quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Para hoje



Oi Vó,

Para mim não faz diferença se você nasceu de novo, se virou um cachorro ou se vive feliz em uma outra dimensão. Eu não pretendo te incomodar. Mas de vez em quando eu gosto de falar com você. Eu também não sei se você me houve, seria muita pretensão minha achar que você está a meu dispor. Mas é fato que eu gosto de trocar algumas poucas palavrinhas com você. 
Quando estou muito feliz,  passo ali na padaria e compro  um picolé, por exemplo. Nesta hora eu sempre me lembro de você e digo: "Vó, tá delicioso! Íamos nos divertir!” Também acontece quando tenho que entrar em uma reunião difícil, eu simplesmente te chamo: "Vó, vamos comigo! Eu preciso enfrentar aqueles leões. E você sempre soube fazer isso!"
Nunca questionei se você me ouviu ou não. E não pretendo classificar esses meus lampejos de diálogos com você em nenhuma categoria. Porém, me sinto bem quando os faço, revigorada de alguma forma que eu não sei explicar.  Acontece também com meu querido tio Roberto. Toda vez que canto me lembro dele e da alegria que ele distribuía ao seu redor. Aí canto mais forte ainda, como forma de agradecer por ter conhecido este homem incrível. 
Então vó, neste dia em que os vivos se dedicam a homenagear seus mortos, algo que eu nunca consegui entender muito bem, eu  não tenho nada para dizer que eu não tenha dito enquanto você viveu conosco. Nem para você, nem para o tio Roberto, nem para nenhuma das muitas pessoas queridas que se foram. O que eu tenho em mim é alegria e contentamento por ter convivido tão de perto com você. A pessoa mais integra e mais amorosa que eu já conheci. E uma saudade que nunca terá fim. 
Mas vai que você esteja me ouvindo, fica o meu breve recado: 
"Oi Vó, seja feliz onde você estiver! Luto para ser um dia igual a você!" 

Leila Rodrigues

Foto: Vinícius Costa

Olá pessoal,

Para a mãe que perdeu um filho, todos os dias são de saudade. Não importa se é finados ou não. Para quem perdeu seu grande amor, finados é só um dia vermelho no calendário porque a dor da saudade acontece na calada da madrugada quando se procura o outro para um abraço. 
Então como eu disse no texto, sempre tive um pouco de dificuldade de entender este dia. Respeito as opções e expressões de cada um. Todos nós trazemos no peito uma saudade, essa dor latente que não tem medicamento que cure. Cada um a seu modo vai tentar carregar essa dor pelos dias afora. Acomodar a saudade no meio da correria dos dias comuns, da vida que segue. Para todos que hoje choram a perda de uma pessoa querida, deixo aqui o meu abraço sincero.




Leila Rodrigues

Um comentário:

  1. Vidas que viveram conosco, jamais perderemos o contato, seja em qual plano estiverem... Familiares, amigos, colegas e até os inimigos, pois nos fizeram melhorar...
    Belo texto, como sempre, realista!
    Abraço.

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