sexta-feira, 14 de junho de 2019

Até que a vida nos separe



E foram felizes para sempre... Não fosse o fato de que o "para sempre" tinha hora para acabar. Prazo de validade implícito. Acordos feitos na ilusão dos holofotes que se perderam na calada dos dias frios e comuns. Então, para não correr mais o risco de me riscar toda como já fiz, vou acertar algumas arestas comigo, enquanto ainda estou no "feliz agora e por nada" como nos diz Martha Medeiros. Eu sei que daqui a pouco você vai aparecer na minha vida. Por isso mesmo e antes mesmo que você chegue eu preciso acertar algumas coisas comigo. É que já passaram tantos, e por falta de um acordo racional deu tudo errado. Então, para não correr o risco de ser tudo em vão, vou oficializar comigo e posteriormente com você.
Primeiramente vamos trocar o “prometa” pelo “comprometa”. Eu me comprometo e você se compromete, sem promessas, sem cobranças no final.
Se comprometa que “até que a morte nos separe” seja até que a vida separe nossos interesses, nossos objetivos, nossos planos juntos?  E eu me comprometo que “eterno” será enquanto houver brilho nos seus olhos e no meu. Se comprometa que na saúde, na doença, na pobreza e na riqueza sejam apenas situações que permearão nossas vidas e não nossos sentimentos? E eu me comprometo que na riqueza ou na pobreza, na saúde e na doença significará também quando o cartão de crédito estourar, quando um de nós dois for demitido ou quando nosso filho adoecer e precisarmos vender a casa para pagar o tratamento.
Se comprometa que “ser fiel” é ter respeito pela pessoa humana que te acompanha, respeito às suas escolhas, ao seu jeito à sua forma de ver o mundo. E eu me comprometo a retribuí-lo com a mesma fidelidade e respeito. Se comprometa que a cada café da manhã apressado que tomarmos juntos você não vai reparar que a minha pele não será a mesma de ontem? E eu me comprometo que haverá sempre uma surpresa, um mistério, um novo e desafiador encanto. Se comprometa a ser feliz e a jamais parar de lutar por isso. Se comprometa de que a sua felicidade dependerá de você e não de mim. E eu me comprometo a ser a pessoa mais feliz do mundo, por ter escolhido ser eu mesma e por ter você comigo!
E se a morte ou a sorte nos separar, que nós possamos dizer tranquilos que “foi eterno enquanto durou”.

Leila Rodrigues


Para quem vive o climax da paixão e acredita que a eternidade do amor se faz com promessas... Não prometa! Se comprometa!
Grande Abraço

Leila Rodrigues 


sábado, 8 de junho de 2019

De quem viaja muito





Da janela do carro eu vejo a paisagem. Tempo seco. Sofrido. Faz um pouco de frio. O suficiente para eu tirar o casaco do armário. Gostaria de ter nascido em algum lugar frio. Mas o sangue quente que corre em minhas veias combina mais com o calor dos trópicos. Vim nascer aqui no interior de Minas Gerais.
Voltando à viagem eu continuo viajando. Penso na prova de inglês do meu filho, penso no meu irmão, penso nos cachorros se estão se dando bem, penso na massa de biscoito que esqueci na geladeira e vai perder.
É assim a vida de quem viaja. Uma viagem só! A gente pensa no que ficou e pensa no que nos espera. Torço para que eles fiquem bem e invoco os anjos para tomarem conta de todos enquanto eu fui ali.
A mala quase se faz sozinha. O pijama, as meias, o livro que vai me fazer companhia. Do lado de lá o quarto que será a minha casa me espera. Cada dia é um diferente. Sempre sem identidade, à espera de qualquer um que chegar. Quartos de hotel são sempre beges. São sempre frios e silenciosos. Lá não tem cachorro, não tem filho gritando “manhêêê” e não tem meu marido pra me contar sobre a nova série. Lá também não tem minha cozinha, meus apetrechos culinários e muito menos a velha e boa poltrona onde leio meus livros.
Mas eu já aprendi a criar meu habitat em qualquer canto, basta eu chegar. Aproveito a estadia para usufruir da minha própria companhia. A vida ensina que é possível viver com muito pouco.

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: https://amenteemaravilhosa.com.br/homesickness-saudade-de-casa/


Olá pessoal,

de viajar eu posso falar porque realmente viajo muito. Já viajei mais, já fiquei fora por mais tempo. Hoje meu caminho tem sido a Estrada real, entre Divinópolis e Juiz de Fora, além de São Paulo, quem sempre vou em função do trabalho.
Já sofri muito por causa das distâncias. Já chorei por não assistir a apresentação do meu filho, já perdi comemorações... mas um dia descobri que o que importa não é a quantidade de tempo que temos com quem amamos e sim, como usamos este tempo. 
Hoje valorizo este tempo. Não tem preço estar na minha casa e tomar meu café da manhã na minha cozinha. Não te preço estar com as pessoas que me são preciosas. 
E é por eles que eu vou e volto feliz!

Grande abraço

Leila Rodrigues