quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O Adeus do guerreiro





Quando ele desceu a serra naquele Jeep estranho que mais parecia um carro de guerra, ninguém entendeu nada. Será mais um forasteiro que veio provar o vento da serra? Ou quem sabe é mais um que virou à direita para ver onde é que vai dar? Nem uma coisa nem outra, era o moço de longe que veio para ficar.
O que será que faz um executivo bem sucedido de repente deixar o mundo corporativo e ir viver em uma cidadezinha do interior de Minas? Qualquer um poderia imaginar que ele veio para descansar da correria desenfreada da cidade grande! Seria o óbvio! Mas o descanso passou longe da cabeça dele. Ele veio para ficar, para trabalhar, para acordar cedo e fazer. Fazer por ele, fazer por aquelas pessoas, pelos vizinhos e agora amigos.
E então  trocou a gravata pelo chapéu e se tornou alguém do meio. E começou um novo legado; o de tornar aquele pequeno lugar atrativo sem perder as raízes e a tradição do seu povo. Quanto mais difícil cada obstáculo, mais obstinado ele ficava até vencê-lo. Mal sabia ele que a sua decisão mudaria para sempre a vida das pessoas que ali vivem.
Um movimento aqui, um conselho acolá e a cidade tranquila começa a se movimentar. Recebe bem, encanta, trabalha, recebe novas pessoas, trabalha um pouco mais e assim segue fazendo acontecer a sua transformação.
Mas heis que veio a seca e junto com ela o fogo que arde no chão. E ele, como bom guerreiro, não hesitou em sair em defesa da serra. Afinal, desde que chegara sempre foi assim, sempre em defesa daquele lugar. Por que seria diferente agora? Lá foi o guerreiro e mais dois soldados aplacarem o mal.
O tempo dos anjos não é o tempo dos homens. E naquele dia de luta cruel, dois dos três anjos encerraram sua missão nesta terra. Ele ainda precisou ficar. Faltava algo a cumprir. Faltava juntar pessoas que há muito não se viam. Faltava fazer abraçar filhos e mães e acreditarem no amor. Faltava despertar a compaixão em uma cidade inteira. E só depois de tudo isso feito aí sim, chegara a hora de o último guerreiro partir.
Era para ser só mais um, mas ele se espalhou como gotas de chuva no coração daquela gente e se tornou um povo. Era para ser só mais um lugar no meio do caminho, mas ele fez morada e mudou o caminho daquele lugar. Este foi o legado de José Ronaldo Monteiro, um homem que amou Carrancas com todas suas forças. Depois de você Ronaldo, Carrancas nunca mais será a mesma, ela hoje está mais fortalecida e viva, certa de que seu coração pulsa entre as serras.


Leila Rodrigues

Olá pessoal,

Gostaria eu que este texto fosse apenas mais uma viagem desta aprendiz de escritora que vive em mim. Mas não, ele é real. Ronaldo viveu entre nós. Todos que conheceram o Ronaldo saberão que o que eu disse aqui é muito pouco perto do que ele foi. Um misto de tristeza e alegria nos arrebata o coração. Alegria de tê-lo conhecido e tristeza de vê-lo partir.
Sigamos pois, todos nós, com a certeza de que tudo é eterno...

Grande abraço a todos!

Leila Rodrigues

10 comentários:

  1. De perder-se o fôlego essa sua crônica, Leila! Que pessoa! Lindo deve ter sido a convivência com Ronaldo! O mundo tem falta de gente assim...
    Abraço.

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  2. Leilamiga

    Quando li a tua estória do Ronaldo lembrei-me logo do nosso Fernando Pessoa:

    Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
    Deus quis que a terra fosse toda uma,
    Que o mar unisse, já não separasse.
    Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

    E a orla branca foi de ilha em continente,
    Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
    E viu-se a terra inteira, de repente,
    Surgir, redonda, do azul profundo.

    Quem te sagrou criou-te português.
    Do mar e nós em ti nos deu sinal.
    Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
    Senhor, falta cumprir-se Portugal!


    Tu já és uma bela escritora. Desejas, naturalmente, ampliar o teu nome para chegar ao Olimpo. Vai, passo a passo porque vais chegar lá.

    E agora uma questão: já conheces o meu novo livro Crónicas das minhas teclas? Podes compra-lo escrevendo para jmgradi@gmail.com, que é o endereço do Editor.

    Ele está a preparar o envio para o Brasil a pedido da/o interessada/o. Se gostares podes fazer-lhe "propaganda" aqui no teu blogue e assim arranjar mais gente que o queira comprar. Obrigado.


    Qjs

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  3. Leila, sabendo real, tão mais triste fica! Que bom que pudeste conhecer esse guerreiro que descansa em paz! bjs, chica

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  4. Alguns fazem, de fato, a diferença. E se eternizam porque passam a habitar o coração dos demais.
    Leila, desejo-lhe um Natal de bênçãos e de luz, ao lado dos que lhe são queridos. Bjs.

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  5. Gostava de ter escrito o que Antunes Ferreira, caro amigo,.
    Coso Sá passo por aqui muitas vezes é, sempre, levo algo que me faz pensar.
    Gosto muito de todas as mensagens, seja fictícias ou reais, pois revelam uma natural facilidade de chegar até nós.
    Boa semana.
    🎄🎅🎄🎅🎄🎅🎄🎅

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  6. Olá Leila,

    Bela crônica para homenagear esse admirável guerreiro que mudou os caminhos de Carrancas e de seu povo.
    Parabéns pela linda e envolvente escrita.

    Desejo a você e familiares um lindo e abençoado Natal e um 2015 pleno de realizações e sucesso. Paz. Saúde e Felicidade, sempre!

    Felizes Festas.

    Beijo.

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  7. Suas palavras descreveram muito bem o ser humano que era o Zé Ronaldo, sentiremos muito sua falta, mas em cada obra sua, em cada lugar que ele passou e cada pessoa que ele cativou, um pouco de seu sorriso estará lá!

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  8. Olá Leila!
    Muito obrigada por expor em palavras quem foi e quem é JOSÉ RONALDO!UM SER ILUMINADO!E falar sobre sua história aqui em Carrancas. Aliás assim ele fez a sua história e mudou a minha história!Abraços

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  9. Como crônica de ficção, já seria de grande valor literário...Sabendo-se que o protagonista é real, sua história cresce enormemente! Transforma-se assim, numa bela homenagem ao Ronaldo, pelo modelo de vida que deixou à cidade e ao seu povo.
    Um beijo, Leila.

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  10. Leila, que lindo e que triste!
    Lindo o legado, triste a partida... Mas que bom se todos pudessem partir assim, deixando rastros de vida e luz aos que ficam! Ronaldo certamente fez a diferença por onde andou, e fará também por outros estágios de vida...

    Adorei vir e localizar, em alguns meses passados, este texto encantador!

    Beijos

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