Em cada banca uma cor diferente, um sabor diferente! Era
assim que ela enxergava aquele mercado de hortifrúti. Para ela, a hora de
escolher, cuidadosamente, o alimento da semana é um momento único! Um ritual
que ela cumpre, religiosamente, toda sexta-feira bem cedinho.
Gosta de tocar as frutas, de sentir a textura, de observar o
brilho e cor de cada uma. E também gosta de cheirá-las. Ah! O cheiro! Cada fruta, cada folha, cada
legume, um deleite. Ela para e vagarosamente sente o cheiro de todas que agrada.
A maçã, o abacaxi, a manga, o caju, como cheiram maravilhosamente bem! As
folhas, manjericão, couve, hortelã, em cada uma, um perfume à parte.
Ela sempre soube fazer daquela obrigação ingênua um momento
especial. O faz com prazer! Cheirar, sentir, tocar e escolher. Pensa na semana, nos pratos, na preparação, na
boca das pessoas ao comer, no olhar, depois de saborear, que dá a nota final e
verdadeira ao prato. Todos esses fatores devem ser lembrados e considerados na
hora de escolher os alimentos. Ela, carinhosamente chama esse ritual de
colheita seca, uma vez que não pode apanhar suas frutas, folhas e legumes
diretamente da terra úmida de uma horta fresca.
No auge da sua maturidade, ela desfila entre uma banca e
outra de frutas e leguminosas, como uma Noniforte, uma verdadeira deusa.
Simpática, radiante de vida, ela cumprimenta a todos enquanto faz as suas
escolhas. Questiona, pergunta o preço, negocia, conversa, conta um caso. Enfim,
faz questão de tomar parte daquele ambiente tão simples e tão especial. São
pessoas que hoje já conhece, já sabe a história, já divide muito mais que um
sorriso de bom dia.
Do lado de lá do balcão, os vendedores apreciam aquela
mulher tão cheia de vigor. Tão cheia de energia, de vitalidade! Não é difícil para quem a observa, imaginar
que sua alma tem o mesmo colorido das frutas e o seu cheiro, a mesma
intensidade de um manjericão fresco. Já não é jovem, mas mantém uma beleza de
quem não tem medo do tempo.
Ela, ocupada com o momento, nem percebe o quanto a sua
presença é capaz de modificar todo o ambiente. Tem muitas outras coisas mais
importantes na cabeça do que a preocupação de agradar ou não. Simplesmente vai.
Deixando pelo caminho, um rastro de encantamento muito diferente de todas as
outras mulheres daquele lugar.
Leila Rodrigues