Alguém pode achar que Montes Claros é logo ali. Provavelmente não pegou um ônibus às 23:00 numa sexta-feira e viajou a noite inteira para chegar até lá. A cada parada eu achava que tinha chegado e me preparava para descer. Engano meu, era mais uma cidadezinha para pegar algum passageiro. Algum coitado que como eu ainda não tinha um veiculo ou capital suficiente para ir de avião.
Coisas do amor! Faria tudo de novo. De ônibus, noite a dentro, no batidão só para vê-lo. O Rafa. O meu Rafa! Ele estrearia no time da cidade, o Montes Claros Futebol Clube no dia seguinte.
A grana estava curta, na faculdade aquele aperto de sempre, no trabalho a mesma pressão pelas metas mas a minha vontade de estar lá falou mais forte. Fiz adiantamento no trabalho, perdi a aula de sexta, arrumei tudo na correria e fui. Se alguém acha que namorar jogador de futebol tem glamour, está enganado. É uma grande aventura! A aventura do encontro.
Eu corria o risco de não chegar nem perto do Rafa; iniciante no time, precisava mostrar disciplina. Se o treinador determinasse concentração total eu estaria perdida. Fiquei indecisa. Falo ou não falo da surpresa para ele? Optei por ir sem nenhum aviso prévio.
No caminho, enquanto o ônibus sacolejava pelas estradas inexplicáveis do norte da nossa querida Minas Gerais, entre um cochilo e outro, eu pensava na força que me movia até ali. Eu, essa quase mãe de família que tem um irmão para criar, essa estudante de arquitetura que ainda tem um curso inteiro para pagar, essa pessoa que acredita que no amor é preciso correr riscos. Pela primeira vez experimentava o que seria amor.
Cheguei. A cidade ainda adormecia. O meu dinheiro mal dava para um café. Da rodoviária até o estádio me perdi várias vezes. Conheci quase todas as praças, as igrejas e as lojas do caminho. No estádio simples, os torcedores esperavam o novo jogador. Eu ouvia os comentários orgulhosa! É do meu Rafa que eles estão falando.
Começa o jogo, Rafa entra em campo. Caminhei devagar até a grade que separava o campo dos torcedores. Encostei-me e desejei-lhe boa sorte. Senti quando ele me viu lá de longe. Meu rosto queimava. Sorri e deixei meu coração bombardear à vontade. Naquele dia ganhei um gol. O primeiro de muitos.
Leila Rodrigues
Inspirado na história de Juliana e Rafael, um casal de jovens que se amam de verdade.
Publicado na Revista Xeque Mate setembro/2016
Foto da Revista Xeque Mate e do acervo da Juliana.
Olá pessoal
Falar de amor não é fácil. Principalmente nos dias de hoje, de amores líquidos e escorregadios. Diante disso, a minha proposta na Revista Xeque Mate foi um grande desafio. Falar de amor, de amores reais. De histórias que acontecem agora, com alguém perto de nós. E para minha grande surpresa, a cada dia descubro mais e mais belíssimas histórias de amor. O antigo conto de fadas cedeu seu lugar para o amor real. O amor que enfrenta fila e anda no asfalto lotado de carros. São os amores de hoje! Novos tempos, novos encantos. E o amor prevalece! Que bom!
Não poderia deixar de agradecer ao Giovani Lima que acreditou junto comigo neste projeto. Valeu Giovani! Tem sido maravilhoso escrever para a Revista Xeque Mate!
Sobre a Juliana, o quê dizer? É uma amiga querida, uma pessoa do bem que eu tenho a honra de ter como amiga. E o Rafa também. Um casal lindo.
Grande abraço e muito obrigada pela visita
Leila Rodrigues