quinta-feira, 2 de junho de 2011

Giliard

Todos os dias ele escova seu maravilhoso cabelo comprido, fio reto, quase nos ombros. Escolhe,  entre todas as camisetas pretas do gaveta, a preta do dia; calça aquele bat-but comprado clandestinamente do rapaz da PM e vai para o trabalho.
Graças ao seu Deus Ozzy Osbourne, ele tinha conseguido o emprego na loja de discos. Sim, na galeria do Ouvidor, aquela última loja de discos de vinil.
Ele tem certeza absoluta que só conseguiu o emprego lá, devido ao seu biotipo, recém saído de uma revista de rock dos anos oitenta e ao seu apuradíssimo conhecimento do assunto Rock'n roll. Aliás, ele e o Erasmo (um ídolo), são as únicas pessoas que ainda falam rock'n roll até hoje.
Conheci Gil quando perambulava atras de um vinil do Rod Stuart para o meu irmão. Gil, prontamente me mostrou tudo que tinha, falou da trajetória do Rod, dos momentos memoráveis da carreira do cantor, enfim, me deu uma aula.
Saí da loja saciada. Certamente eu nunca mais voltaria alí, porque procurar vinil não era uma atividade corriqueira para mim. Mas Gil, que até então eu só conhecia o codinome, me inspirou a voltar.
Voltei, e quando estava na loja, ouço alguém chamá-lo de Giliard. Nao consegui conter e dei uma gargalhada. Você consegue imaginar alguém que é fã do AC/DC, com o nome de Giliard? Nem eu. Mas ele estava ali, na minha frente e eu tinha acabado de cometer essa gafe enorme ao rir do nome do rapaz. Me desculpei de imediato. E ganhei de presente o trocadilho bem humorado do Gil:
 - Minha mãe me deu este nome por amor a um ídolo dela, que não necessariamente tinha que ser o meu. Durante muitos anos carreguei-o comigo como se fosse um peso. Mas nome não faz destino. Nem toda Rosicleide é doméstica, nem todo Roberto é cantor, nem todo Sílvio é Santos. João pode ser  deputado, pagodeiro ou João ninguém. Eu sou Giliard de certidão, Gil pra evitar discussão e roqueiro de coração. Sacô?!

Leila Rodrigues

2 comentários:

  1. Gil, Erasmo e eu, são as únicas pessoas que ainda falam de rock n' roll até hoje... rsrsrs. Adorei, Leila. Esse texto ficou a minha cara.

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  2. Seu texto continua leve, solto e bacana. É autêntico.
    Vim agradecer-lhe.

    Grande abraço.

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