas você perdeu com o sapo que também poderia ter sido um excelente companheiro! E se não tiver companheiro, use a lingerie para você. Ou será que você não merece?
Na outra ponta dessa mania estão os compradores e acumuladores compulsivos. Um vício que cresce silencioso a cada dia. E já ganharam até programa na TV! Quanto desperdício! Quanto prejuízo! Segundo os terapeutas é a compra desmedida para suprir alguma coisa que não tem preço, que não se vende em loja alguma. Por que comprou se não tem serventia? Apenas para acumular? Para falar que tem?
Se não gostou, devolva. Se não serviu, troque. Se não tem troca, doe, venda, distribua. Enfim, faça alguma coisa! Use, ponha em prática! Objetos parados à espera de vida têm uma energia péssima!
Tenho uma amiga que encontrou um jeito ótimo de resolver o acúmulo. A cada peça de roupa ou sapato que compra, um sapato ou uma peça usada é doada. Pronto! Não precisa aumentar o closet nem usar o armário do marido. Achei a ideia ótima e estou em fase de implantação.
Deixo para a posteridade minhas histórias, minhas memórias e alguns discos de vinil que ainda não encontrei quem queira. Se a prosperidade é amanhã ou depois eu continuo sem saber. Mas sabemos que desta vida não vamos levar nada, então, melhor diminuir as bagagens desde já, que quanto mais leve a mala, mais longe conseguimos chegar!

Leila Rodrigues

Imagem: Leila Rodrigues e Juliano Costa à moda antiga em viagem à Serra Gaucha (Rio Grande do Sul).

Olá pessoal,

hoje resolvi repostar este texto. Outono está aí e sempre me remete à alguma coisa muito boa. Não sei explicar. Que o outono nos renove!

Grande abraço



Leila Rodrigues

10 comentários:

  1. Leila, tenho pavor de acumula... Talvez traumas, pois na minha família, mãe e irmãs, são em alto grau, além de compradoras compulsivas. Por isso, se entra algo aqui em casa, sai algo. Tenho esse lema e dá certo! Bom te ler! bjs, chica

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  2. É belíssima a idéia, isso é, mas nem sempre possível de por em pratica. Falo por mim, não nas roupas e sapatos, isso tento doar.
    Há coisas, põe exemplo essa foto linda, que não conseguimos.

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  3. Também penso assim, nada de guardar para usar sem nem saber quando!
    Amei ler aqui!
    Abraços!

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  4. Mais uma linda crônica para as acumuladoras ou não
    ler.
    Não sou compradora compulsiva, mas de vez em quando tenho que me desfazer do acúmulo, que certamente não vou usar.
    Tinha discos de vinil guardados , mas o meu genro resolveu se apoderar. Os jovens também tem fixação por discos de vinil. rsrsrs.

    bjs.

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  5. Adorei, ando obcecada em me desfazer, cada dia coloco em prática. Lembro de uma pessoa que tem roupa pra sair, outra prateleira as de festa, outra para andar em casa, e outra mais ou menos. Essas mais ou menos não consegui saber para que servem. Acho que ficaria louca com isso! Gostei, leila, você sempre apresenta textos ótimos!
    E... gostei da foto!!!
    Beijos!

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  6. Me fez lembrar da minha sogra, que guarda umas louças e talheres para uma "ocasião especial". Todo final de ano eu a lembro de usar, mas ela sempre tem uma desculpa e não retira do armário.
    Acho que esse comportamento é uma doença!
    Abraços e boa semana!

    vitornani.blogspot.com

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  7. Super amei este texto, Leila! De utilidade pública, por sinal, pois quanta gente acumulando o que não precisa, ou o que nunca chegará a usar de qualquer maneira, ao invés de doar, passar adiante a quem mais se agrade!
    Cito aquelas mães que querem se agarras às lembranças de seus filhos bebezinhos - todos já barbados - e não se desfazem de closets inteiros! Claro que se pode guardar alguma lembrança, mas precisa tanto? Sou super favorável ao desapego - acho que até demais rsrsrs. Isso vale para os brinquedos de meus pequenos, para os livros, permito que manuseiem à vontade, nada de "guardar para não estragar".
    Assim como você, para a posteridade quero deixar minhas histórias, meus diários. O restante, faço questão de que eles adquiram por si mesmos, e ao seu gosto!

    Beijo com saudade.

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  8. Bom...eu quero os discos de vinil.
    E quero que você queira transformar suas Palavras em palavras publicadas e impressas num lindo livro de capa de couro duro. Daqueles que a gente não vê mais.
    Eu continuo aqui viu, sempre.
    Duda.

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  9. Oie, me serviu demaaaais este texto, e muitas lembranças foram recordadas com suas palavras... Sempre sabendo expressar e dissiminar sua sabedoria! Saudades... Bjos

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  10. Minha mãe é uma acumuladora nata e no que dependesse dela eu também seria, ainda tenho alguns vícios herdados confesso, mas estou em fase de desapego. Ela simplesmente guarda uma vasilha que foi da mãe dela e perguntei para que? E ela me respondeu que estava guardando para entregar para ela na ressurreição, tamanha certeza que ela tem que vai reencontra-la... Fé e apego são laços indestrutíveis para ela.

    Sua crônica me fez meditar sobre tantas coisas dentro da minha casa e da minha vida... Maravilhosa, Obrigada!

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