A passos largos e precisos ele seguia. Jamais olhava para o chão, poderia evidenciar a sua fraqueza. Olhava em frente, via o horizonte. Na verdade, nada via. Enquanto fazia aquele percurso de sempre, ele nunca enxergava nada. Aquele caminho era sempre o mesmo. A mesma hora, as mesmas pessoas, as mesmas lojas, as mesmas velhas casas e aquele mesmo velho corpo caminhava de volta para casa.
Achou tudo velho. Se achou completamente velho e pesado ao fazer aquele velho percurso. Teve ódio de si mesmo pela sua mesmice. Teve ódio da permissão que ele dava a cada dia para que a mesmice acontecesse.
De súbito, transgredindo a velha regra do caminho, virou a esquina seguinte. Olhou para cima e para os lados, mudou o compasso dos seus próprios passos. Respirou fundo como se quisesse, não só engolir, mas saborear aquele novo ar. Afrouxou a gravata e sorriu. Finalmente sorriu.
Daquela rua nova resolveu entrar em outra e depois em outra e outra. Andava, desesperadamente, a procura de nada. Virava aqui e ali procurando se perder. E quando se deu conta estava mesmo em um lugar completamente novo. Entrou no primeiro bar. Olhou o relógio, anoitecia. Dali a alguns minutos alguém começaria a ligar. Achou uma mesa no canto, desligou o celular e sentou-se. Sorriu de novo. Sorriu criança naquele momento.
Pediu uma cerveja e bebeu vagarosamente o primeiro gole. Sozinho naquela mesa ele observava à sua volta. Pessoas chegando, pessoas passando, casais se beijando e ele ali como um deus despercebido a observar tudo e todos. Um total e completo estranho naquele novo lugar.
Instantaneamente desejou cada mulher que cruzou aquela porta, despia todas nos seus pensamentos e ria sozinho no seu harém platônico. Analisou, filosoficamente, todos os bebuns transeuntes daquele reduto. Invejou a liberdade de alguns que chegavam serenos, tranquilos, sem medo de estarem ali. Concluiu que estes não tinham ninguém à sua espera. Andava cansado dessa espera. Cansado de ser precisamente esperado. Aquela precisão matemática havia extrapolado as portas da confiança.
Decidiu que acabaria com isso tão logo retornasse ao seu velho mundo. Porém agora não. Precisava usufruir cada segundo deste novo tempo, antes que este se tornasse velho também. Naquele novo lugar ele bebeu. Bebeu, comeu e filosofou. Bebeu, recitou e cantou. Bebeu, sorriu, riu, gargalhou, chorou, pagou e cambaleou até reencontrar o velho caminho.
Ajeitou a gravata, alinhou o passo e pegou de volta a velha estrada.
Leila Rodrigues
Que maraviha de texto!
ResponderExcluirAdorei sua escrita, leve, envlvente e desafiadora. Nos instiga a ler mais!
Maravilha, e com já dizia (?): "Ninguem se perde no caminho da volta".
Amei de coração!
E... obriagado pelo carinho incentivador!
Abraços!!
Um belo texto amiga, que consigamos fazer dos nossos caminhos, os mais plenos a vida,,,mesmo que tenhamos que sonhar um pouco,,,beijos de bom final de semana pra ti,.
ResponderExcluirBom dia,Leila!!
ResponderExcluirMuito lindo seu texto!!
As vezes simples mudanças, nos ajudam a sair da mesmice, nos deixando mais relaxados e felizes!
Beijos!!!
Quanta coragem precisamos ter para pegarmos a velha estrada e por ela caminharmos... O retorno nem sempre é agradável... Encontrar-se com nossas raízes!! Belo texto! Reflexivo ao extremo!
ResponderExcluirAbraço, Célia.
Leila,ás vezes é necessário sair da rotina para sentir um pouco uma outra maneira de ver a vida!Excelente e belo seu conto!Bjs,
ResponderExcluirLeila,ás vezes é necessário sair da rotina para sentir um pouco uma outra maneira de ver a vida!Excelente e belo seu conto!Bjs,
ResponderExcluirEle pode sair da mesmice, vium curtiu, imaginou, foi feliz enquanto isso, depois bastou...Voltou à mesmice...mas com novo olhar!Lindo! beijos, tudo de bom,chica
ResponderExcluirTeve ódio de si mesmo pela sua mesmice. Teve ódio da permissão que ele dava a cada dia para que a mesmice acontecesse.
ResponderExcluirLeila, todos um dia vão ter ódio das nossas mesmices, não é? E você conseguiu transpor esse sentimento perfeitamente, mais uma vez.
Adorei!
Mesmo pegando a estrada de volta devemos seguir nesta volta em frente e de cabeça erguida. Olá querida vim te desejar um final de semana doce com muita paz e amor no coração e te oferecer o selo 200 seguidores da Ilha. Beijinhos de luz!
ResponderExcluirCarinhosamente desejo a você
ResponderExcluirum feliz final de semana.
Creia você é muito importante para mim
e lembre sempre.
Deus não é nada do que você
possa imaginar,ele é tudo que
você pode amar sem medo.
Bjs no seu coração,Evanir.
Levando um pouco de você.
E deixando um poco de Mim.
Adorei o texto!
ResponderExcluirMe vi nele completamente...
É engraçado como as vezes voce vive uma situação e não se da conta disso ate ve la em outra pessoa ou em uma escrita como essa...
Você é demais!!!
Leila...meu parabéns!!!
ResponderExcluirEnquando eu lia seu texto, pensava, a Cissa precisa ler isso.
Cissa é uma das minhas seguidoras que escreve maravilhosamente como vc.
Me rendo a seu talento!!
Bj..bom domingo!!
ps. Lendo agora meu ccomentário..
ResponderExcluir"isso" é uma forma que eu digo.."este belo texto".. é por ai...
Oi Leila,
ResponderExcluirsou a amiga da Ma Ferreira, que considero minha Ma(ninha) do coração! Ela convidou-me para vir conhecer teu espaço virtual, muito bom, estou seguindo!
Este texto é intenso e sensível, fala das reflexões e paradas necessárias. Muito bem-escrito, Leila!
Te convido a conhecer meu blog e se guir, se gostar!
Parabéns, abração e ótimo domingo!
Humoremconto
http://anaceciliaromeu.blogspot.com
A beleza de sua escrita é uma honra para passar este bom domingo
ResponderExcluirRelação de ...
Texto do resumo e reflexão.
Olá,Leila!!
ResponderExcluirDeixo um beijo e votos de um bom início de semana!
Lindo texto, faz parar pra pensar nas coisas em que vamos vivendo. Nas atitudes repetidas e na esperança de cada novo começo.
ResponderExcluirMas que texto excelente! Gostei muito! Bj
ResponderExcluirAdorei... Suas palavras são lindas... Me recordei de um texto que amoooo de Carlos Drummond de Andrade:
ResponderExcluirA mudança
O homem voltou à terra natal e achou tudo mudado. Até a igreja mudara de lugar. Os moradores pareciam ter trocado de nacionalidade, falavam língua incompreensível. O clima também era diferente.
A custo, depois de percorrer avenidas estranhas, que se perdiam no horizonte, topou com um cachorro que também vagava, inquieto, em busca de alguma coisa. Era um velhíssimo animal sem trato, que parou à sua frente.
Os dois se reconheceram: o cão Piloto e seu dono. Ao deixar a cidade, o homem abandonara Piloto, dizendo que voltaria breve, e nunca mais voltou. O animal inconformado procurava-o por toda a parte. E conservava uma identidade que talvez só os cães consigam manter na Terra mutante.
Piloto farejou longamente o homem, sem abanar o rabo. O homem não se animou a acariciá-lo. Depois o cão virou as costas e saiu sem destino. O homem pensou em chamá-lo, mas desistiu. Afinal, reconheceu que ele próprio tinha mudado, ou que talvez só ele mudara, e a cidade era a mesma, visto por olhos que tinham esquecido a arte de ver.
Minha amiga fidalga!
ResponderExcluirEsse texto seu nos mostra acima de tudo que o amor sobrevive em qualquer circunstância,tanto na ida como na volta.Essa vontade, que se mistura no meio da dor.
Que faz crescer e ascender a chama de um amor,mesmo sozinho,leva a tal
esse sentimento, que é nobre, e de coração.seja ele bem vivido para todos sem erradiação.
Conclusão;ninguém se perde na volta.
Há!Ia me esquecendo,dá uma passadinha no blog do meu amigo e ver o acróstico que Regininha fez prá ele.Deixa teu comentário lá para ela se sentir feliz.É uma menina que precisa do nosso incentivo para ver se aparece alguém que dê força para ela escrever seu livro.
http://pedrofransilva.blogspot.com