domingo, 26 de maio de 2013

Caso de amor e ódio






Caso de amor e ódio



Ela voltou. Sorrateira, silenciosa, sem muito alarde. Já faz três dias que se instalou por aqui. Não me avisou nada, não me ligou antes, simplesmente chegou. Poderia ter-me contactado, eu teria me preparado melhor. Ou então podia ter me enviado uma mensagem, um e-mail. Mas não. Ela resolveu chegar de surpresa.  Ela gosta desses mistérios... Passamos três noites juntos. Cada noite um caso a parte. Se me permite a liberdade vou relatar nossa intimidade.

Na primeira noite ficamos no escuro. Sabe como é? Muito tempo longe... É comum preferirmos a escuridão. Passamos muito bem. Quando o dia amanheceu eu estava um pouco cansado, mas tomei o meu café e consegui chegar ao trabalho na hora certa.

Na segunda noite foi um pouco diferente, preparei um filme, tomamos um chocolate quente, não foi tão difícil assim acender a luz. E ainda tem gente que diz que a primeira noite é inesquecível?! Eu não concordo. Prefiro a segunda, a terceira... Enfim, prefiro quando adquiro intimidade.

Ainda naquela segunda noite eu puxei uma conversa com ela para tentar entender essa volta repentina e seu objetivo. Ela como sempre me disse muito pouco, apenas me sinalizava com um sorriso de Monaliza que queria continuar comigo. E como eu a conheço bem, achei melhor não aprofundar a discussão. Foi aí que eu a convidei para o filme. Ela assistiu comigo, calada como sempre e depois a noite seguiu os seus tramites previstos.

Fui para o trabalho normalmente. Porém, à tarde, toda a minha exaustão veio a tona e eu tive que tomar uns 20 cafezinhos e lavar o rosto 15 vezes. 
Completamente exausto voltei para casa convicto, hoje vamos ter uma conversa séria. Não posso continuar levando esta vida. Esse relacionamento vai me consumir até a morte. Decidido a por um fim nisso, tomei dois copos bem cheios de suco de maracujá para me acalmar e fiquei a espera dela. Hoje temos que nos entender! 

A terceira noite foi essa que acabou de acontecer. Estou tão cansado que desconfio que as minhas faculdades mentais estejam abaladas. Ela chegou, eu tentei conversar, pedi que se retirasse do meu caminho, terminei o relacionamento e nada. Ela ficou ali, parada do meu lado como se nada tivesse acontecido. De raiva, parti para o insulto. Xinguei, esbravejei, soltei todos os cachorros em cima dela e nada. A maldita nem se abalou! 

Completamente acabado, desprovido de minhas condições físicas de sobrevivência, parti para a atitude crucial.  Trêmulo de raiva e cansaço, disparei dois Lexotans garganta abaixo. Enquanto aguardo o efeito desta feita, resolvi registrar estas palavras. Caso eu não volte deste sono, vocês sabem quem é a culpada pelos meus atos.
... Agora se me permitem, vou para os braços do Morfeu.

Leila Rodrigues

Assinatura: Imagem da Internet

domingo, 19 de maio de 2013

Um presente mágico





Olá pessoal,


Falar de mãe é sempre divino, é sempre um encantamento à parte. Um presente mágico  é a realidade de nossas vidas tão corridas e cada vez mais distantes de quem amamos.
Embora a data comemorativa já tenha passado, o meu carinho e o meu abraço para todas essas guerreiras em forma de anjo que aprendemos a chamar de mãe.
Abraços a todos
 Boa leitura!

Leila Rodrigues



Um presente mágico



Rodei todas as lojas a procura de um presente ideal para você. Comprei umas quatro coisas diferentes. Primeiro comprei um jeans para te deixar mais moderna, depois comprei uma jarra, porque a sua está remendada de epóxi, não contente comprei uma camisola, esta um modelito mais comum para manter a tradição e por último comprei uma imagem de Santo Expedito, porque sei que você é devota. 

Mas nada disso tinha me deixado satisfeita. Faltava alguma coisa. Faltava algo que pudesse dizer tudo que eu não consegui te dizer ao longo desses anos. Faltava alguma coisa que pudesse transmitir a minha imensa culpa por ser tão ausente, pelas vezes em que troquei você por outros compromissos que julguei mais importante.

Sabe mãe, a gente passa metade da vida adquirindo coisas. Coisas, compromissos, propriedades, diplomas. E chega um momento em que descobrimos que o que nos deixa felizes mesmo não é nada disso. Aí gastamos tempo e energia tentando se desfizer de todas essas coisas. Acho que estou assim agora, procurando me desfazer de coisas que eu sei que não são tão importantes como pareciam. 

Eu sei mãe que a esta altura de nossas vidas nenhum presente vai dizer por mim o que eu não consegui dizer durante a minha vida toda.  Nada que eu compre ou que eu te entregue, vai pagar a minha dívida com você. Mas ainda assim eu tento e ando de loja em loja à procura deste presente mágico.

Cheguei em casa cansada e ainda com o pensamento no presente ideal. Envergonhada de mim, olhei para todos aqueles presentes e fiquei imaginando o seu sorriso ao receber cada um deles. Mãe, que sentimento é esse que nenhuma palavra é capaz de traduzi-lo? Que laço é esse que nos une, que nem o tempo, nem a distância, nem todas as adversidades da vida conseguem desatá-lo? 

Inconformada com o quão pequeno eram todos aqueles presentes diante do meu amor por você, enfiei tudo em uma sacola, juntei algumas coisas básicas, deixei os meus filhos com o pai deles e peguei a estrada. Um dia inteiro para nós duas foi o meu presente para você. E como foi quente o seu abraço e doce o seu sorriso! Como foi maravilhoso rirmos juntas do doce que não deu ponto; dormirmos na mesma cama como há muitos anos não fazíamos e tomar café com queijo na sua cozinha. 

Este foi o meu presente para você, mas estou certa de que quem ganhou com isso tudo fui eu! O melhor dia das mães que eu poderia me dar! 


Leila Rodrigues

Publicada no Jornal Agora Divinópolis em 14/05/2013
Imagem da internet

domingo, 5 de maio de 2013

Pinceladas de amor no cotidiano do século XXI







Olá pessoal,

Falar de amor nos dias de hoje é tão difícil quanto inventar um conto de fadas. Pode ser que o romantismo tenha ficado mesmo piegas, pode ser que as tantas formas de amar tenham facilitado tanto que cartas de amor perderam o sentido. 
Mas o amor está aí, ele acontece diariamente com um monte de gente. Ele está nos gestos, nos olhares, na vontade de ficar junto, nas poucas e apressadas falas de quem tem que dividir o tempo com o resto do mundo e levar o amor na foto do celular. 
Pinceladas de amor no cotidiano do século XXI  é a minha forma de reverenciar este velho guerreiro capaz de se adaptar e resistir ao tempo, ao novo, ao velho, ao momento e a qualquer mudança que vier, o amor.
Abraços a todos
 Boa leitura!

Leila Rodrigues


Pinceladas de amor no cotidiano do século XXI.


_Estou tão cansada! O dia foi terrível!
_Estou tão disposto!
_Achei que você também estivesse cansado. Você acabou de reclamar do trânsito infernal.
_Disso eu realmente estou cansado, mas para o resto, estou disposto.
_Lá vem você de novo!... 
_Toma alguma coisa comigo? Uma cervejinha pode ser?
_Cerveja não, mas tomo um vinho.
_Entendi. Cerveja engorda não é?!
_É... Mas e o vinho, aceita?
_Claro! O que é que temos para comer?
_Hummm... Tem um pão italiano. Não é novo, mas funciona.
_Esse pão está igual a mim... Rsrs
_Seu bobo! Rsrs.. É só fazer torrada que dá certo.
_Isso é bom! E aquelas azeitonas bem carnudas, ainda tem?
_Tem meio pote, traz aí. 
_Essa azeitona está igual você!
_Olha a ofensa!!!
_Quem disse que carnuda é ofensa? Carnuda é elogio! Quando um homem diz carnuda, ele quer dizer gostosa.
_Tá bom, aceito o carnuda.  E queijo, será que temos? 
_Queijo pode deixar que eu junto o que tiver e trago para a mesa.
_Não esquece a água. Vou pegar as taças.
_Pegue aquelas gigantes, que ganhamos de presente de casamento.
_Por quê? Hoje não é festa?
_É sim! 
_Vamos comemorar o quê?
_Ao melhor lugar do mundo, nossa casa. E a melhor companhia, você!
_Agora fiquei lisonjeada! Romântico você?!
_Romântico não que essa palavra é piegas, sincero.
_Muito bem senhor Sincero, quer saber sinceramente?
_Quero.
_Já estou começando a ficar disposta...
_E eu já comecei esquecer que o dia foi terrível...


Leila Rodrigues
Imagem da internet