sábado, 6 de julho de 2019

O Dia D



Aparentemente não havia nada errado, embora soubesse que alguma coisa não estava certa. Uma inquietude talvez, um aperto no coração, uma dificuldade de fitar as pessoas. Escondida entre seus afazeres, ela sabia que, em algum momento, ia ter que se encontrar consigo mesma. Adiou este encontro o quanto pôde. Encontrou-se com muitos na tentativa de se encontrar. Mas era com ela própria que a verdadeira discussão tinha que acontecer.
E foi justamente naquele dia, um dia comum como outro qualquer, sem nenhum planejamento ou intenção de que alguma coisa diferente acontecesse, que ela realizou o seu dia D.
Ela havia cuidado dos filhos, da casa, das plantas e de tudo que manda a “convenção das boas senhoras”. Diferentemente dos outros dias, sobrou com algumas migalhas de tempo para cuidar de si. Mas a falta de vaidade a fez mudar de rumo e preferiu ler um pouco. Um livro lhe faria bem.
Escolheu aquele que prometeu ler a tempos e que nunca achou hora para tal. Abriu em uma página qualquer e leu. Leu e releu. Parou, tomou um café e leu de novo. Fechou o livro e saiu com as palavras fervilhando-lhe a cabeça.
Quando deu por si, ela falava sozinha. Não, ela falava consigo mesma. Perguntava, respondia, discutia, insistia e exigia explicações de si mesma. A discussão se estendeu. Filosofou, confabulou, desentendeu e se entendeu de novo consigo mesma. Perdeu ali algum tempo? Não, ganhou ali a vida inteira. Saiu da conversa preparada e disposta a agir. Saiu pra vida com a certeza de que o amanhã pode ser a única oportunidade de fazer melhor, de fazer direito, de ser digna de ser chamada de filha do Universo.
Haveria cansaço como qualquer outra pessoa na sua situação, haveriam problemas como qualquer mortal tem e, com toda certeza, haveriam dias de plantar, de ceifar e de colher. Mas ela estava tão segura dos seus propósitos, das suas condições e das suas competências, que nada, absolutamente nada, conseguiria abalar sua convicção.
Já não era mais a mesma. Não era a mesma de ontem, nem a mesma de 20 anos atrás. Contudo, sabia que sua essência estava preservada, e isso era o bastante para adequar-se sem se perder. O amanhã confiava-lhe alguma surpresa e o ontem garantia-lhe a experiência necessária para viver o hoje com tranquilidade.
Disposta a começar um capítulo novo na sua história, ela foi à luta. Tudo que ela queria agora era viver! Naquela noite ela dormiu em paz!

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: https://asaventurasdeheleu.blogspot.com/2014/12/heleu-e-metamorfose-amorosa.html


Olá pessoal,

Muitas vezes sabemos tudo que precisa ser feito, mas nos falta a coragem para agir, nos falta o “insight” para começar. Este “insight" pode vir do nada, de um livro, de um filme, da palavra de um amigo… de qualquer lugar. Que nunca nos falte bons motivos para agir! Que nunca nos falte coragem para fazer a  transição do pensamento para a ação. E que possamos sempre comemorar a alegria de fazer acontecer! 

Grande abraço

Leila Rodrigues




Um comentário:

  1. Lindo,Leila e é tão bom quando esse insight acontece e nos damos conta! Sempre bom te ler! bjs, chica

    ResponderExcluir

Obrigada pela visita. É muito bom ter você por aqui!
Fique à vontade para deixar o seu recado.
Volte sempre que quiser.
Grande abraço