quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Encontro marcado



Ele bate à porta. E eu receosa não sei ao certo se devo abrir. Ele cumpriu o combinado e chegou com a precisão de um Lord. Eu, embora soubesse que ele chegaria, me perdi na confusão dos últimos dias e agora não sei o que dizer a ele. Arrumei o cabelo para esperá-lo, comprei vinho, fiz as unhas mas esqueci de preparar o meu coração para esta hora. Sei que ele não vai embora. Vou ter que abrir a porta. A ansiedade começa a me consumir.
Ele esperou muito e eu também. Agora não tem como fugirmos. Seremos nós dois de qualquer jeito. O problema é que ele quer que eu o receba com um sorriso, mas antes eu preciso enxugar as minhas lágrimas. Ele quer que eu o abrace, mas o peso das minhas bagagens não me permite. Ele me quer leve para viver com ele uma grande história. E eu me pergunto até agora como ficar leve diante de tudo que vivi nos últimos tempos. 
Às vezes queremos tanto alguma coisa e quando ela chega não sabemos direito o que fazer. Estou assim agora. É que realmente não está sendo fácil. Eu tenho lutado uma luta insana para dar conta de mim! E em alguns momentos eu desejei que ele chegasse. Eu tinha esperança de que, com a sua chegada algo em mim mudaria e num passe de mágica eu seria uma pessoa melhor, mais equilibrada, mais tranquila, menos apressada, mais persistente, mais cuidadosa, enfim… eu fiz tantas promessas em seu nome que agora que eu sei que ele está do lado de lá desta porta me dei conta da responsabilidade que coloquei em suas mãos.
Sabe de uma coisa? Abri a porta. E vou te dizer logo de uma vez que você não deve confiar muito em mim. Tudo que eu te disser será fruto da emoção do nosso primeiro encontro e que com três meses de convivência você vai descobrir quem eu sou de verdade. Eu faço terapia, tenho medo de barata, sou chocólatra, canto as músicas do Elvis no banheiro e não sei cozinhar. Em contrapartida eu não fumo, gosto de bichos e um dia ainda aprendo a meditar. Não tem como eu apagar a minha história até aqui e começar do zero, eu sou tudo isso que vivi! Mas saiba que você é muito bem-vindo em minha vida e que eu te quero muito bem. Sem promessas e sem clichês eu espero que passemos juntos uma ótima temporada. Que seja verdadeira a nossa convivência e que a gente consiga explorar o melhor um do outro. Seja bem-vindo 2016! Eu estou pronta para vivermos mais uma história de amor! 



Leila Rodrigues

Caros leitores,

chegamos ao final de mais um calendário. Amanhã… tudo continua! Cada um de nós com nossos projetos, nossas expectativas, nossos problemas e nossa difícil e deliciosa tarefa de nos equilibrarmos entre nossas escolhas e suas respectivas consequências.
Um 2016 repleto de boas energias, disposição e muita luz!!!

Grande abraço

Leila Rodrigues


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Ressaca do bem



Perdeu a hora, mas nem se importou. Esse é o único dia em que ela se permite acordar mais tarde. Um café forte vai ajudar. Saiu do quarto e observou à sua volta:
Destroços de papéis de presente espalhados pela casa mostravam que por ali houve algazarra. E alegria! No silêncio da casa, agora vazia, ela ainda conseguia ouvir os ecos das falas de cada um, falando tudo de uma vez. Era sempre assim! Primeiro uma oração para agradecer o ano e lembrar dos que se estão longe. Ela sempre chora, mas tem sempre um que faz uma piada e quebra o gelo daquela hora. Todos falavam ao mesmo tempo. Falam dos filhos, dos netos, dos que não vieram, das conquistas. Mães competem umas com as outras elogiando suas proles. Homens falam dos seus times e contam do carro novo, da crise e da reforma da casa. Os mais jovens fazem selfie e os mais velhos reclamam da tecnologia. Pequenos correm e gritam ao mesmo tempo. É muita fala para uma noite só! E cabe tudo na ceia.
Crianças avançam afoitas em seus presentes. A alegria está nos olhos de cada uma delas. Alguns se emocionam, choram, coraçãozinho dispara. Pena que, em 10 minutos, já abriram, já testaram, já estragaram e já desmontaram os presentes. E ainda tem aqueles que mal ganharam o presente e já começam a pedir outro.
Na mesa, comida para 8 dias e o dobro de convidados. Com medo de faltar, faz-se, além da leitoa, do peru, do arroz com castanhas, das frutas e dos panetones; um feijão tropeiro, uma tábua de frios, uma carne de boi ao molho madeira... Enfim, é comida que não acaba mais! Tudo permitido! Mesmo porquê, não comer o que uma fulana trouxe é desfeita.
As tias, que só tomam leite de soja, entram no  espumante. Docinho, refrescante e ainda na taça com aquelas bolhinhas sensuais. Ah! Vira água! Dá para imaginar o resultado! Dançam, cantam, choram, riem, gargalham, choram de rir, choram de chorar, se abraçam, se desentendem e se entendem novamente. Tudo em uma única noite! Isso é mágico!
Agora ela anda pela casa vazia. Enquanto junta os papéis, refaz o filme da noite anterior. Seus filhos lindos, quanto mais velhos mas lindos. Seus netos, seus parentes todos. Como é bom juntar a família, e poder celebrar a alegria de pertencer ao grupo. Voltar ao ninho e celebrar o nascimento do Pai.  Esta é a forma que encontramos de renovar nossos laços com aqueles que já nascemos entrelaçados.  Se é certo ou não, se o espírito natalino se perdeu, se o consumismo tomou conta, ela prefere não julgar. Para ela, fica a certeza de ter renovado seu profundo amor para com todos que estiveram ali.

Leila Rodrigues


Olá pessoal,

“Ressaca do bem” é uma das minhas crônicas favoritas. Retrata a realidade de nossas casas, de nossos Natais tão nossos e principalmente daquelas que, sem sequer saber o poder que tem, reinam absolutas em nossas casas, nossas mães. Essas guerreiras que a primeira vista parecem tão frágeis e que com estratégia e maestria nos criam e nos transformam em pessoas de bem.
Desejo um feliz Natal a todos os leitores do Palavras e que consigamos enxergar e aprender com nossas mestras o verdadeiro espírito natalino. Feliz Natal!
Grande abraço



quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Tempo bom



É preciso mais que disposição para enfrentar o dezembro. Meta para bater, prazos para cumprir, provas, TCCs, planejamento do ano seguinte, apresentações, fechamento de ciclo. A sensação que temos é que não vamos resistir. E ainda tem os presentes, os preparativos das festas natalinas, o encerramento do exercício, do ano letivo, do calendário. Naturalmente corremos para encerrar este ciclo que nada mais que é que um dia depois do outro, mas que pelo simples fato de alterar um número no calendário, modifica nossas vidas. Uma verdadeira loucura! E como não poderia ser diferente, no meio desta loucura, encaixamos como podemos as confraternizações. Já é parte da nossa cultura confraternizar.
Formatura, turma do trabalho, do inglês, da gastronomia, do futebol, dos amigos, dos vizinhos, da família dele, da família dela, ufa!!! São muitos encontros para um mês só. É hora de juntar as pessoas que, de alguma forma nos ajudaram a carregar o ano. 
Confraternizar não precisa ter necessariamente comida, bebida ou presente. Confraternizar pode ser um grande evento ou pode ser ali na padaria, no buteco da esquina, na casa de um ou  no quintal do outro. Confraternizar não tem regra. Pode ser a dois, a quatro ou a duzentos e cinquenta pessoas.  Só tem uma coisa que é comum em qualquer confraternização, o abraço. Abraço é universal. Abraço não precisa de embrulho. Abraço cabe em qualquer lugar. E é indispensável em qualquer confraternização. 
Dezembro deveria se chamar “deabraço". É o mês do abraço. É o tempo de abraçar. O mês é pequeno para tantos compromissos, mas não para os abraços. E é no abraço que damos o recado que não foi possível dar enquanto estávamos ocupados demais com nossas tarefas, com nosso dia-a-dia. É na força do abraço que dizemos ao outro o quanto ele é importante para nós. É no abraço que matamos a saudade. É no abraço que fortalecemos nossos laços. Um abraço sincero recupera nossas energias, quebra nossas resistências e alimenta nossos corações famintos. Abraçar é envolver o outro em nós! 
Então abrace. É dezembro! Encerre seu ano com um grande abraço! Abra seus braços e se prepare para dar e receber os abraços que estão por vir. Abrace uma causa, abrace um propósito. Abrace seu filho, abrace seus pais, abrace com carinho, abrace devagarinho, abrace sem dizer, abrace pra valer e deixe assim seus braços falarem por você! 

Leila Rodrigues

Imagem da internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos


Olá pessoal,

e estamos nos despedindo e 2015. Hora de abraçar e agradecer a cada um de vocês pelo carinho aqui no Palavras. Este ano o blog ficou inativo por um tempo e depois, com o incentivo de vocês, decidi retomá-lo e ainda mais, repaginá-lo. Agradeço de coração a cada visita que fizeram ao Palavras, a cada palavra de incentivo, seja aqui no blog ou por email e principalmente agradeço pelo seu tempo ao ler as crônicas. Valeu pessoal!! Deixo aqui um abraço a todos, minha gratidão e meu carinho!
Que todos vocês tenham um Natal de laços e presenças verdadeiras!
Grande abraço


Leila Rodrigues

domingo, 13 de dezembro de 2015

Alice



Lembro das minhas botas gastas de tanto andar. O caminho de casa até o colégio era longo, mas não era mais longo do que as tardes sem você. Fazia frio, a neblina cobria a cidade e você me esperava na esquina para irmos juntos toda manhã. Você tocava meu gorro rosa com as duas mãos e eu me sentia inteiramente aquecida. Eram nossas manhãs ingênuas. Um coração desenhado no caderno. Aquela música tocando em algum lugar e todos os meus livros espalhados na cama. Eu era apenas Alice e o universo me esperava para descobrir todas as estrelas do infinito.
Entre provas, canetas coloridas e livros eu escondia a nossa história. Brincávamos de ser e éramos sem saber. Éramos um do outro. Éramos de cada um. E os sonhos que sonhamos juntos não couberam em lugar nenhum sozinhos.
No fundo eu sabia que outros encantos te encantariam e que a minha grande viagem ainda estaria por vir. Mas você fechava os meus olhos com um beijo e eu fingia que acreditava que seria sempre assim. E abraçados cantávamos juntos que "o caminho é um só”, mesmo sabendo que na manhã seguinte cada um tomaria um rumo diferente. 
Foram-se os bilhetes, o meu caderno eu não tenho mais. E você meu cavaleiro de todos os sonhos, foi-se na névoa daquele inverno e nunca mais voltou. Às vezes tenho saudade de mim e outras vezes de você. Mas o tempo não me permite parar para lembrar. A vida hoje acorda cedo e quando chega a hora de sonhar eu já estou de pé. Demorei muitos anos para entender que o amor não vem em um cavalo alado descido dos céus e que príncipes e princesas hoje deixaram seus castelos e caminham juntos no asfalto lotado de gente. 
Foi-se a realeza e que seja muito bem-vinda a realidade! Ainda insisto em ter os cabelos longos, atendendo ao seu pedido de nunca cortá-los. Nunca mais fiz provas de física e o meu gorro rosa virou caridade. 
Ah que falta me faz minha avó e o café quentinho que ela sempre tinha para mim. Foi com ela que chorei a falta de você. E foi ela, a minha avó, quem me ensinou que a temporada dos príncipes dura menos que um conto de fadas, mas permanece eternamente em nossos corações, como serena lembrança de um tempo mágico que não volta nunca mais.

Leila Rodrigues







Olá pessoal,

Depois de três anos falando sobre tecnologia, Alice é a primeira crônica que escrevo para a Revista Xeque Mate. Uma deliciosa viagem no tempo. Neste tempo mágico de nossas vidas que acaba escondido na névoa dos dias comuns abarrotados de compromissos. Lembrar nossos amores é viajar em nossa própria história. O título uma homenagem à Alice, esta menina linda da foto, que eu tenho a honra de ser tia. Alice é inteligente, é moderna, é ela! Capaz de conversar muito bem sobre qualquer assunto, gosta de ler, de estudar e não vê limites no seu céu. Alice, te ver crescer assim tão linda, me fez lembrar da minha história, me fez voltar ao eu tempo de Alice. 
Muito obrigada Giovanni Lima, um grande amigo e incentivador das minhas crônicas pela oportunidade de fazer mais uma vez o que eu gosto de verdade, escrever. Aqui falaremos de amor, das histórias escondidas atrás dos nomes, de homens e mulheres comuns, como eu você, mas que carregam em si, os verdadeiros contos de fadas!

Grande abraço

Fotos de Vinícius Costa




quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Ponto cego





Já faz alguns anos que eu comecei a trabalhar com os paulistas. Posso dizer que aprendi muito com eles. E esta é mais uma das minhas peripécias paulistana. Aconteceu nas minhas primeiras idas a trabalho a São Paulo. Mineiro quando vai para São Paulo se esbalda no casaco. Fazia frio. Frio com chuva. Coisa comum em São Paulo. E eu me enrolei num cachecol gigante e fui. Me sentindo a própria executiva paulistana, entrei no taxi e fingi que conhecia tudo de São Paulo. Uma executiva que se preze tem que conhecer bem São Paulo. E para mim que conhecia muito pouco ainda, melhor era fingir que conheço e vai ficar tudo bem!  _ Vamos ali na Rua tal. 
E o motorista que de cara deve ter reconhecido a minha mineirisse foi logo perguntando. 
_ A Sra. quer ir pela Marginal ou pela Gastão Vidigal?
E eu insistindo na minha fantasia de paulista respondi que podia ser pela Marginal mesmo. Achei melhor não arriscar, afinal o nome Marginal é mais conhecido, sabe lá se essa outra rua é um beco sem saída e ele vai me sequestrar, me roubar, me estuprar… 
O motorista, por sua vez, continuou insistindo comigo que a Marginal estava cheia, que a gente ia demorar muito, que quando chove a Marginal vira um inferno… Mal sabia ele que no inferno já estava a minha cabeça prevendo o meu futuro dentro daquele carro. Entrei em pânico! Imaginei o sequestro, a notícia na TV, a minha mãe me reconhecendo no IML, a trabalheira que ia dar para me achar… enfim. E o motorista não parava de falar. Até que eu não aguentei e joguei meu disfarce de Paulista pela janela. 
  _ Moço, escuta aqui, eu não tenho a menor ideia de qual caminho é melhor. Eu não sou daqui, não entendo nada desta cidade e tudo que eu sei é que eu preciso chegar neste endereço até as 09:00. O Sr. acha que é possível? O Sr. pode me levar até lá? Ou eu vou ter que sair de dentro deste carro com ele andando, gritando com a mão na cabeça pedindo socorro?
Ele arregalou bem os olhos, virou o pescoço e procurando um jeito de me acalmar disse:
  _ Misericórdia minha Senhora! Depois dizem que mineiro é tranquilo! Pode ficar sossegada que eu vou deixar a senhora sã e salva no endereço que a senhora pediu. 
 - É bom mesmo, porque lá na minha terra, combinado é combinado! E agora pára de me fazer pergunta difícil e dirige esse carro.
 - Sim senhora! Ainda bem que a minha mulher é de Atibaia! Escapei por pouco…



Leila Rodrigues


Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

Gostaria de agradecer a todos pelo carinho com que me receberam no blog depois de um tempo se postar. Muito obrigada a todos! Pelos comentários, pelas visitas, pelos emails enfim por todo esse apoio e carinho que vocês me deram. 
O Palavras é de vocês! Boa leitura!
Abraços