A vida
seguia normalmente. Trabalho, casa, filhos, marido... Pais com a saúde
debilitada precisando de cuidado e atenção, filhos alçando voos, marido
caminhando para a aposentadoria. Tudo muito comum para quem faz parte do pacote
“aproximadamente 20 anos de casado”.
Mas eis que o inusitado começou a bater devagarinho em sua porta, ou melhor, em
sua cabeça. Ela se viu com vontade de fazer tatuagem, de cortar o cabelo bem
curto, de comprar um jipe, de escalar montanhas, de voar de asa delta e de
conhecer Machu Picchu.
Confusa
com tudo isso, pensou que estava enlouquecendo. Depois questionou se isso só
acontecia com ela. E ainda se perguntou se não seria a sua adolescência que,
depois de anos adormecida, resolvera voltar.
E eu,
como uma das seis melhores amigas que ela tem, resolvi colaborar.
Quando
somos adolescentes, todos os sonhos são poucos para nossas mentes fervilhantes.
Experimentamos querer ser tudo e nada ao mesmo tempo. Qual menina nunca sonhou
ser aeromoça, bailarina e professora? Praticamente todas nós sonhamos. Os
meninos, a maioria deles, em algum momento de suas vidas sonham ser
engenheiros, pilotos ou ter uma banda. Faz parte do fervilhar de ideias.
Só que aí
vem a realidade como um furacão e arremessa todos os nossos sonhos ao chão
cruel e duro de nossas estradas. Realidade, necessidade e contingências passam
por nós como um rolo compressor. É preciso trabalhar, é preciso crescer, é
preciso criar os filhos e é preciso nos recriar a cada tombo. De sustentados
nos tornamos sustento. E para que esse sustento sobreviva melhor engavetar os
sonhos.
E assim
passamos boa parte de nossas vidas ocupados com essa “pseudo-evolução” enquanto a gaveta dos sonhos descansa em paz como
um criado mudo, que de tão mudo, ninguém percebe mais.
Ate que
chega o dia em que percebemos que tudo que tão solidamente construímos não
consegue nos trazer felicidade. É quando sentimos saudade de nós mesmos.
Saudade do tempo em que a felicidade era mais simples e infinitamente mais
intensa. Hora de abrir a gaveta dos sonhos. Eles estão todos lá, inertes à
nossa espera. Sorrindo como uma criança e prontos para nos fazer felizes de
novo.
Não
amiga, não é a sua adolescência que voltou é você que quer de volta a
felicidade que é só sua e que só você pode se dar. Permita-se ser e viver tudo
isso, afinal, daqui só se leva a alma, E deve ser bem melhor que ela vá feliz!
Leila Rodrigues
Publicado no Jornal
Agora Divinópolis em 11/02/2014.
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