Mesmo que não saísse
nada, todo dia ela ia para a escrivaninha com o propósito de fazer algo útil.
Papéis, livros, fotos e seu computador surrado conviviam bem com aquilo que ela
chamava de "desordem natural". E ela parecia se encaixar
perfeitamente naquela bagunça sem ter que desviar um lápis qualquer do lugar,
ou melhor, fora do lugar.
Que nada! Era apenas
a sua aptidão normal pela bagunça. Não sabia explicar porque, mas se sentia
plenamente confortável no seu quarto em desalinho. Na sua cabeça esse desleixo
era um convite "fique à vontade aqui"! Fora do quarto, o mundo era um
quartel-geral. Tudo com hora marcada, lugares marcados, uniformes bem passados,
cabelos chapados, maquiagem impecável, que chato!
Para contracenar com
a ordem de tudo, usava a desordem do quarto. Eis o equilíbrio! E era neste
quarto tão peculiar que ela procurava "organizar" a sua cabeça.
Naquela madrugada de
outubro, ela ouvia os barulhos da cidade. Idas e vindas de uma gente ligada,
buscas e encontros. Não teve vontade de sair, não quis se juntar aos demais.
Seu quarto era pequeno, mas grande o bastante para caber-se nele. Questão de
identidade.
Jogou paciência no
computador até perder a paciência. Trafegou sem rumo na rede social até
perceber que de social ali não tinha nada. Um monte de pessoas lavando suas
roupas indiretamente em público. Recados torcidos que não lhe faziam sentido
algum. Uma guerra de opiniões sem propósito dividia as pessoas em grupos e
esses grupos em inimigos. Pessoas procuravam desesperadamente um par que
resolvessem seus problemas. Afetivos e definitivos. Definitivamente não
conseguia se encaixar em nenhum desses perfis.
Ela procurava
entender onde estava seu problema, afinal, aquela telinha era o destino de 99%
dos solitários de sábado à noite! Mas, fazer o quê se não lhe cabia?
Abraços virtuais não
matariam a sua sede. Ela queria mais para si do que 20 minutos de falsos
elogios. Na rede todos são perfeitos e
ideais. E ela gostava demais da sua imperfeição para permitir-se a isso. Amar
um avatar não resolveria seus problemas.
Restava mesmo seu
quarto. Seu quarto, seus pertences, seus segredos. Dentre todas as escolhas,
optou por si. Pelo que tinha de mais concreto e verdadeiro à sua volta. Uma
escolha singular e consciente. Abraçada à sua cadela Nina ela se atirou no chão
e foi brincar. Aquela noite as duas
passaram ali mesmo.
Leila Rodrigues
Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 04/11/2014
Caro leitor,
Por força das circunstâncias fiquei impossibilitada de postar. Mas os textos já estão de volta e continuam
semanalmente no Jornal Agora Divinópolis, toda terça-feira e agora também no
Jornal da Cidade – Arcos MG aos sábados. Pelo mesmo motivo não tenho visitado
os blogs dos amigos e confesso que sinto muita falta, afinal, quem escreve se
alimenta da leitura. Mas já já tudo volta ao normal.
Agradeço de coração àqueles que continuaram visitando o “Palavras”
mesmo sem novos posts. Muito obrigada! Vocês mantiveram o blog com o mesmo
número de visitantes!
Que a leitura nos melhore, nos contribua e nos represente!!!
Abraços em todos!
Leila Rodrigues