João tem seis anos, cursa ainda a educação infantil. Naquele dia
era seu aniversário. E João, como toda criança de seis anos quando faz
aniversário, acordou em festa. João é um menino muito comunicativo, todos do
condomínio o conhecem. E curioso também!
Pela manhã ganhou alguns presentes da vizinhança. E presente para o João é coisa sagrada, não importa o valor nem o tamanho. Guardou tudo com cuidado.
Mas ele queria mesmo era a festa. Aproveitou que a casa estava cheia e partiu para a seção pergunta:
- Papai o que é impávido colosso?
- O quê? Impávido colosso? Bem... Impávido colosso é... Pergunta para a sua mãe.
- Mamãe, o que é impávido colosso?
- Aposto que foi seu pai que te mandou até aqui! É a cara dele fazer isso! Isso é hora de me perguntar uma coisa desta menino? Eu aqui atarefadíssima com a sua festa e você vem me perguntar isso! João, porque você não pergunta para a sua madrinha, ela é tão inteligente, faz faculdade. E vai te responder melhor que eu.
- Madrinha, o que é impávido colosso?
- Impávido colosso é aquela frase que a gente canta no hino nacional.
- Isso eu sei madrinha.
- Então... Assim, o que é, o que é mesmo eu não sei. Pergunta para o seu tio Nestor, ele foi professor durante muitos anos. Entende de tudo!
- Quem é mesmo o Tio Nestor?
- Tio Nestor é aquele que se casou com a sua tia Lalá no ano passado. Lembra? Ele foi professor durante muitos anos. Já se aposentou, mas continua inteligente. Pode ir até lá e perguntar para ele. Tenho certeza de que ele sabe a resposta.
- Tio Nestor, o que é impávido colosso!
- Depende! Se o pequeno se refere ao fragmento da letra do hino nacional brasileiro, escrito por Joaquim Ozório Duque Estrada, oficializado em 1922, gramaticalmente falando impávido colosso é uma hipérbole seguida de zeugma usada no texto intencionalmente para fortalecer a ideia de valentia e grandeza do então promissor país. Hoje nem colosso, nem impávido! Nada disso reflete a realidade desta nação incrédula na prosperidade.
A esta altura, Tio Nestor que já tinha tomado umas e outras se inflamou e disparou o discurso. Estarrecido com a resposta, João sai desolado da sala. De ombros baixos caminha até o seu quarto, abre o armário de brinquedos, retira o cavalinho que ganhou do vizinho pela manhã e fala quase chorando:
- Amigo, você ia se chamar Impávido Colosso, porque eu achava esse nome bem legal. Mas a partir de agora seu nome é Totó.
Pela manhã ganhou alguns presentes da vizinhança. E presente para o João é coisa sagrada, não importa o valor nem o tamanho. Guardou tudo com cuidado.
Mas ele queria mesmo era a festa. Aproveitou que a casa estava cheia e partiu para a seção pergunta:
- Papai o que é impávido colosso?
- O quê? Impávido colosso? Bem... Impávido colosso é... Pergunta para a sua mãe.
- Mamãe, o que é impávido colosso?
- Aposto que foi seu pai que te mandou até aqui! É a cara dele fazer isso! Isso é hora de me perguntar uma coisa desta menino? Eu aqui atarefadíssima com a sua festa e você vem me perguntar isso! João, porque você não pergunta para a sua madrinha, ela é tão inteligente, faz faculdade. E vai te responder melhor que eu.
- Madrinha, o que é impávido colosso?
- Impávido colosso é aquela frase que a gente canta no hino nacional.
- Isso eu sei madrinha.
- Então... Assim, o que é, o que é mesmo eu não sei. Pergunta para o seu tio Nestor, ele foi professor durante muitos anos. Entende de tudo!
- Quem é mesmo o Tio Nestor?
- Tio Nestor é aquele que se casou com a sua tia Lalá no ano passado. Lembra? Ele foi professor durante muitos anos. Já se aposentou, mas continua inteligente. Pode ir até lá e perguntar para ele. Tenho certeza de que ele sabe a resposta.
- Tio Nestor, o que é impávido colosso!
- Depende! Se o pequeno se refere ao fragmento da letra do hino nacional brasileiro, escrito por Joaquim Ozório Duque Estrada, oficializado em 1922, gramaticalmente falando impávido colosso é uma hipérbole seguida de zeugma usada no texto intencionalmente para fortalecer a ideia de valentia e grandeza do então promissor país. Hoje nem colosso, nem impávido! Nada disso reflete a realidade desta nação incrédula na prosperidade.
A esta altura, Tio Nestor que já tinha tomado umas e outras se inflamou e disparou o discurso. Estarrecido com a resposta, João sai desolado da sala. De ombros baixos caminha até o seu quarto, abre o armário de brinquedos, retira o cavalinho que ganhou do vizinho pela manhã e fala quase chorando:
- Amigo, você ia se chamar Impávido Colosso, porque eu achava esse nome bem legal. Mas a partir de agora seu nome é Totó.
Leila Rodrigues
Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 13/05/2014
Uma história linda. Beijos com carinho
ResponderExcluirAi Leila... ri com o seu "cinismo cidadão" de um país que tinha tudo para ser um "Impávido Colosso" e de repente se vê transformado em Totó!
ResponderExcluirSensacional, o seu humor ácido! Plenamente de acordo.
Abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSempre lindo te ler, ainda mais, misturando humor... Triste realidade,mas!!! beijos,chica
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ResponderExcluirOlá Leila,
Tive que rir da desolação do João. Também pudera, pois a explanação do Tio Nestor, além de não ter sido nada condizente com o preparo intelectual do João, ainda foi bem desmerecedora do nome que ele pretendia dar ao seu cavalinho-rsrs.
Genial a sua maneira crítica na abordagem do 'impávido colosso'. De fato, tal expressão perde a força que lhe quis emprestar o Hino Nacional Brasileiro diante da fragilidade com que o povo brasileiro se deixa dominar pelos governantes corruptos, que estão acabando com o nosso Brasil. Outro aspecto interessante da abordagem é o desconhecimento do próprio hino, que costuma ser entoado maquinalmente, sem que se procure entendê-lo para poder fazê-lo grande e verdadeiro.
Excelente sua crônica.
Beijo.
ResponderExcluirOi Leila,
Esqueci de dizer que fico feliz que você tenha gostado do texto sobre a 'Delicadeza' e que pretende repassá-lo. Acho importante. Obrigada!
Beijo.
Muito bom!!!! Rimos pela forma como narrou e sentimos frustração com o sentido real apresentado pelo Tio Nestor. Melhor mesmo é dar ao cavalinho um nome apropriado. Bjs.
ResponderExcluirQue grande momento e que bela lição.
ResponderExcluirMas, vamos concordar, que Totó é um belo nome.
Parabéns Leila!
Criança nem sempre é compreendida. mas é mais experta do que imaginamos.Gostei muito do teu texto, belo como todos os teus textos.Bjs Eloah
ResponderExcluirrss, adorei, Leila. Totó sem dúvida ganhou minha simpatia.
ResponderExcluirImpávido colosso... tá bom. Nunca vi um hino tão lindo, chega a arrepiar, mas não casa bem por aqui, não? Há anos que esqueci a letra...
Beijos!
Leila, que texto!
ResponderExcluirO nome - Impávido Colosso - até que era bonito, imponente, forte. Mas de que adianta se o 'cavalinho' tem mesmo cara de Totó? O problema é a decepção do Joãozinho...
Beijão