quinta-feira, 9 de junho de 2011

A soma do tempo

E eis que eles decidiram ficar juntos. E assim estavam até então. Quanto tempo se passou? Não importa. Quanto tempo se passou entre duas pessoas?  Quanto tempo os uniu e quanto os distanciou? 
Não se conta em dias o tempo de uma união. Conta-se o quanto cada um usufruiu do outro para ser feliz; o quanto, juntos, fizeram, viveram e cresceram. O número de filhos, as noites de paixão, os colos divididos, os choros de emoção. Soma-se o tempo em que as alegrias e tristezas foram partilhadas, sentidas, conquistadas. Soma-se o tempo em que os olhares falavam mais que as palavras e o riso explicava os sentidos.
Diminui-se o tempo que cada um caminhou em direção oposta. O tempo que usufruíram sozinhos suas vidas. Lutando para manterem suas identidades, acabaram se identificando de novo, com outras pessoas, outras paisagens, outros encantos. 
No medo da entrega se entregaram ao mundo e perderam o caminho de volta.
Contas que não se somam mais, listas separadas de interesses e sonhos isolados vão criando forças opostas. O ninho deixa de existir.
A casa ficou pequena. O espaço de um começou invadir o espaço do outro apenas por existir. O caminho mais curto é o  silêncio. O mais prático é a distância. E todo esse tempo entra na conta diminuindo. O que se sobra desse saldo? Um resto de amizade, um fundo de respeito, algum carinho talvez, quase fraternal. Um abismo de distância, olhares que não se cruzam, falas que não se encaixam num diálogo. 
Por que ficar se já não estão? Já estão "idos"  há tanto tempo que levar a mala será apenas protocolo. Um até logo e tudo bem. Sem brigas, sem cenário, sem clichês.
Um fim ético, silencioso e contido. Não menos doloroso que qualquer outro. O fim de duas pessoas que caminhavam juntas mas que, em algum momento de suas vidas descobriram caminhos diferentes... E a velha estrada se tornou impossível! Não ficou tempo nenhum pra sobreviverem. O saldo deu negativo. O estoque da paixão acabou. A adrenalina do desejo deu lugar  a letargia da comodidade. A soma do junto perdeu para o sozinho.
 O pacto acaba aqui? Depende. Nem sempre há forças para retomar o fio dessa meada...
Histórias assim nos pegam completamente de surpresa e nos fazem refletir. Assustam-nos pelo inesperado, pelo sofrimento que não conseguimos perceber com a convivência e que agora se fez atitude. No rosto de quem decidiu pelo fim, um misto de cansaço e alívio. Um sorriso que se traduz em liberdade. Cansadas, por enquanto, essas pessoas não querem nada além de um bom pijama, uma boa noite de sono e seus dias normais. É preciso reaprender o caminho de casa, o lugar sozinho na cama, o espaço novo para as coisas no armário e no coração...
Volto para mim e me pergunto quanto tempo tem que estamos juntos? Tenho vontade de correr até você. Neste momento a quantidade de tempo ficou irrelevante. Nos resta alguma coisa? Voce ainda está aí? Eu continuo aqui. Ainda há algo que possamos querer juntos? Posso esquentar as suas mãos... Vamos tomar um café?... Põe aquela música que era a nossa, lembra?... Se veste de nada, minha roupa favorita!... Olha que eu ainda posso ser difícil! ... O vizinho de baixo vai ouvir!... Nós ainda podemos...

Leila Rodrigues

Um comentário:

Obrigada pela visita. É muito bom ter você por aqui!
Fique à vontade para deixar o seu recado.
Volte sempre que quiser.
Grande abraço