A chuva deste ano me lembrou a minha infância. Chovia dias seguidos e eu gostava de ficar na janela, assistindo a chuva cair e observando as gotas grudadas no vidro, desfocando a paisagem. Felicidade simples, ingenuidade e chuva em abundância.
Então, seguindo o exemplo da chuva que voltou a cair como antes, sai à procura da minha felicidade simples. Aquela que não se compra. E para minha grata surpresa, ela continuava ali, nos mesmos lugares que eu deixei.
A chuva continua molhando a janela e desfocando a paisagem. Pisar na grama continua confortável para os pés. A água da enxurrada continua convidativa para um barquinho de papel. Tomar uma chuva nas costas, acompanhar os brotos que surgem e perceber a vida curta das flores silvestres. Tudo isso parece tão ridículo diante da quantidade de coisas importantes que temos a fazer. Não há tempo para a insignificância desses pequenos atos. É assim que aprendemos depois que crescemos.
E nos tornamos pessoas insensíveis, incapazes de enxergar as nossas próprias sensibilidades. Lidamos com ela (a sensibilidade) como se esta fosse um problema, um defeito, algo que precisa ser eliminado de dentro de nós. Não se pode chorar, não se pode sofrer, não se pode emocionar. Esses são sintomas de fraqueza e no mundo dos fortes não há lugar tal.
No mundo dos fortes você tem que ler todos os livros, tomar todas as decisões, bater todas as metas, não perder o foco e seguir veementemente o trio planejar, executar, monitorar.
No mundo dos fortes somos todos soldados de chumbo e soldados de chumbo não ouvem a chuva caindo ou sequer observam a janela.
É preciso quebrar primeiro nossos próprios paradigmas e corrermos o risco de sermos nós mesmos. É preciso vencer os padrões e criarmos nossos próprios critérios. É preciso descobrir de novo o que nos conecta com a mãe natureza, com Deus e com as boas energias do universo. É preciso, de vez em quando, trazer à tona a criança que existe em nós e nos alimentarmos dela. É preciso aceitar que dentro de cada um de nós existe ternura, carência, afeto, sentimento e a tão “defamada” sensibilidade.
É preciso não perder a flor que colore o outro lado da paisagem. A flor, os brotos, os pingos da chuva...
O que poucos sabem, é que os fortes de verdade, só vestem suas armaduras, depois de observar os pingos grudados na janela.
Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis
Imagem acervo pessoal
Olá pessoal,
para quem vive no Sudeste do Brasil, estamos em plena temporada da chuva. E este ano ela veio com vontade. aquela chuvinha mansa que fica dias seguidos e que enche os rios, aconteceu. Que seja abençoada esta água, que encha nossos rios e lagos, que fortifique os brotos e nos prepare para as próximas temporadas. Que a chuvinha desses dias nos permita pequenos prazeres como um café quentinho com aqueles que amamos, um filme, uma pipoca…e muitos pingos na janela.
Grane abraço
Leila Rodrigues
Leila,
ResponderExcluirGosto muito de ler suas crônicas!
Você coloca no papel, vivências que são suas, mas sinto minhas, pois muito do que retrata são recordações da minha alma também. Parabéns pela sua sensibilidade e que as palavras continuem brotando do mais íntimo de seu ser!
Perfeito, Leila!Parabéns!!!
ResponderExcluirPerfeito, Leila!Parabéns!!!
ResponderExcluirPenso que se não tivéssemos tido esses momentos infantis que nos alicerçaram, jamais poderíamos monitorar nossas próprias vidas, quando adultos nos tornamos. Na balança do agir precisamos ter esses dois pêndulos: - o ontem e o hoje.
ResponderExcluirAbraço.