sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Qual sua Senha?


Imagine que, se ao nascermos, nossos pais nos registrassem por números e não por nomes. 45, 23, 27, 91... Convidamos para o casamento de 91 e 37, seus filhos serão todos 93 alguma coisa.
Este número existe e está lá na nossa Certidão de Nascimento,  mas optamos por nos chamarmos carinhosamente pelos nossos nomes. Somos felizes como Maria, Daphne’s e João. O que não adiantou muito porque, para tudo que vamos fazer, temos um código. A famigerada senha.
Já parou para pensar quantas senhas você tem hoje? É tanta senha que já existem “caderninhos de senha” para presentear.  E quantas senhas você tem que pegar para resolver seus problemas? Somos todos escravos das senhas. Senha para tudo que é digital, senha para fazer exame de sangue, senha para comprar remédio, senha para ser atendido, senha para entrar dentro de casa, senha para que te quero!!! É muita senha! É a lógica entrando em cena para organizar as filas e abrir as portas. Senha para acessar, senha para entrar, senha para garantir que seremos atendidos, senha para botar ordem no recinto.
Só as senhas para colocarem as filas em ordem. Afinal, estamos todos na fila. Estamos sempre na fila de alguma coisa. Na fila, à espera, na expectativa da solução. À espera do sinal abrir, à espera do elevador, à espera do resultado de um exame, à espera do sim do cliente, à espera do pagamento, à espera do filho na porta da escola, à espera da decisão de alguém, à espera da bolsa subir, à espera da cura, à espera das próximas férias, à espera.
Viver é enfrentar uma grande fila. Expectativa é nosso nome do meio. Estamos sempre na expectativa de algo, sempre na fila.
E esta expectativa é a responsável por termos  insônia, úlcera, taquicardia, infarto e até a morte.
A espera nos adoece. A fila dos problemas destrói nossa saúde. Principalmente quando dependemos do outro, quando dependemos da burocracia, quando dependemos da boa vontade, quando dependemos da tecnologia ou até mesmo da mão Divina para nos tirar das nossas filas problemáticas. Aí o jeito é esperar. Esperar e cuidar da saúde que temos. Porque esperas, literalmente, nos adoecem. Esperas, matam mais que acidentes. Morremos na fila; morremos com a senha na mão à espera da solução.
É preciso olharmos fora da fila. Tem um monte de coisa para fazer que não precisa de senha, nem de fila. E essas, são as melhores.

Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: http://www.acction.com.br


Olá pessoal,

Com tantas senhas e filas de espera, que tal buscarmos aquilo que nos oferece portas abertas e livre acesso? Há coisas muitas boas para fazer que não precisam de senhas. Aproveitem o final de semana e busque por elas!

Grande abraço

Leila Rodrigues

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Amor x empoderamento



Tento escrever cartas de amor, mas o que fazer com as cartas, em tempos de internet? O romance se foi e vejo que o amor sobrou sozinho à espera daqueles que ainda têm a audácia de vivê-lo. Sim, é audacioso amar.
Amar nunca foi fácil! Acredito que agora ficou ainda mais difícil. Amar, depois da tecnologia, dos livros de autoajuda, do coach e das redes sociais ficou quase impossível.
É preciso atravessar a super auto estima, a meta pessoal, a carreira, todas as redes sociais e muitas selfies para chegar ao amor. Passada todas as etapas do processo de seleção de si próprio, mais todas as ferramentas de auto conhecimento, será que sobra amor para o outro?
A pessoa fica tão foda, tão maravilhosa, tão “empoderada” que não sobra amor para mais ninguém!!!! É uma escola de narcisos!
Todos são super! Não há lugar para os mortais, para os comuns, para os que não gostam de subir ao palco.
Tenho visto as pessoas tão apaixonadas consigo mesmas que não conseguem  achar ninguém à altura delas!
Vivem um relacionamento ilusório com elas mesmas e ao mesmo tempo são carentes de um parceiro. Mas como achar parceiro para quem se coloca acima da humanidade? Como encontrar lugar para o outro numa vida que já vive um relacionamento sério entre “eu comigo e eu mesmo”?
Amar é partilhar a própria vida. Amar é antes de tudo, fazer companhia. Não importa a distância, quando amamos, temos companheiros e companheiras.
O amor não foi feito para os perfeitos. Ele não sobrevive neste meio. O amor fecunda no improvável, no incerto, nas entrelinhas das nossas verdades mais escusas.
Amar é correr riscos, é baixar as máscaras, se desnudar. Amar é deixar o mundo acontecer lá fora e se trancar com o outro num quarto qualquer. Amar é querer acima das condições físicas, financeiras, metereológicas e geográficas. Amar é um grande desafio.
O amor gosta da simplicidade, do descontrole da situação, do riso solto. O amor de verdade dispensa a maquiagem, o carro, o título, o sobrenome. E narcisos não vivem sem eles.
Vai chegar o momento em que a geração da foto perfeita vai ter que fazer uma escolha. E aí, cartas de amor deixarão de ser ridículas; famílias voltarão a fazer parte dos planos dos jovens e viver será mais que receber likes.
Tudo em excesso prejudica, até o empoderamento. Fica a dica!


Leila Rodrigues


Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos
Imagem: http://www.rac.com.br


Olá pessoal,

Em tempos de tantos selfies, likes e curtidas, será que ainda sobra amor para o outro?
Vale a reflexão!

Grande abraço

Leila Rodrigues