Ontem eu estava feliz. Sabe aqueles dias em que estamos simplesmente felizes? Era eu. Meu marido me disse que eu estava radiante. E eu, diante da fala dele, me senti melhor ainda.
Mas ontem eu tinha frizz no cabelo, coisa inaceitável para os padrões atuais. Eu também havia me esquecido de colocar os brincos e a minha unha deixava claro que eu tinha ficado muito tempo na cozinha. Era verdade. Eu fiquei um bom tempo na minha cozinha. Minha mãe veio me visitar e juntas fizemos uma comida de verdade. E comemos juntos, o que foi maravilhoso. Comemos sem pressa, saboreando a simplicidade e a grandeza daquela refeição. Família, mesa e comida, uma celebração natural e divina.
Ah mas naquele eu não fiz dieta! Aquela comida não fazia parte da minha lista de permissões. Verdade de novo! Naquele dia, que foi ontem, eu não tomei o suco detox e também não tomei os dois litros de água prescritos pela nutricionista. Nem comi batata doce. E eu estava feliz! Incorretamente feliz!
Tem dias que a roupa não combina com o sapato, que o cabelo não nos obedece, que a sobrancelha cresce... e tudo é tão pequeno diante da alegria de viver. Nesses dias não conseguimos sentir culpa. Assim são os imperfeitos. Leves com o que tem que ser leve. Neste mesmo dia meu filho vestiu uma combinação estranha de blusa com outra blusa por cima. E o meu outro filho foi mal na prova de redação. E eu, na insustentável leveza dos imperfeitos, não xinguei, não esbravejei, não mandei estudar e nem mandei que trocasse aquela roupa esquisita.
É que eu estava feliz! Incorretamente infeliz.
Hoje fala-se tanto em foco, disciplina e alta performance que nos tornamos todos generais. Generais de nós mesmos e de nossos habitats. Estamos o tempo todo vigiando, cobrando e exigindo. Paramos de viver para fiscalizar nossas próprias vidas. Tudo tem que dar certo, tudo tem que cumprir os padrões. Estamos cada vez mais chatos. À caminho do insuportável.
Hoje voltei à minha disciplina. Minha mãe voltou para a casa dela, meu marido não fez nenhum comentário sobre mim e meu filho não vestiu uma blusa por cima da outra. Até meu cabelo que gosta de manter a rebeldia foi domado por algumas gotas de um óleo milagroso. Tudo voltou ao normal, menos a saudade de ontem que eu guardei silenciosamente comigo. Aceita um suco verde?
Leila Rodrigues
Publicado no Jornal JC Arcos
Imagem: Acervo pessoal
Olá pessoal,
As palavras “coach" e "alta performance” tem tomado conta das redes sociais e da vida das pessoas. Busca-se a alta performance em tudo, na carreira, na vida pessoal, na cama… Eu compreendo que a boa performance faz a diferença em nossas vidas e pode nos levar a patamares melhores. Mas nenhum ser humano vai conseguir ser bom em tudo! É preciso leveza. Principalmente para dar conta que daquilo que nos propomos a fazer bem. Foco, disciplina e determinação são bons, mas o exagero nos transforma em pessoas insuportáveis. E a linha que separa o saudável do insuportável é muito tênue. Imperceptível aos olhos de quem o faz.
Reconheço que este é um tema polêmico. Todos nós precisamos de disciplina e foco; e eu continuo admirando e respeitando quem o faz. O que me incomoda são os extremos, os exageros que dificultam a convivência. Fique à vontade para colocar a sua opinião nos comentários.
Na imagem, minha cachorra Amy. Uma cadela nada correta, teimosa que só e que me faz muito feliz.
Grande abraço
Leila Rodrigues
bota verdade nisso, Leila! Quantas vezes deixamos de ser felizes para bancarmos o sargentão ou general (ao gosto do freguês) para fiscalizarmos, ver o que há de errado no front. Mas estou me policiando, os filhos já saíram de casa, são adultos, pois que dirijam suas vidas! Mas mãe é fogo! Estou soltando meus pitacos, minhas observações, e que maravilha. Temos mais tempo para viver tranquila, deixando a vida acontecer. Essa foi a principal ideia que peguei da tua crônica.
ResponderExcluirBeijinho, querida!
Leila, adorei mais esse texto.Tão bom quando podemos ser felizes sem filtros,não? Simplesmente ser!!!Adorei tua cachorra! bjs, tudo de bomn,chica
ResponderExcluirComo é bom, é maravilhoso quando deixamos em segundo plano as exigências, os protótipos da sociedade e nos tornamos simplesmente "nós"! Isso é saborear a vida! Parabéns, pelo seu momento de felicidade! Repita-o sempre que possível.
ResponderExcluirAbraço.
👏
ResponderExcluirOI LEILA!
ResponderExcluirA EMY É UM AMOR, NÃO PODERIA SAIR SEM DEIXAR UM ELOGIO A ELA, AMO OS CÃES.
NESSES DIAS, EM QUE PODEMOS SER APENAS "NÓS", IRRADIAMOS O QUE DE VERDADE NOS VAI NA ALMA E É TÃO EVIDENTE QUE QUEM NOS AMA O PERCEBE. PARABÉNS AO MARIDÃO QUE LEU TUA ALMA.
ABRÇS
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