domingo, 13 de setembro de 2020

A arte de não saber


Nesta manhã eu acordei diferente. Não senti vontade de ouvir o rádio, nem de tocar no meu celular ou ligar a TV. Nesta manhã eu não quis saber como anda a briga do Donald Thrump  com a China e muito menos a guerra entre esquerda e direita no Brasil. 


Pela primeira vez em 180 dias eu não quis ver as estatísticas. 

O café, aquele mesmo café que eu tomo todos os dias, me pareceu diferente. Desceu devagar, não me queimou a garganta, apenas me aqueceu.

 

O dia prosseguiu e eu prossegui junto com ele. Trabalhei o que precisava ser trabalhado, comi o que tinha pra ser comido e para minha surpresa, não procurei saber como estava o mundo lá fora. Alienado? Eu? 


Eu posso explicar. Há exatamente 6 meses eu assisto todos os noticiários, ouço rádio, lives, palestras e qualquer pessoa que queira me dar uma explicação, uma resposta ou uma previsão sobre o nosso momento chamado pandemia. Eu estava exausto e deixando exaustos todos ao meu redor. Eu pude ver nos olhos da minha mulher que ela não me suportava mais. Eu estava bem perto de enlouquecer. 


Então eu decidi ter uma conversa comigo, coisa que sempre faço quando sinto que não estou bem, mas que, desta vez, de tão envolvido com os temas da atualidade, não me lembrei de fazer. A minha conversa comigo não foi muito longa. Eu perguntei para mim mesmo por que eu carregava tamanha ansiedade? Por que esse desespero para saber tudo, todas as notícias, todas as informações? O quê eu pretendo fazer com estudo isso? 


Esperei respostas que não chegaram. Esperei a cura, esperei a vacina, esperei que as pessoas tivessem consciência, esperei que tudo fosse um sonho coletivo, mas não foi nada disso. 


Cansado de esperar me dei conta de que a vida continua, eu e meu cachorro estamos engordando a cada dia, as plantas continuam crescendo e o meu cabelo precisa ser cortado.  O tempo não parou. A vida não parou. 


Então optei por não saber. Por não ser mais o dono da notícia. Por não brigar para ter razão.  Por não conhecer mais quantos mortos, quantos infectados... Neste momento o que eu sei mesmo é que preciso viver. Viver, trabalhar, me cuidar, colaborar de alguma forma e me encantar com alguma coisa do caminho. Se tudo isso foi “preparado” para nos fazer parar. Que esta parada me permita fazer melhor, fazer direito e fazer bem feito. 


A arte de não saber é estar aberto para aprender. Aqui estou eu, sem saber nada, aprendendo com tudo isso!


Leila Rodrigues


Publicado no Jornal Agora Divinópolis e no JC Arcos

Imagem: https://imagens-de-fundo.blogspot.com/2012/04/desenho-de-homem-solitario.html


Olá pessoal,


eu espero que estejam bem e se cuidando. Não acabou. Estamos em processo, estamos em um aprendizado coletivo de dimensões inimagináveis. Sigamos pois que não é o mais forte nem o mais inteligente que sobrevive, mas o que melhor se adapta.


Grande abraço


Leila Rodrigues

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

135 dia do tempo incomum



Levanta! Faz uma prece, cuida da pele, faz um café, faz uma yoga, tá na hora da reunião. Cadê o cabo? Esqueceu o batom.
Liga pra um, liga para outro, alimenta a planilha, alimenta o cachorro, toma mais um café, faz reunião com o chefe, faz reunião com o cliente, com o fornecedor, com o parceiro, com a equipe e com o futuro cliente se Deus quiser! E a internet travou! Putz...
Cuida das plantas, faz dieta, faz um bolo, faz atividade física na escada, na sala, no corredor, lava a louça, põe a mesa, tira a mesa, tira a farinha branca, aproveita e tira o refrigerante, diminui o sal e aumenta a vontade de se confortar. Cozinha um ovo, sonha com um prato de macarrão suculento e come o ovo acreditando que dessa vez vai ser diferente!
Dança na frente do espelho, põe a mesa de novo, corre que a live vai começar. A live da ginecologista, a live da dermatologista, do psicanalista, da escritora, do padre, do pastor, da digital influencer... e até hoje ela não sabe para que serve aquele aviãozinho!!! Ai ai que a amiga ligou bem na hora pra contar que o casamento tá acabando!!!!
Perdeu a live, mas tá tudo certo. Pior foi a amiga que perdeu o marido. Será? Minha avó dizia que tudo que está “mal pregado”, desprega com a ventania.
Tanta gente querendo a chance de começar do zero, tanta gente sendo forçada a continuar junto! Debaixo do mesmo teto e de fora dos planos um do outro. Felizes são aqueles que não temeram o encontro. E depois de lavar a roupa suja, a boca suja e tudo mais, se viram limpos das mágoas.
Um dia acorda louvando o universo, no noutro passa a noite acordada. Um dia faz tudo certo, conforme o planejado, no noutro desobedece a si mesma como uma criança mimada. Um dia arranja culpados, no outro sente compaixão.
É tanta coisa, tanta conta, tanta estatística que, às vezes, ela tem dúvidas do que realmente conta.
O dia está acabando. Ela pensa que vai enlouquecer mas o céu está tão limpo, a rua está vazia e o silêncio permiti que ela respire fundo e limpe a mente movimentada de mais um dia de confinamento.
Um dia de um tempo que ela nunca jamais imaginou que existiria. E aqui está vivendo a protagonista, a vilã, a mocinha e a polícia. Tudo ao mesmo tempo, neste tempo que ficará pra sempre na nossa história.
As lições estão todas aí. Vence quem consegue compreendê-las... e ela  que achava a sua vida movimentada antes de tudo isso!
 



Leila Rodrigues


Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos


Olá pessoal,

Aqui estamos nós, vivendo este momento ímpar de nossas vidas. Um ano que ficará para sempre gravado em nossa história. As lições estão aí, para quem quiser aprender, para quem estiver disposto a aprender com a vida e para quem tiver leveza de compreender que tudo acontece do jeito como tem que ser.

Eu sigo daqui, vivendo, aprendendo e escrevendo... esse gerúndio constante que me faz tão bem!

Grande abraço



Leila Rodrigues



quinta-feira, 4 de junho de 2020

Efeitos colaterais



Tenho andado diferente. Diferente dos outros? Não. Diferente de mim mesma. Diferente da pessoa que eu era ontem, que eu era ano passado. 
Tenho segredos. Eu agora tenho segredos guardados comigo. Não são de ninguém, senão meus. Eu os criei, eu os plantei aqui na minha cabeça. E todos os  dias os cultivo com meus sentimentos.
As vezes são segredos bons, sonhados ao longo do dia, a céu aberto, enquanto  caminho pela rua e aproveito que ninguém pode ouvir meus pensamentos. 
Às vezes são segredos ruins, verdades difíceis de digerir. Verdades que precisam de um ombro a mais para serem suportadas.
No fundo são só segredos, só meus. E eu os revelo apenas se o meu coração quiser. 
Não, eu não sou um poço de virtudes, eu não acordo todos os dias achando a vida linda. Dentro de mim tem luz e sombra. Disposição e cansaço. Coragem e medo. Vontade de ir e vontade de ficar. 
Eu adoraria acordar todas as manhãs com o coração transbordando alegria e compaixão. Talvez essa seja a minha meta pessoal. Mas ainda tenho minhas manhãs de desânimo de vez em quando. Não é sempre, mas tenho.
Em tempos de pandemia, em tempos de incertezas, tenho lutado comigo mesma para ser mais forte que o contexto. Nunca precisei tanto das minhas forças mentais como agora. Na contrapartida da nossa inércia física, é preciso trabalhar a mente. Temos ouvido de tudo, de tudo mesmo. Muita gente falando ao mesmo tempo. Falando sem conhecimento de causa, falando sem saber o que fala. Falando o que lhe convém. A pandemia tem missões nobres para cada um de nós. Porém, definitivamente, em toda a minha vida, nunca precisei ser tão forte quanto agora. É preciso nos ancorarmos na fé e nos nossos valores para vencermos as agruras do momento. É preciso termos altas e boas conversas com nossos próprios valores para não nos deixarmos levar pela correnteza política que se apropria do contexto para conseguir adeptos. É preciso sermos maduros de fato, conscientes de que nada será como antes, mas que tudo pode ser reconstruído de um jeito melhor. 
Estamos todos experimentando o efeito colateral da incerteza. Alguns vão perder os cabelos, outros vão perder o sono, muitos vão perder o emprego, a vida e a Só espero que experimentemos também, as grandes e ricas lições que este momento tem, para cada um de nós!

Leila Rodrigues

Publicado no JC Arcos
Imagem: https://www.abrale.org.br/revista-online/efeito-colateral-quem-sofre-avisa/


Olá pessoal,

Não há como não estar tocado pelo contexto atual. Todos nós, independente da idade, da condição física ou onde vive, estamos, de alguma forma, tocados pela pandemia. 
E por mais que estejamos exaustos de notícias e de informações, é preciso refletir sobre a forma como estamos recebendo esta mudança, que vai muito além de ficarmos em casa. Estamos diante e grandes mudanças. Nada será como antes. Na verdade, nunca foi. O que muda é que, desta vez, as mudanças serão relevantes, surpreendentes e com certeza, afetarão a todos nós. 
Fiquemos bem, de coração abertos e flexíveis para receber o novo que vem por aí.

Grande abraço



Leila Rodrigues

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Meu primeiro filho livro


Minha primeira postagem aqui no blog, foi no dia 12 de fevereiro de 2011. Eu não sabia o que era um blog, até uma semana antes desta data. Devido a um problema pessoal, fui para no psicólogo que me mandou fazer algo que eu gostasse muito, um crochê. Como eu não nasci com habilidades manuais, resolvi fazer algo que eu sempre gostei mas que estava adormecido em mim, escrever.
Meus primeiros textos eram muito tristes, porque eu era tristeza só. Aos poucos, fui melhorando e, consequentemente, meus textos também. Logo em seguida veio o Jornal Agora Divinópolis, uma oportunidade ímpar de expor o meu trabalho, o qual estou até hoje. Depois vieram a Revista Xeque Mate e Jornal da Cidade em Arcos MG.
Não sou blogueira, nunca fui. Mantenho o blog para que as pessoas que não podem acompanhar os veículos, tenham acesso às minhas crônicas. Porém, no pouco tempo que interagi com os escritores que mantém seus trabalhos em blogs, conheci pessoas incríveis e escritores maravilhosos. Com alguns, mantenho contato até hoje.
Nos últimos meses me ausentei por completo do blog, em função do livro.
Fazer um livro se tornou um sonho. Normal, afinal, este é praticamente o sonho de todo escritor. Porém, ao escolher o quê escrever, o quê tangibilizar? Optei por historiar a fase mais importante e intensa da minha vida, o climatérico e menopausa. Um período que durou aproximadamente 8 anos e que me fez querer adotar a menopausa como causa pessoal.
Hormônios me ouçam!, não é um livro de auto ajuda, nem tampouco um guia para sobreviver à menopausa. Hormônios me ouçam! é a minha história. A minha história contada através de crônicas curtas, divertidas e sensíveis, que é o meu DNA.
Com o coração cheio de alegria divido com vocês este momento. E espero, de verdade, que o leitor se divirta e se identifique ao ler o meu livro. Embora seja a história de uma mulher (eu), é um livro para homens e mulheres, para pessoas que ainda guardam algum resquício de sensibilidade e humor dentro de si.


“Envelhecer não é uma opção, ser feliz sim!”




Leila Rodrigues





Divinópolis, 18 de maio de 2020.