Olá pessoal,
De todos os laços que criamos,
nenhum deles consegue ser mais forte do que o laço que criamos com nossas
famílias. É algo que vai muito além do que se pode explicar.
Este texto eu dedico a todos os casais
que se propõem a formar uma família. De todas as missões que temos na vida,
esta é, sem dúvida a mais espetacular delas.
Aos meus queridos e amados pais (Sr. Déco
e Dona Neusa) a minha eterna gratidão por ter vindo a este mundo através de
pessoas tão nobres como vocês.
Dia de filha, uma gota de alegria na vida de quem mora longe dos seus.
Boa leitura a todos!
Abraços
Leila
Rodrigues
Dia de filha
Depois da curva
tem um flamboyant. Que nesta época do ano, quebra o verde do mato com seus tons
de fogo. Meu coração se alegra quando passo. E me imagino deitada no chão
coberto de flores... Ah! Tudo podia ser tão mais simples!
Deixo o
flamboyant para trás e sigo firme na estrada. As primeiras construções começam
a surgir entre as serras. E o meu coração parece o flamboyant que deixei na
estrada.
É cedo. Muito
cedo. A cidade pequenina mal começa a acordar. Quero chegar com o aroma do café
coado na hora. E o cheiro de biscoito frito ainda recendendo pela casa.
Só de lembrar
que hoje não tenho que usar salto, nem maquiagem e que meus cabelos podem
seguir o vento sem culpa, já me sinto descansada.
De todos os
hotéis que já visitei neste mundo, este é sem dúvida o que eu pagaria qualquer
quantia para me hospedar. De todas as cidades lindas e maravilhosas que eu
conheço nenhuma delas toca meu coração como aquela placa velha de boas vindas
que no meu primeiro baile eu dormi abraçado a ela. Minha cidade. Minha
infância. Meus pais.
Quando entrei na
casa de piso frio, no meio do silêncio da manhã e dos primeiros raios de sol,
os dois conversavam tranquilos sobre o pé de acerola que precisava ser podado.
Fiquei parada em silêncio, ouvindo uma aula de 52 anos de união. Ela ainda põe
mais açúcar no café dele. E ele, espera ela se assentar do seu lado para
começar o café da manhã. Há tempos não dizem que se amam, há segundos se
falaram com os olhos.
O susto com a
minha chegada interrompeu o momento mágico. Seus olhinhos brilhantes reforçaram
em mim a certeza de ter feito a escolha certa. Aqui estou eu para viver
dois dias de filha. Dois dias sem cliente, sem fornecedor, sem CNPJ, sem meta,
sem trânsito.
Dois dias para
comer banana frita sem me lembrar do endocrinologista. Dois dias para ser
apenas a filha deles. Dois dias para relembrar o quanto tudo é tão simples e
tão pequeno. Dois dias para ser de novo a menina que adora abóbora com carne de
sol. Dois dias de criança no meio da minha vida tão adulta.
Faltam-me as
tranças de tempos atrás e as canelas finas que subiam nas árvores. Sobra-me
disposição para ouvir a mesma história pela décima vez e a discussão dos dois
sobre o padre que fez meu batizado. Eles cochilam no meio da conversa e agora
sou eu que os coloco para dormir.
Tudo passa tão
rápido. Se será pouco ou muito não sei precisar. Mas te digo que serão dois
dias mágicos. Dois dias para lembrar de novo todas as histórias que eu fui
protagonista e nem me lembrava mais. A criança que um dia foi no tororó
beber água e não achou, retorna à fonte e descobre a verdadeira magia desta
água.
Nem ouse em me
tirar daqui, porque eu só volto depois de me afogar.
Leila Rodrigues
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