domingo, 31 de março de 2019

Trilogia






Aos 15 anos ela queria ser uma mulher famosa. Dessas que atuam na TV ou cinema. Quem sabe uma blogueira com milhares de fãs? Fama, sucesso, holofote e  atenção da mídia era tudo que ela considerava importante para ser feliz. Tentou. Tentou, se esforçou, gastou, investiu, insistiu, pelejou o quanto teve forças. E descobriu a felicidade sendo uma pessoa comum.
Aos 25 anos ela queria ser uma mulher perfeita. Perfeita daquelas de parar o trânsito. Corpão, cabelão, peitão, pernão e todos os superlativos que se pode atribuir à mulher brasileira juntos. Ser amada, desejada e idolatrada por muitos. Tentou. Tentou, se esforçou, investiu, insistiu, pelejou o quanto teve forças. E descobriu a felicidade sendo uma pessoa comum.
Aos 35 anos ela queria ser uma mulher rica. Rica daquelas que tem mansões e fazendas. Rica daquelas que investem na bolsa e compram uma bolsa Prada quando têm vontade. Rica daquelas que conhecem o mundo inteiro. Tentou. Tentou, trabalhou, esforçou, investiu, comprou, vendeu, insistiu, pelejou o quanto teve forças. E descobriu a felicidade sendo uma pessoa comum.
No fundo ela quis com todas as suas forças ser uma mulher bem-sucedida em alguma coisa. Em alguma coisa diferente da sua mãe, da sua vó ou das suas tias. Ela queria fazer a diferença na vida dos outros. Ela só não queria repetir o mesmo caminho comum daquelas mulheres.
Na contramão dos seus sonhos, entre tentativas e derrapadas, ela amou muitas vezes, desistiu e recomeçou outras tantas  vezes também. Se apaixonou, se casou, teve filhos, se separou, sobreviveu, estudou, amou de novo, venceu e se percebeu feliz vivendo casa fase que se apresentou em sua vida. Já não pensava mais na fama, no dinheiro ou na perfeição. Aprendera a ser feliz independente deles.
Nada contra quem é perfeita, quem fica rica ou quem é famosa; o importante nesta vida é não ter que tomar Rivotril pra ser feliz. É encontrar o seu momento de ser apenas uma pessoa, uma mulher como todas as outras.
Afinal, é a única coisa que realmente somos, mulheres. O resto apenas estamos.

Leila Rodrigues

Publicada Revista Xeque Mate
Imagem: https://www.consueloblog.com/video-das-3-geracoes-em-londres-costanza-allegra-e-consuelo/

Escolhi esta imagem porque sou uma admiradora da Constanza e agora também da Consuelo, sua filha. 

Olá pessoal,

Em assim, no ultimo fim de semana de Março, ofereço esse texto em homenagem às mulheres! A todas vocês, a minha admiração e o meu respeito. Eu sei, que em cada uma de vocês, existe uma linda história para contar.
Todos os dias, todos os meses são nossos! 
Grande abraço

Leila Rodrigues


sábado, 23 de março de 2019

Sobre o tempo que flui




Lá vem ela, a semana. Não importa se o seu fim de semana foi de agito, de descanso ou de faxina; ela vai chegar de qualquer jeito. Não importa se você está entusiasmadíssimo com a sua vida ou sem disposição nenhuma para fazer acontecer. Quer queiramos ou não, ela vai acontecer.
Para quem está à espera, cada dia será uma eternidade. Para quem tem uma entrega a fazer, os dias passarão “voando”. Apressados e impacientes que somos, sequer percebemos que o tempo é o mesmo. Os dias não atrasam nem voam, simplesmente acontecem como tem que acontecer.
E assim continuamos com nossas mazelas, nossas manias e nossas esquisitices tão normais. É tudo tão automático, tão corrido que não nos damos conta de que acordamos sempre apressados e tomamos o mesmo café rápido de todos os dias. Cumprimos nossos compromissos, seguimos a cartilha e damos conta do recado. Às vezes com o coração abarrotado de alegria, noutras, com o mesmo coração abarrotado de dor. Mas sempre em frente.
Quem nos vê não sabe nada de nós. Não sabe o que carregamos, quem carregamos, nossas angústias ou aflições. Quem nos vê conhece apenas a foto retocada para a rede social, que mascaradamente, anuncia que está tudo bem. E assim todo mundo acredita, até nós mesmos.
No quebra-cabeças da vida, estamos todos juntos.  Nossas atitudes se encaixam nos dias, que se encaixam na semana, que se encaixam nas vidas uns dos outros. Estamos todos interligados, muito além da tecnologia. Nossas intenções e atitudes caminham como um rio que encontra os rios e caminham juntos até o mar. Quem ainda pensa que caminha sozinho é porque não entendeu a força das relações. Estamos todos juntos e, estando juntos, carregamos sem perceber uns aos outros. Seja no colo ou no coração, ora carregamos alguém, ora somos carregados. A grande lição é entender de que lado estamos e que tudo pode mudar. Não existe lugar marcado, não existe posição fixa para nenhum de nós.
Sigamos pois. Sigamos na certeza de que, em alguém momento, tudo fique realmente bem. Se não for hoje, será amanhã; se não for agora, será daqui a pouco. Uma hora somos agraciados com a fluidez dos fatos e tudo chega no seu devido lugar.
Ocupemos pois nossos lugares e vivamos nossos dias, semanas e  meses. Não existe nada melhor que o tempo para responder nossas perguntas e acalentar nossas expectativas.

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: http://wpos.com.br




Olá pessoal,

Seja no colo ou no coração, ora carregamos alguém, ora somos carregados. Te convido à entender de que lado você está. Afinal, não existe lugar marcado, tudo pode mudar!


Leila Rodrigues

sábado, 16 de março de 2019

De mudança


Antes de trancar a porta olhei  para trás e vi a casa vazia. Assim parecia bem maior. No lugar da mobília apenas o sinal dos móveis na parede. No lugar do barulho, apenas o eco assustador. Dei a volta e fui me despedir do pé de limão. De tudo, ele é o que vai me deixar mais saudade. Foi plantado por mim. Desejei que ele continuasse dando muitos frutos e que o próximo morador gostasse tanto de limão quanto eu. Bati o portão e fui.

O processo de mudança estava só começando e eu já estava exausta. Exausta de ter que juntar os meus cacos, exausta de ter que abrir gavetas que eu achei que não abriria nunca mais, exausta por ter que enfrentar a poeira de tudo que ficou muitos anos guardado. Inclusive a minha. Enquanto o caminhão seguia eu olhava no retrovisor a rua em silêncio. Ela parecia se despedir de mim. De cansada, cochilei em pleno caminhão de mudança. 

E desce coisa, sobe coisa, desmonta daqui, monta dali, descarta aqui, aproveita de lá... É muita transformação para um momento só. O que antes cabia em 3 gavetas agora vai ter que caber em 1. Aquela velha cômoda que ficava escondida no fundo do quarto de bagunça agora encontrou seu canto na sala de estar e sorriu.  E assim as adaptações vão acontecendo e o novo espaço se forma. 

Mais cansada ainda cheguei na janela e pela primeira vez, observei melhor a nova paisagem.  Daqui de cima dava para ver a copa de um flamboyant no jardim da escola. Crianças brincando. Um vizinho de baixo tocando violão e uma manada de cachorros (Maltezes brancos como a neve) na vizinha do primeiro andar. Dei as boas vindas a todos eles, me apresentei à mãe natureza daquele novo lugar, respirei fundo e fui viver.

Lá fora o novo me aguardava radiante de felicidade! Hora de começar de novo, de conhecer o novo, de fazer novas amizades e montar de novo um habitat todo meu. Eu me sentia completamente agradecida pela minha história até aqui e inteiramente vazia para que o novo me preenchesse. 

Hora de arrumar a casa e esperar os novos vizinhos e  os velhos amigos. Os novos e os velhos que se misturarão para formar um novo grupo, de novo! Afinal, é preciso oxigenar! 
É preciso desapegar para se ter onde apegar novamente. 
É preciso aproveitar a mudança para mudarmos também! 

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Div e no JC Arcos

Olá pessoal

Quando não mudamos, vem a vida e nos muda de alguma forma. Então, mudemos com as mudanças!
Grande abraço



Leila Rodrigues

sexta-feira, 1 de março de 2019

Trocadilho



Eduquei meus filhos com a brincadeira da troca. Quando entrávamos em qualquer estabelecimento comercial, eles me perguntavam se podiam comprar uma “coisinha”. Quando podia, era sempre uma coisa só. E assim, enquanto eu fazia minhas compras eles iam trocando as “coisinhas” até chegar a um denominador comum entre o desejo deles e o valor que eu estipulava. Se foi certo ou errado, eu não sei, mas funcionou.
O tempo passou, eles cresceram e eu segui em frente com as trocas da vida. Não sou de trocar meus pertences, mas a vida me ensinou que trocas são necessárias.
Hoje  troco com facilidade algumas coisas.
Troco uma resposta que estava na ponta da língua, por um um minuto do meu silêncio. Troco uma discussão acalorada sobre política, pelo meu direito de não entrar na discussão. Troco uma festa chique, cheia de gente desconhecida, por uma mesa com amigos. Troco o barulho da casa noturna mais badalada da cidade, pelas manhãs de domingo ao som dos passarinhos que visitam a minha parreira. Troco o salto fino de grife da loja mais chique da zona sul, por um tênis confortável que me leva onde eu quero e troco a esteira mais moderna da academia por uma caminhada ao ar livre. Troco a carne pela salada. Troco a TV pelos livros e troco a rede social pela presença de um amigo.
Ao longo da vida troquei muitas vezes. Troquei de partido, troquei de emprego, troquei de casa, troquei de carro e troquei seus por meus dúzia. Troquei a cor dos cabelos, troquei a chave do portão, troquei a foto na parede e troquei dinheiro por atenção. Troquei o campo pela cidade, o certo pelo duvidoso, troquei desaforos, troquei farpas e, de vez em quando, troquei as bolas.
Vi  gente trocar de sexo, vi outros trocarem de lugar. Vi gente ficando com o troco e outros sem ter o que trocar.
Fui trocada por alguns, dei o troco em outros, troquei a noite pelo dia e, por alguns trocados, troquei sossego por confusão.
Troquei meu estilo de vida, troquei minha forma de ver, troquei gato por lebre e troquei de lugar sem querer.
Apesar de tudo, nunca troquei de time, nunca  troquei meu fardo e nem a minha religião.
E como não podia deixar de fora, além das pessoas que amo, tem aquelas coisas que eu não troco por nada desse mundo, minha cachorra, meu travesseiro e meu café coado na hora. Cada um tem seu preço e cada preço o seu valor. Quer trocar?

Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: http://tautonomia.blogspot.com


E trocando, nós vamos nos transformando!

Boa leitura a todos!

Leila Rodrigues