Ele quer um filho, ela quer um cachorro. Ele gosta de carne, ela acabou de se tornar vegana. Ele é piloto e ela tem medo de altura. Ela corre toda manhã, ele corre da atividade física. E ainda assim estão juntos e buscando a felicidade.
Ela quer um ouvinte, ele quer uma amante. Ele quer viajar, ela quer vigiar. Ele quer um trago, ela quer um afago. Ele quer ação, ela quer atenção. Ele é de pouca fala, ela fala, fala e fala... E nenhum dos dois consegue enxergar o que o outro quer.
Eles. Entre eles, por eles e a partir deles. Qual é a receita certa? O que faz com que duas pessoas acertem o passo e sejam felizes juntos? Vejo tantas pessoas que vivem juntas, debaixo do mesmo teto e a milhas de distância um do outro. E também já vi pessoas que se relacionaram durante anos em países diferentes e foram muito felizes. Será o tempo, o dificultador? Ou seria a distância? Provavelmente a distância que se criou entre os dois! Há quem diga que é preciso que se pareçam. Também já ouvi dizer que é nas diferenças que se completam. A receita é de cada um. Ou melhor, de cada dois. A receita certa é aquela que os dois constroem juntos na medida exata de suas vontades. A dose certa de ceder, de agradar e de apoiar é aquela que cada um pode dar sem cobrar em troca, portanto é única. É preciso não ter receita alguma, para que cada um possa ser livre para colocar os seus próprios temperos e assim formarem um bom sabor.
A única premissa é que entre eles se fale a mesma língua. Entre eles e por eles. Há que se ouvirem e encurtarem o abismo que existe entre um falar e um ouvir. Há que se olharem mais. Se olharem até perceberem o que os olhos não veem. Há que se darem as mãos, ainda que caminhem por estradas distintas.
É preciso gostar muito de si. A ponto de entender o gosto do outro. É preciso aceitar a escolha do outro, por mais amarga que esta lhe pareça. Sem preconceitos. Sem julgamentos. Afinal é isso que esperamos em relação às nossas escolhas.
Que ele queira voar e ela queira o chão, não importa. Mas em algum lugar entre o chão e o céu, que eles encontrem um espaço só seus, para serem ali um só. A partir daí, todas as diferenças serão pequenas.
Leila Rodrigues
Imagem da internet: https://www.tumblr.com/search/fotos%20peb
Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos
Olá pessoal,
Cada escolha que fazemos terá o seu preço. No entanto, algumas escolhas refletirão parece sempre em nossas vidas. A profissão, um filho e principalmente a escolha do parceiro ou da parceira. Ainda que não seja eterno, que tudo termine daqui um ano, dez anos ou cinquenta anos; um parceiro, por via de regra, deveria ser um grande amor e vice-versa. Quando escolhemos alguém, queira ou não escolhemos um pacote completo - uma pessoa, sua genética, sua família, seu ecosistema, suas manias, seus sonhos, seus predicados e sua história. Não dá para chegar zerado em uma relação e começar tudo de novo. Somos o resultado da nossa história até a um segundo atrás. E talvez por isso mesmo a convivência seja algo tão complexo. Complexo, vivo, dinâmico e desafiador!
“Entre eles” é fruto da minha observação e das muitas conversas que tenho com pessoas que não se cansam de tentar. De tentar, de experimentar, de acertar e errar… É a vida!
Grande abraço
Leila Rodrigues
Muito bom.Parabéns Leila.Abraços!
ResponderExcluirSensacional!! Talvez de todos os que mais gostei!!
ResponderExcluirLeila, adorei o texto.
ResponderExcluir'Entre eles' existe um universo a se desvendar... Esse é o encanto, não é mesmo?
Obrigada pela excelente leitura!
A gente pensa que numa relação são as igualdades que nos unem. Errado: O que une são as diferenças, são elas que nos atrai na outra pessoa, até porque ninguém é igual a ninguém. Parabéns.
ResponderExcluirPerfeito, Leila, não tem nada a acrescentar, você disse tudo lindamente! Aliás, como sempre. Tua visão é exata.
ResponderExcluirBeijo, querida! Um bom fim de semana.