domingo, 25 de agosto de 2013

Silêncio





Enquanto calo
é comigo que falo

E se me silencio
sombrio
perdido no vazio
é apenas para aquecer
esse meu coração frio

Leila Rodrigues
Imagem da internet

domingo, 18 de agosto de 2013

La belle de jour




Onde está a beleza? Na perfeição das curvas? No frescor da mocidade? Ou seria na precisão de uma produção bem feita?
A beleza pode estar na perfeição, mas não sobreviverá a ela. O conceito de beleza é muito relativo, principalmente para quem já passou dos 17 anos.
Naquela tarde de inverno, eu aprendi que a maquiagem mais perfeita que uma mulher pode usar no rosto é a autoestima. Aprendi que a verdadeira beleza transcende às formas... E voltei para casa querendo ser igual a ela.
Sem pretensão nenhuma ela chegou à festa. Seu olhar alegre dizia a todos o quanto ela gostava da vida e o quanto a recíproca era verdadeira. Sem muito que explicar.
Ela não trajava o melhor vestido, não calçava o melhor sapato e nem tinha as curvas mais perfeitas da festa. E cá entre nós, isto para ela não fazia a menor diferença. Misturava-se às outras sem a menor cerimonia. Não era a mais velha, nem tampouco a mais nova.  Não queria mostrar nada e nem precisava esconder nada de ninguém. 
E ainda assim ela se destacou das demais. Marcou presença por onde passou. Deixou seu rastro em cada roda de conversa que chegou. Não foi seu perfume que ficou no ar, nem a marca da bolsa cara que ela não usou. Deixou em todos a vontade de continuar um pouco mais a seu lado, de usufruir mais da sua doce companhia. 
Comeu com gosto e bebeu com prazer. Cumprimentou com verdade e desejou com o coração a cada vez que apertava a mão de um conhecido ou que abraçava um amigo. Não seguiu nenhuma cartilha, não ateve-se aos clichês, apenas representou o seu mais genuíno papel, si mesma. 
Usou o melhor de si e obteve o melhor de todos. Seus gestos, falas e sorrisos substituíram perfeitamente quaisquer aditivos que outra mulher pudesse ter escolhido para aquela tarde. Suas atitudes ditaram suas intenções, seus anseios e percepções sobre o mundo à sua volta. Falou do que entendia, riu e aceitou o que não entendia muito bem. Não ostentou nem se intimidou. Ocupou apenas o seu espaço e por isso mesmo roubou a cena.
Não foi para ser vista, foi para viver. E viveu cada minuto. E experimentou a delicia de estar, sem se preocupar com a nota que a mulher ou o homem do lado lhe daria. Preocupou-se apenas em se divertir, em ser a pessoa que sempre foi.
... E contrariando todas as outras supostas concorrentes, aquela que nem concorria, acabou sendo eleita por todos, a mais bela da tarde!




Leila Rodrigues
Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 13/08/2013

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O dom de ser feliz






Há alguns dias comentei com um amigo que eu estava sem inspiração para escrever. Para minha surpresa, ele achou perfeitamente plausível e ainda me disse que o que move o ser humano é a dor. Se está tudo bem, não há nada a ser curado, não há inspiração. 

De fato é bem mais fácil dividir nossas tristezas. A dor dá mais ibope que a alegria. Se a escrava Isaura tivesse sido alforriada no primeiro dia da novela, ninguém teria assistido o capítulo seguinte. Mas como a coitada sofreu a novela inteira, milhares de pessoas assistiram até o fim a saga da escrava branca.

Porém, considerar o sofrimento como padrão faz com que as pessoas tenham vergonha de ser feliz, de comemorar, de dizer que venceu. O atleta ao ganhar a medalha, começa a entrevista justificando que foi com muito esforço. O empresário de sucesso começa o discurso falando de quando não tinha sapatos. Todos gostam do sucesso, mas precisam se justificar para serem merecedores desta graça. E como o céu é o lugar dos fracos e oprimidos, os felizardos que se expliquem porque senão vão todos para o inferno. E eles se explicam o tempo todo.

Então meu amigo, para você que me disse que sem dor, sem inspiração; contesto! Com dor ou sem dor, a inspiração há de chegar. O que nos inspira de verdade é a vida. O movimento da vida é campo vasto para toda e qualquer inspiração. E são artistas, são poetas, são pessoas simples e comuns, são pessoas de todos os tipos que se inspiram na felicidade para fazer suas vidas melhores. 

Amores se vão, pessoas e coisas também e essas pessoas estão lá, felizes pelo fato de estarem vivas. Não que essas pessoas não sofram, pelo contrário, elas passam por tudo que qualquer pessoa normal passa. O que as diferencia é a grandeza de saber olhar para o sofrimento e decidir não cultivá-lo. 
 
São pessoas que optam pela felicidade muito antes de saber onde ela estará. Pessoas que sofrem caladas para não fazer outros sofrerem. Pessoas que tem certeza absoluta de que a felicidade não está no fim do caminho porque a felicidade é o próprio caminho. São pessoas capazes de transformar o mundo. Seja transformando um pedaço de madeira em escultura, um monte de barro em obra de arte, uma conversa de boteco em música ou um dia comum de trabalho em uma grande aventura. Elas transformam seus dias, seus habitats, seu universo... E todo o resto se sente transformado a seu lado.


Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 30/07/2013
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