Cravo e Rosa
não conseguiam se entender. E para piorar, mal conseguiam começar uma
discussão. Nunca chegavam a um denominador comum. Muito discretamente começaram
a evitar um ao outro. A coisa era tão sutil que parecia natural. Quando um
florescia, o outro se recolhia.
E assim se
passaram muitos dias. Os dois sabiam que aquele fuso horário era uma maneira de
adiar a conversa que tanto precisavam, mas como as últimas conversas não
terminaram em consenso, a fuga era automaticamente a melhor opção.
Rosa sentia
falta dele, mas escondia a saudade entre as pétalas e floria para todos que
passassem pelo jardim, afinal esse era o seu objetivo na vida. Tinha momentos
difíceis, vontade de chorar, mas engolia o choro e exalava seu perfume, afinal,
uma espécie feminina precisa se valorizar, precisa ocupar o seu lugar no jardim
independentemente dos seus relacionamentos.
Houve uma
oportunidade e Rosa foi convidada a participar de uma exposição de flores. Suas
pétalas coloriram de alegria! Conhecer uma infinidade de espécies, cores e
perfumes variados, que experiência incrível! Partiu Rosa feliz para a grande
festa!
Cravo também
sentia falta dela. Do seu frescor, do seu perfume e da sua força. Mas como
macho que sempre fora, não poderia se curvar a uma fêmea. Não suportava vê-la
tão linda, tão exuberante e perfumada agora no meio de uma multidão de outras
espécies. Sobrara sozinho no jardim. Mas Margarida estava lá, sorridente no
meio das amigas, à procura de alguém que pudesse se encantar pela sua singeleza
e frescor. Margarida era delicada, companheira e frágil. Certamente saberia
valorizar a sua lealdade e a sua proteção.
Quando Rosa
voltou, voltou com ela a vontade de rever Cravo. A viagem havia lhe feito muito
bem. Conhecer novas espécies foi ótimo. Porém, só serviu para reforçar o seu
amor por Cravo, aquele jovem imponente que ela conhecera um dia, na curva do
jardim onde morava.
Mas já era
tarde demais. Cravo já havia se entendido com Margarida e pensavam até nos
descendentes. Quanta dor! Quantas lágrimas! Rosa deixou-se abater pela tristeza
e permitiu que suas pétalas se fossem uma a uma, até que suas sementes o vento
e os pássaros se encarregassem de transportar.
Voltaria a
viver em outros jardins, em outras terras. Mas ainda assim, para nunca mais ter
que suportar a dor de ver Cravo, Margarida e um canteiro de cravinas juntas;
ela se revestiu de coragem e permitiu-se renovar completamente.
E para encanto
dos boêmios, dos insones, dos vagalumes e urutaus, nascia a Dama da noite.
Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 19/03/2013
Imagens do blog: luciahiguchi.blogspot.com.br
BOA NOITE MINHA AMIGA FIDALGA !!!!!!
ResponderExcluirLENDO SUA CRÔNICA ME VEIO A LEMBRANÇA DE UM POEMA QUE FIZ PARA UM AMIGO ALGUM TEMPO ATRÁS ,DEIXO AQUI PRA VC ...
BJS E TENHA UMA LINDA SEMANA ...
DOR DO CRAVO !
Pensei no cravo
que logo adoeceu
suas pétalas e sépalas
com pecados meus
Pensei no homem
que um dia
me deu um cravo branco
dos pecados meus
Pensei no pecado
que o cravo esqueceu
deixando-me o homem
sem pecados meus
(Severa Cabral)escritora
Que coisa mais linda te ler. Sempre bem inspirada, um encanto. Lindo, adorei passar aqui! beijos,ótima semana,chica
ResponderExcluirBoa noite, Leila. Lindíssima a sua crônica, inspirada e com metáforas perfeitas.
ResponderExcluirAmo o seu jeito de escrever, o seu talento.
Quando não valorizamos a pessoa amada, ou vivemos em conflitos, que geralmente começam por bobagem e são bobagens, perdemos os mais belos aromas do amor e ficamos depois a sofrer, a nos entregar, até que um dia precisamos nos reerguer, mas sem esquecer do acontecido.
Parabéns!
Tenha uma semana de paz!
Beijos na alma e fique com Deus.
Olá Leila, e que tudo esteja bem contigo!
ResponderExcluirSentimentos quando não são declarados na ocasião, são perdidos por substituição, triste, mas, sempre acontece!
Encantador este teu escrito, com palavras tão bem elaboradas em belas metáforas, é, deveras agradável de ler e reler, parabéns pela escrito, pelo espaço e por compartilhar teus belos pensamentos!
Agradeço pela amizade e pelas visitas e comentários, assim deixo cá meu desejo para que teu viver seja sempre de felicidade intensa, um grande abraço e, até mais!
Gostei muito.
ResponderExcluirMe fez refletir como nossos relacionamentos são frágeis e como é fácil perder quem se ama....
Parabéns.
Nossa! Que lindo, Leila!
ResponderExcluirE quantas vezes na vida não temos que nos recompor, heim? Procurarmos em outro cenário, outro jardim para seguirmos, simplesmente continuarmos nossa viagem? E que seja, pois, com muito amor, se não for com o cravo, que seja com o jasmim, ou com qualquer outro que nos respeite, e nos sintamos ser flor de nós mesmas.
Parabéns!
Obrigada por compartilhar no faceb. o meu texto.
Beijos e ótimos dias!
A construção perfeita e linda, que nos remete a toda historia destas duas espécies, com um final fantástico amiga.
ResponderExcluirAplausos pela criatividade.
Meu terno abraço.
Adorei fazer uma viagem pelo blog.