A madrugada sempre
foi um convite à vida para mim. Acordar no meio do silêncio e ouvir apenas os
primeiros passarinhos e o som dos meus pensamentos. Acostumei-me de tal forma
com este momento só meu que hoje o recebo de braços e coração abertos. Se
estiver triste, é na calada da noite que encontro sozinha a minha dor e dou a
ela o colo que ela precisa. Se estiver feliz, é no silêncio da madrugada que me
felicito e agradeço as dádivas recebidas. Sendo assim, madrugada é para mim um
movimento. Movimento meu comigo e com o Criador.
Ainda ontem tinha
motivos para não dormir. A dor e a solidão das minhas decisões me fizeram
acordar. Triste momento que não podemos transferir para ninguém. Restava-me
remoer sozinha. E lá estava eu assistindo a cortina escura da noite se desbotar
aos poucos. Eu precisava encontrar em mim algo que me fortalecesse. A manhã
seguinte me aguardava forte e firme.
Voltei a todas as
decisões difíceis que tomei na vida, reconheci cada uma delas como minhas e
tomei novamente posse das consequências que me trouxeram. Era como voltar a
Santiago e percorrer de novo o árduo caminho de Compostela. Por que alguém pode
querer rever os momentos difíceis que teve na vida por livre e espontânea
vontade? Cheguei a duvidar dos meus propósitos. Mas segui em frente a minha
trajetória. Às vezes é preciso voltar no tempo e reconhecer as forças que já
não percebemos mais.
Encontrei a menina
magricela que tinha medo da cidade. Encontrei também a adolescente de cara
pintada que foi para a rua brigar pelo direito de votar. Confesso quase não me
reconheci! Encontrei-me em São Paulo buscando um lugar ao sol, na cidade cinza.
Que paradoxo! Encontrei-me chegando nesta cidade tentando achar algo que se
identificasse comigo. Eu, eu mesma e a coragem que eu nem sabia que vivia em
mim. Mal sabia que aqui eu criaria minhas raízes. O ser humano precisa de
raízes, seja para enfrentar o vento, para receber os brotos ou para se
replantar quando a vida vier com suas podas.
De posse das minhas
forças olhei o tempo e vi que já era dia. Não havia mais tempo para continuar a
minha viagem. Lá fora o mundo espera que eu seja apenas realidade. Sem sonho,
sem choro nem vela. Um banho e um café
vão me trazer de novo para o chão.
Melhor me apressar
que a vida não permite atrasos! O trem que passa hoje, não é o mesmo de amanhã.
Leila Rodrigues
Imagem da internet – Cidade de Divinópolis de
madrugada
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em
03/03/2015
...por isso que que eu não
ResponderExcluirabro mão das madrugadas,
seus silêncios, e sua paz
que só os notívagos sabem
bem o que é.
por incrível que pareça
meus melhores pensamentos,
minhas melhores escolhas
e decisões sempre nasceram
sob a luz da lua este astro
magnífico que a todos encanta,
e a mim deliciosamente inspira
enquanto a cidade dorme.
deixar de ler você?
jamais...
te amo, alma linda!
Concordo plenamente com a Vivian. Sou um vampiro com lua ou sem ela. E caminhar sempre, seguir sempre. De quando em vez uma olhadela sobre o ombro pra vê o que passou.
ResponderExcluirbeijogrande
Perfeito!
ResponderExcluirAs madrugadas envolvem-nos, levam-nos para outros horizontes, encaminham nossos olhos para dentro de nós, dão outra dimensão à vida.
Quando amanhece... temos um outro mundo à nossa espera!...
Beijo, Leila!
AL
O silêncio, a quietude fria, a nostalgia da madrugada são elementos que favorecem o meditar, o achar estratégias para agirmos. Soluções para nossas dúvidas e questionamentos. Sou adepta!
ResponderExcluirAbraço.
Boa noite, Leila.
ResponderExcluirNão fico mais nas madrugadas pensando na vida, nas decisões, elas me consomem o dia todo e não chego a nenhuma conclusão.
Quando a intensidade é forte demais, daí, as madrugadas gritam em meus ouvidos, nem a falta de som elas respeitam, ao contrário, fico ensurdecida com sua voz.
Seu texto é maravilho, diz muita coisa, faz uma reflexão profunda nos convidando a não deixar o momento passar, seja ele triste ou feliz, no que eu concordo plenamente.
Tenha uma semana de paz.Beijos na alma.
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