A fila era gigantesca. O shopping lotado, o ar condicionado
não dava conta do recado e aquela barba que causava uma coceira dos
infernos. Não via a hora de encerrar o expediente e voltar para casa.
Pensava
no quanto aquele dinheiro extra iria ajudar, no terceiro filho que
estava para nascer e no rosto daquelas crianças emocionadas e assustadas
ao mesmo tempo. Calçou novamente as botas e tomou o seu lugar. Esse era
o seu trabalho extra há 11 anos, desde que engordara pela primeira vez.
Dali para frente, seu emprego de Papai Noel foi garantido.
Uns
vinham com o pai, sempre apressado. A maioria com a mãe, sempre
preocupada com a foto e muito poucos vinham como aquele menino de uns 14
anos, sozinho.
- Oi,vou sentar no seu colo não tá! Tô grande e sei que você não existe.
- Tudo bem, mas então por quê veio? Por quê enfrentou essa fila imensa?
- É que eu queria te falar uma coisa. Uma parada aí que tá rolando comigo.
- Pois então diga.
- Cara, sonhei com você! Pronto falei! Eu sonhei com o Papai Noel e agora tô aqui te contando esse mico, veio! Pode isso?
- Claro que pode? Tanto pode que aconteceu. Mas me conte, o que foi que você sonhou?
- Brow, eu sonhei que você era meu pai.
-
Mas isso é comum, muitas crianças sonham que eu sou o papai ou que o
papai sou eu. É porque os pais compram os presentes e eu entrego.
-
Veio, cê num tá entendendo, eu num tenho pai não! De onde foi que eu
tirei essa doideira de sonhar com você? Já imaginou se a minha turma
descobre que eu tô aqui, eu tô ruim na fita pra sempre! To fora do bando,
entendeu agora? Só vim aqui te contar porque achei sinistro demais. Mas
já tô vazando...
- Não, relaxa, já que você chegou aqui, vamos, pelo menos, tirar uma foto.
Nervoso,
com as mãos trêmulas, aquele menino sentou no colo do pseudo-velhinho e
o abraçou com toda sua vontade. Tão emocionado quanto o menino, o
homem correspondeu de imediato. Ficaram assim abraçados por algum tempo
até que finalmente alguém chamou para a foto.
Na
foto, dois pares de olhos inundados de emoção eternizavam um momento
único na vida daquelas duas pessoas. Nunca mais se cruzaram e nem sequer
perguntaram o nome um do outro. Mas levaram para sempre a imagem de
alguém que fez um dia especial em suas histórias.
Leila Rodrigues