sábado, 8 de junho de 2019

De quem viaja muito





Da janela do carro eu vejo a paisagem. Tempo seco. Sofrido. Faz um pouco de frio. O suficiente para eu tirar o casaco do armário. Gostaria de ter nascido em algum lugar frio. Mas o sangue quente que corre em minhas veias combina mais com o calor dos trópicos. Vim nascer aqui no interior de Minas Gerais.
Voltando à viagem eu continuo viajando. Penso na prova de inglês do meu filho, penso no meu irmão, penso nos cachorros se estão se dando bem, penso na massa de biscoito que esqueci na geladeira e vai perder.
É assim a vida de quem viaja. Uma viagem só! A gente pensa no que ficou e pensa no que nos espera. Torço para que eles fiquem bem e invoco os anjos para tomarem conta de todos enquanto eu fui ali.
A mala quase se faz sozinha. O pijama, as meias, o livro que vai me fazer companhia. Do lado de lá o quarto que será a minha casa me espera. Cada dia é um diferente. Sempre sem identidade, à espera de qualquer um que chegar. Quartos de hotel são sempre beges. São sempre frios e silenciosos. Lá não tem cachorro, não tem filho gritando “manhêêê” e não tem meu marido pra me contar sobre a nova série. Lá também não tem minha cozinha, meus apetrechos culinários e muito menos a velha e boa poltrona onde leio meus livros.
Mas eu já aprendi a criar meu habitat em qualquer canto, basta eu chegar. Aproveito a estadia para usufruir da minha própria companhia. A vida ensina que é possível viver com muito pouco.

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: https://amenteemaravilhosa.com.br/homesickness-saudade-de-casa/


Olá pessoal,

de viajar eu posso falar porque realmente viajo muito. Já viajei mais, já fiquei fora por mais tempo. Hoje meu caminho tem sido a Estrada real, entre Divinópolis e Juiz de Fora, além de São Paulo, quem sempre vou em função do trabalho.
Já sofri muito por causa das distâncias. Já chorei por não assistir a apresentação do meu filho, já perdi comemorações... mas um dia descobri que o que importa não é a quantidade de tempo que temos com quem amamos e sim, como usamos este tempo. 
Hoje valorizo este tempo. Não tem preço estar na minha casa e tomar meu café da manhã na minha cozinha. Não te preço estar com as pessoas que me são preciosas. 
E é por eles que eu vou e volto feliz!

Grande abraço

Leila Rodrigues



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