Quando eu tinha 17 anos eu achava qualquer pessoa com mais de 30 anos velha. Os 30 chegaram e eu percebi que ainda tinha tantos ou mais projetos que quando eu tinha 17. E então eu entendi que o número de anos vividos não tinha uma ligação tão direta assim com a velhice. Isso é algo que só aprendemos com a prática, ou melhor, com o tempo. E comigo não foi diferente. Aos 30 eu realmente fui movida por uma disposição incrível. Filhos, família, trabalho, estudo, tudo junto e misturado para se chegar a algum lugar.
Os 40 chegaram e foi como começar tudo de novo. Se a vida começa aos quarenta então eu estava praticamente nascendo. Bem, na prática a teoria é outra, o ditado exagera um pouco mas não deixa de ser um incentivo a mais. O ciclo de amigos pode ficar menor, mas as amizades são mais intensas e verdadeiras, porque aos 40 a quantidade importa pouco.
Aos 40 você quer fazer coisas que nunca fez porque estava ocupado demais com o seu futuro lá atrás. Aos 40 você quer cantar as suas músicas favoritas e que se dane as novas. Aos 40 as pessoas contam mais que as contas e não se deixa para amanhã o que não pode ser feito ontem.
À medida que os 40 avançam você percebe nitidamente a conta da farmácia crescendo e a do biquini diminuindo. Naturalmente você se vê introduzindo um remedinho para a pressão, depois outro para a hipotireóide, depois um omega3 e a cada ano você repete o mesmo biquini porque já não o usa tanta assim.
Mas isso não significa necessariamente que você esteja velho. Digamos que a máquina agora precisa de uma manutenção mais frequente, mas continua funcionando bem obrigada. Muito provavelmente para um rapaz de 17 eu seja praticamente idosa. Mas isso não me afeta, afinal, ele só tem 17 anos e talvez ainda não consiga enxergar um horizonte tão longínquo. Porém para mim, que estou aqui escrevendo, vivendo, trabalhando, de malas prontas para o Show do Rollling Stones e cheia de projetos, velhice tem um conceito diferente.
Não vou negar que na minha mala hoje tem hipertensivo, sapato da linha conforto e meias que eu uso para dormir. Mas tem também uma roda de amigos dispostos a se divertirem que me acompanham e fazem a minha viagem valer a pena. A minha maior bagagem agora é a história que eu carrego comigo. Se isso é velho ou novo, não faz a menor diferença! Envelhecer não é uma escolha, ser feliz sim!
Leila Rodrigues
Olá pessoal,
Escrever para mim é algo que não consigo programar. Acontece. E quando alguém faz uma “encomenda” de um texto com um assunto específico, geralmente deixo a inspiração chegar no tempo dela e um dia a coisa acontece. Este texto é continuação de uma discussão entre amigos onde um falou a frase fatídica: "É! Estamos ficando velhos!”… O assunto rendeu e terminamos com muita risada e descontração. Em resumo descobrimos que estamos ficando velhos e melhores. Melhores como pessoas, como amigos, como filhos, como pais, como esposa e marido, enfim, sem bater de frente com a lei da gravidade, estamos melhores como pessoas.
Grande abraço e que o tempo nos faça pessoas melhores!
Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis (23/02) e no JC Arcos (27/02)
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