Olá pessoal,
Visitar os blogs dos
amigos é, para mim, uma viagem cultural. Gosto de ler com calma, de entender o
sentido e de interagir com o autor. E para manter a qualidade das visitas, cada
vez visito menos, mas saibam que quando o faço é com toda atenção e o respeito
que merecem.
Este texto nasceu de um
comentário que eu fiz no blog Navegando no cotidiano da minha amiga Luciana
Santa Rita, em um texto que ela escreveu em parceria com Cecília Romeu, a Cissa
(como carinhosamente a chamamos). Todas duas escrevem muito bem e eu sou
leitora assídua desses dois blogs. Meninas (Cissa e Luciana), parabéns pela
competência e pelos textos maravilhosos que vocês compartilham conosco!
Boa leitura a todos!
A V A T A R
Vivemos a era do "que parece ser". Já não
se pode confiar em quem está do outro lado, seja este lado outro país ou a casa
de frente. Não sabemos quem é a pessoa do outro lado da linha, do outro
lado da web e nem do outro lado da rua. A foto adaptada ao gosto do dono
representa muito mais o que a pessoa gostaria que fosse do que o que ela é de
fato. Se aceita tudo!
A mulher que sempre quis ser médica, mas nunca
passou de uma auxiliar de enfermaria, seja por qual motivo for, tem a chance de
realizar o seu sonho de medicina. O homem que sempre sonhou abandonar a mulher
e filhos, se anuncia solteiro e solitário e os desprovidos de beleza e outros
atributos agradáveis criam seus personagens atrás dos adeptos que nunca
tiveram.
Se até as armas foram criadas para o bem, não vou
agora condenar a evolução em função deste rumo destorcido. O uso equivocado e
inconsequente das coisas é que faz com que tudo mude de sentido. E estamos
vivendo neste momento o uso deliberado da tecnologia. Tudo se transforma com um
click mágico. Cada um tem seu avatar na selva da grande nuvem.
Esconde-se primeiro do outro, usando o subterfúgio
universal de adequação aos padrões preestabelecidos e aceitáveis pela
sociedade. Porém, como o "esconder" e o "aparentar"
geralmente funcionam, o ser humano passa a esconder de si mesmo. Perdido entre
este ser criado para "dar certo" e o ser que veio ao mundo com todos
os seus atributos ele passa um bom tempo de sua vida brigando e escolhendo a
hora de um e de outro agir. Isso cansa, envelhece, adoece e enfarta.
Será que a evolução tecnológica está realizando
nossos sonhos de acabar com tudo que nos incomoda? Ainda que virtualmente,
ainda que temporariamente, não há como negar que os poucos momentos de
perfeição nos dão a ilusória alegria da possibilidade de sermos realmente
aquela pessoa que tanto desejamos ser. O Apolo que viveu escondido em nós
encontrou condições de ser? Que seja tudo uma grande ilusão, o que estamos
vivenciando é uma legião de pessoas que não estão preocupadas com a hora fatal
de tirar as máscaras, de mostrar a realidade. Afinal, o que está do lado de lá
também deve estar mascarado, então não há do que se envergonhar e, por
conseguinte, não há porque não se permitir o doce prazer da
transformação.
Só não sabemos quem está enganando quem nesta
selva! Second life perdeu o lugar diante da variedade de modelos e
possibilidades que cada um pode ter. São novos seres, novos modelos, vidas
inventadas para a ilusão coletiva dos adeptos. Tudo meticulosamente montado.
São horas ou minutos de beleza, de juventude, de perfeição e
virilidade... E muitos anos de terapia até se encontrarem outra vez.
Leila Rodrigues
Imagens: Internet
Publicado no jornal
Agora Divinópolis em 25/09/2012